“Você só tem 3 meses de vida. O cardiologista me disse na lata: 75% do seu coração está morto. Me lembro que naquele dia, eu estava vindo do consultório e olhando a cidade pelo vidro do carro e sentindo todas as coisas que ia perder: ‘agora eu era um doente terminal’ com poucos dias de vida pela frente e pouquíssimas chances de sobreviver. Os planos, simplesmente vão embora: o crescimento dos filhos, suas vitórias, suas derrotas, suas lutas. E eu fui observando a cidade que aos poucos ia desaparecendo na minha frente. O que que eu faço em 3 meses? Quanta vida eu vou perder, que eu não vou ver…”.
Estas palavras são do urbanista Lincoln Paiva, de 54 anos que no dia 21 de abril de 2021 recebeu o diagnóstico de insuficiência cardíaca. O diagnóstico veio depois de duas paradas cardíacas e um AVC. Lincoln fazia esporte, não fumava, bebia pouco, mas o coração dele falhou. A insuficiência cardíaca é uma das doenças que mais matam em todo o mundo.
A única saída para Lincoln era um transplante. Em junho, ele foi internado no Instituto do Coração, em São Paulo, o Incor. Mas logo veio outra notícia ruim. O urbanista sofria de hipertensão arterial pulmonar, uma doença rara que faz com que o fluxo de sangue que vem dos pulmões seja mais alto do que o normal. Foi aí que entrou em cena o novo estudo do Instituto do Coração. Quem elaborou o estudo foi o cirurgião Fábio Gaiotto, que se inspirou num procedimento dos anos 70. Mas ele pensou em algo novo, num procedimento com duas etapas.
“O paciente fica com os dois corações por um tempo. A pressão no território pulmonar diminui. Eu opero novamente o paciente. Essa é a cirurgia difícil. Essa que é a inovação. Retira o coração doente e pega o coração novo e reutiliza na sua devida posição”, explica Gaiotto, cirurgião cardiovascular.
Gaiotto desenvolveu a técnica por quatro anos. Em 2020, o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa aprovou a realização do novo procedimento. O cirurgião estava à procura de voluntários, quando soube do Lincoln, que estava na UTI do Incor em cuidados paliativos, sem caminhar. Uma nova chance surgiu para o urbanista, as duas cirurgias foram um sucesso, Lincoln está se recuperando em casa ao lado de sua família. Mais 5 pessoas já estão na lista para fazer o mesmo procedimento.
“Eu podia ver a cidade pela janela do meu quarto, mas não podia escutar o som dos pássaros, da chuva, do vento… Quando eu tive alta e voltei para casa, a cidade voltou a ter som. Às vezes, eu sorria sozinho comigo mesmo. Eu estava vivo”, concluiu Lincoln.
Da redação de Portal Raízes. Editado a partir da reportagem exibida no Fantástico do dia 21/11/2021 e da Revista Veja de 05/11/2021. As informações contidas neste artigo são apenas para fins reflexivos. Se você gostou, curta, compartilhe com os amigos, e não se esqueça de comentar. Siga o Portal Raízes também no Facebook, Youtube e Instagram.
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