O avanço da tecnologia trouxe benefícios significativos para todas as idades, mas também desafios, especialmente para a população idosa. Estudos recentes indicam que o uso excessivo de telas entre idosos está crescendo, o que pode levar a um aumento de problemas cognitivos, isolamento social e dependência digital. Além disso, idosos são alvos fáceis de desinformação e manipulações através de conteúdos gerados por inteligência artificial (IA).
O estudo: “Envelhecer na era das notícias falsas” – Publicado pelo site National Library Of Medicine alerta que a capacidade de discernimento entre fake news e fatos reais pode ser reduzida com o envelhecimento, tornando os idosos vulneráveis às estratégias de agentes de má-fé.
A Família e o Idoso: Desafios da Contemporaneidade
Deusivania Vieira Silva Falcão, psicóloga e pesquisadora brasileira, especializada em Psicogerontologia, professora na Universidade de São Paulo (USP), se dedica a estudar os impactos do envelhecimento na sociedade contemporânea. Sua contribuição acadêmica destaca-se pelo conceito de “familismo”, que enfatiza a relevância dos laços familiares para a saúde mental dos idosos. Falcão também recebeu reconhecimento acadêmico por seu trabalho na promoção de políticas de inclusão e suporte ao envelhecimento saudável.
Em seu livro A Família e o Idoso: Desafios da Contemporaneidade, Deusivania Vieira Silva Falcão explora as transformações familiares e sociais que afetam a população idosa. Ela aponta como a desestruturação dos laços intergeracionais e o individualismo moderno impactam a qualidade de vida dos idosos, que muitas vezes são deixados em segundo plano. O livro também destaca a necessidade de apoio emocional e incentivo à autonomia dos mais velhos, além de abordar o papel da tecnologia na inclusão digital dos idosos. Contudo, alerta sobre os riscos do uso excessivo das telas, o que pode acentuar a solidão e a exposição a informações falsas.
Como ajudar os idosos a usarem a tecnologia de forma consciente e segura
O uso de tecnologia entre os idosos pode ser benéfico, mas, sem orientação adequada, pode resultar em isolamento social, dependência digital e disseminação de desinformação. Com base nos ensinamentos do livro, aqui estão algumas estratégias para garantir que os idosos utilizem a tecnologia de maneira equilibrada e segura:
1 – Evitar a Propagação de Fake News e Vídeos de IA
Os idosos podem ser mais vulneráveis à desinformação por diversos fatores cognitivos e emocionais, como baixa familiaridade com as tecnologias digitais e viés de confirmação, que os leva a acreditar em conteúdos alinhados com suas crenças prévias. Além disso, a solidão pode fazer com que interajam mais com conteúdos sensacionalistas, que despertam emoções intensas.
Exemplos Práticos:
- Educação Midiática: Criar grupos de discussão familiares ou comunitários para ensinar sobre fontes confiáveis. Exemplo: um neto pode sentar-se com os avós e mostrar sites de checagem como Aos Fatos e Lupa.
- Demonstração Visual: Comparar um vídeo real e um deepfake para ilustrar como a manipulação digital pode enganar.
- Checklist para Compartilhamento: Incentivar a regra dos três passos antes de compartilhar: 1) Verifique a fonte, 2) Leia comentários críticos, 3) Pergunte a alguém de confiança.
2 – Uso Equilibrado das Telas
O uso excessivo de telas pode reforçar padrões de isolamento, diminuir o contato social e contribuir para quadros de ansiedade e depressão. O conceito de “recompensa imediata” também pode estar presente, pois redes sociais e vídeos curtos ativam o sistema de dopamina, tornando-os viciantes.
Exemplos Práticos:
- Rotina Digital Consciente: Estabelecer horários fixos para uso do celular e da TV. Por exemplo, definir que o WhatsApp só será usado para lazer entre 14h e 15h.
- Desafios Familiares: Propor um “dia sem telas” para incentivar conversas presenciais, como um almoço em família sem celulares.
- Aplicativos de Monitoramento: Ajudar o idoso a instalar apps como Digital Wellbeing (Android) e Tempo de Uso (iOS), que controlam o tempo de tela.
3 – Jogos como Passatempo sem Prejuízo às Relações Afetivas
Os jogos são importantes para a manutenção cognitiva dos idosos, mas o excesso pode reduzir as interações sociais e reforçar padrões compulsivos. A escolha do tipo de jogo também impacta na experiência emocional – jogos solitários podem ser menos benéficos que jogos em grupo.
Exemplos Práticos:
- Jogos Cognitivos Presenciais: Incentivar atividades como Scrabble, xadrez e cartas em encontros familiares.
- Plataformas Digitais com Interação: Usar apps que permitem jogar com amigos, como Palavras Cruzadas Online e Duolingo, onde o idoso pode desafiar conhecidos.
- Limitação de Tempo: Configurar temporizadores no celular para lembrar pausas nos jogos digitais.
4 – Promoção da Socialização e Atividades Recreativas
A interação social é essencial para a saúde mental dos idosos, reduzindo riscos de depressão e declínio cognitivo. A participação em atividades grupais reforça o senso de pertencimento e propósito, estimulando a produção de serotonina e ocitocina.
Exemplos Práticos:
- Clubes de Convivência: Incentivar a inscrição em centros de idosos que promovem atividades sociais, como grupos de leitura ou coral.
- Arte Terapia: Estimular a participação em oficinas de pintura, teatro ou dança, como forma de expressão emocional e bem-estar.
- Atividades Físicas Leves: Criar uma rotina com caminhadas matinais ou aulas de yoga, aproveitando o benefício da socialização junto com o exercício.
A tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para o bem-estar da pessoa idosa, mas é necessário um uso consciente e seguro. Como Deusivania Vieira Silva Falcão destaca em seu livro: “O envelhecimento saudável não depende apenas da medicina, mas também do afeto, do respeito e das relações que cultivamos ao longo da vida”. O suporte familiar e a inclusão social são fundamentais para garantir que os idosos não apenas vivam mais, mas vivam com qualidade, dignidade e segurança.
FONTES:
- Impactos do uso excessivo de telas na saúde mental de idosos: Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) constatou que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos está associado a uma piora na saúde mental de usuários de diferentes faixas etárias, incluindo idosos.
- Análise do livro: “A Família e o Idoso: Desafios da Contemporaneidade” de Deusivania Vieira da Silva Falcão. O livro aborda as transformações nas estruturas familiares diante do aumento da longevidade e a necessidade de adaptação a novas formas de convivência entre gerações.
- Efeitos do uso excessivo de telas na saúde e nos relacionamentos de idosos: Relatórios indicam que o vício em telas já afeta a saúde e os relacionamentos de idosos, destacando a necessidade de medidas para evitar esses impactos negativos. TERRA
- Perigos associados ao uso excessivo de dispositivos digitais por idosos: Estudos apontam que o uso prolongado de telas pode levar a problemas de visão, como síndrome do olho seco e fadiga ocular, além de contribuir para o desenvolvimento ou agravamento de miopia, segundo HOSPITAL DE CRUZÍLIA
- Benefícios e riscos do uso de tecnologia por idosos: Especialistas destacam que, embora a tecnologia possa ser benéfica para idosos ao estimular a cognição, seu uso excessivo pode levar ao isolamento social e afetar a saúde mental, de acordo com INSTITUTO DA LONGEVIDADE
- Estudo Envelhecer na era das notícias falsas – Publicado pelo site National Library Of Medicine