Zélia Gattai, (1916-2008), escritora, fotógrafa, memorialista brasileira e também esposa do escritor Jorge Amado, em uma entrevista, quando interrogada acerca do seu segredo por ter vivido um casamento duradouro, respondeu: “o segredo para o casamento durar é simples. É nunca brigar por causa da toalha molhada em cima cama”. É de singela sabedoria o conselho de Zélia. Ela nos ensina que o valor das coisas não se mede por meio dos grandes acontecimentos, mas nos detalhes. Não nos aborrecermos com coisas sem importância alguma.
Pedimos a dez casais que mantêm um relacionamento duradouro e feliz para nos indicar quatro coisas responsáveis para que eles permanecessem juntos e felizes por tanto tempo e não nos surpreendemos quando as respostas foram unanimes. (Grifamos “felizes”, pois há muitos que têm um casamento duradouro, mas isso não significa que seja feliz).
É preciso ressalvar que estas dicas somente funcionam com relacionamentos bilaterais. Ou seja, quando ambos compreendem que o sucesso ou o fracasso de um relacionamento é dos dois e sendo assim, os dois sempre estarão dispostos a fazerem concessões e se dedicarem para que dê certo.
É um clichê dizer que o respeito é a coisa mais importante em qualquer tipo de relacionamento. Não é possível admirarmos uma pessoa sem antes respeitá-la. Logo não é possível amá-la e tampouco se dedicar às demais coisas da lista. Portanto, sem a decisão mútua do casal em manter 100% do respeito um pelo outro, não há razão para ler o restante das dicas. Pois sem o respeito nenhuma delas funcionará.
Mas há casais que não se respeitam. Fazem piadinhas sobre o outro em público sabendo de antemão que aquilo o deixará magoado. Há casais que se “digladiam” na frente dos outros. Quem respeita o outro não entra em guerra em público porque quem respeita o outro nunca entra em guerra. Há casais que se xingam, que mostram o dedo em riste e que falam mal um do outro para os parentes, amigos e até para estranhos. Isso é desrespeitoso demais.
Como é possível, por anos e anos, sentir desejo sexual por uma pessoa que lhe mostra o dedo e o manda ‘se foder’? Como é possível sentir vontade de abraçar e beijar uma pessoa que está sempre, sempre falando mal de você para os outros e consequentemente fazendo os outros sentirem raiva de você?
Nunca fale mal da pessoa que você se relaciona a ninguém. Porque amanhã vocês farão as pazes e a outra pessoa vai continuar detestando-a. E quando você a defender para justificar o fato de tê-la perdoado, será em vão. Você ficará como aquela pessoa que gosta de sofrer.
Respeitar o outro é compreendê-lo acima de tudo como um ser humano sujeito à falhas, ódios, mentiras deliberadas, picuinhas passionais, imaturidades e intolerância. Compreenda-o assim. Busque em cada momento em que essas atitudes se manifestarem a sabedoria do silêncio e da boa vontade em compreendê-lo.
A maioria de nós se espanta com esse 100% antes da palavra “confiança”. Mas quem disse que para ter um relacionamento longo e feliz seria fácil? Quando você decide (e a palavra certa é mesmo “decide”) confiar 100% em alguém, dá a ela a responsabilidade de ser 100% confiável.
Ora, reflita comigo sobre estas duas situações:
O cônjuge parte numa longa viagem sozinho e ao seu lado, no voo, está uma criatura atraente e disposta a seduzi-lo. Suponhamos que ele seja o indivíduo que não tem 100% de confiança de sua parceira e assim pensará: “fazendo ou não, ela vai dizer que eu fiz. Então, o que me impede de fazer?”.
Mas se ele é o indivíduo que adquiriu 100% da responsabilidade de ser confiável, pois recebe 100% de confiança, pensará: “Eu não faria isso com alguém que confia 100% em mim”.
Quando um casal decide confiar 100% no que outro diz, uma mágica extraordinária acontece no relacionamento. O ciúme, a mentira, os segredos, as desculpas esfarrapadas… desaparecem. No começo é bem difícil. Ligar para pessoa no meio da tarde e ela não atender ou estar com o celular desligado… Mil coisas passam por sua cabeça. Mas se você a respeita saberá que ela teve um motivo relevante para agir assim e quando ela chegar vai lhe dizer sem precisar ser questionado para isso.
Acredite, 100% de confiança funciona. Você se liberta. Você tem paz. Não vai questionar onde e com quem esteve. Não vai bisbilhotar as roupas, o celular, o computador, etc. Talvez você diga que isso facilitará que a pessoa venha lhe trair com muita tranquilidade.
Mas pergunto-lhe: você quer ter o controle da vida de uma pessoa por quê? Só para dizer que a você ninguém engana? Só para dizer que você sabe que o outro está lhe ferindo e por isso merece revide? Que tipo de relação pode sobreviver a isso? Do tipo entre tapas e beijos? Isso não é relação, isso não é amor. Isso é um pesadelo.
Se o outro trair, mentir e blá blá blá é problema dele. Sua mente estará em paz, você não sofrerá. Melhor confiar 100% e morrer inocente do que ser ‘muito esperto’ e viver doente.
Se você respeita o seu cônjuge 100% e confia 100% nele, aceitar a sua individualidade será moleza. Porque você também terá liberdade para viver a sua. “Semana que vem quero viajar com minha amigas”; “hoje eu quero ir ao cinema sozinho”; “amanhã quero ficar o dia todo no quarto com meus livros e meus vinis…”.
Que coisa linda é amar o fato de o outro amar aquilo que não lhe dá a menor satisfação. “Eu amo você amar esses quadros que não me dizem coisa alguma e por isso vou sempre lhe presentear com um”. “Eu amo a pessoa que sai de seu momento de prazer sem mim porque essa é a pessoa que eu respeito e confio 100%”. “Eu amo vê-la feliz independente de onde tenha vindo essa felicidade”.
Relacionamento feliz é estar com alguém ‘para sempre’: caminhando em sintonia de alma, crescendo em plenitude de espírito e vibrando energias mútuas, independente de cada um seguir o seu próprio caminho eventualmente. Para isso, há um encargo: ambos precisam lutar muito por isso, afinal, relacionamento é feito de duas pessoas e são elas que contribuem para o sucesso ou para o fracasso. Deixar livre é a forma genuína de amar de verdade, mas é preciso grande força de vontade para alcançá-la.
Chegamos no melhor de tudo. Na fonte de água fresca que nos recompensa pela deliberação das três outras dicas. Quando há 100% de respeito, de confiança e de aceitação da individualidade do outro serem cúmplices em tudo é uma delícia. Nas alegrias, nas travessuras, nas artimanhas e até nas mentirinhas bobas ditas aos outros.
Um relacionamento duradouro e feliz é uma casa erguida sobre estes 4 pilares e sem eles não é possível levar uma vida a dois harmoniosa. As quatro dicas (pilares) precisam estar fortalecidas com a “decisão” de cada membro do relacionamento em assim fazer com desapego e liberdade.
Por último, e mais importante, precisamos falar sobre a sintonia. Não confunda afinidade com sintonia. Afinidade é quando ambos gostam de ‘suflê e de cha-cha-cha’. Mas sintonia é mágica. É quando um completa a resposta do outro, é compreender o que o outro está sentindo só de olhar pra ele. Sintonia é uma espécie de empatia mútua que nunca desconecta. Afinidades podem ser construídas: pode acontecer que você aprenda a gostar de suflê e a dançar cha-cha-cha. Mas a sintonia existe ou não, num repente ou nunca. Por isso nossas amizades sempre duram mais que nossos amores. Sintonize. O que você deseja, está desejando você também, em algum lugar.
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