Um dia acordarás num quarto novo
sem saber como foste para lá
e as vestes que acharás ao pé do leito
de tão estranhas te farão pasmar.
A janela abrirás devagarinho:
fará nevoeiro e tu nada verás…
Hás de tocar, a medo, a campainha
e, silenciosa, a porta se abrirá.
E um ser, que nunca viste, em um sorriso
triste, te abraçará com seu maior carinho
e há de dizer-te para o teu assombro:
– Não te assustes de mim, que sofro há tanto!
Quero chorar – apenas –no teu ombro
e devorar teus olhos, meu amor…
Para Maria Helena, que me pediu
“uma história bem romântica”
E no dia seguinte, amor
Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leito fundo nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus, entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados…
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!…
E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê…
Até os cegos, os entrevadinhos… E
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cata-ventos!
Poemas de Mario Quintana – Extraídos do livro “Nariz de Vidro” -Editora Moderna – 2003