Amizades surgem entre pessoas que se admiram. É na especificidade absoluta do outro, que está a chave da fusão elevada a que chamamos amizade. Não existe uma racionalidade que abarque isso. A amizade é uma epifania lenta.
Vaidades e disputas afastam amigos. Alguns afirmam que ex-amigos, de fato, nunca foram amigos de verdade. Há pedras no caminho. Amigos também possuem egos e as circunstâncias, por vezes, sufocam tudo. Mas há 3 regras fundamentais para identificar um amigo verdadeiro.
A primeira é a capacidade de se observar e continuar em frente. Uma conversa genuína com um amigo é uma dissecação anatômica da minha alma. Nem todos conseguem isso. Não é fácil atender ao preceito socrático: conhece a ti mesmo. Na minha experiência, conhecer aos outros é infinitamente mais fácil do que conhecer a si. Se os filósofos já garantiram que homens maus não possuem amigos, mas apenas cúmplices, eu acrescentaria que pessoas superficiais possuem apenas colegas e conhecidos, mesmo que os denominem amigos.
A segunda é o tempo. Não se criam amigos de um dia para o outro. Amigos demandam história, repertório de casos, vivências em conjunto. Amigos acompanham nossos sucessos e fracassos amorosos, choram e riem com nossa biografia. Todo amigo é, dialeticamente, um frágil bonsai e frondoso carvalho.
A terceira é o controle do próprio orgulho. A mais espaçosa dama da alma é a vaidade. Quando ela preenche o ambiente, sobram poucos assentos livres. Pessoas vaidosas são frágeis e temem a entrega da amizade. O amor é privilégio de maduros, dizia Carlos Drummond. Talvez a amizade também o seja. Talvez não seja apenas para maduros, mas, com certeza, é um privilégio.
Olhe mais longe, decodifique o interior das pessoas e observe sempre. Estas são as nossas melhores defesas. Deu vontade de ligar para o meu amigo. Vou ligar agora.