A desobediência pode ser uma característica comum entre crianças e pré-adolescentes, mas quando a atitude de teimosia é excessiva é preciso estar atento a um possível Transtorno de Oposição Desafiante (TOD). Assim como outras patologias, é importante que os pais busquem diagnosticar este transtorno o quanto antes para evitar que ele traga complicações e prejudique a vida social e o desenvolvimento intelectual da criança. Confira o que é o TOD, quais sãos os seus sintomas e como diferenciá-lo de outros transtornos e de comportamentos comuns da infância:
O que é o TOD – Transtorno de Oposição Desafiante?
O Transtorno de Oposição Desafiante é caracterizado por uma atitude reiterada de teimosia, postura desafiadora e comportamento hostil. Este é um quadro que pode afetar crianças e pré-adolescentes, geralmente em idade escolar. Ainda não existem causas genéticas comprovadas que possam levar ao desenvolvimento do TOD, mas sabe-se que o ambiente em que a criança convive pode estimular o comportamento difícil.
O TOD pode trazer consequências como:
- Prejuízos na vida social da criança, pois a forte teimosia e os acessos de raiva afastam as outras crianças;
- Baixo desempenho escolar, porque a criança tem tendência a querer solucionar os problemas sozinha e tem dificuldade para pedir ajuda aos professores,
- Desenvolvimento de Transtorno de Conduta na adolescência.
Observar o comportamento da criança e procurar tratamento adequado para o problema são atitudes importantes para evitar a evolução do transtorno e para garantir que a criança tenha uma infância saudável.
Como identificar TOD?
Apresentar um comportamento desobediente, de vez em quando, não é incomum entre crianças e adolescentes. Ser teimoso, aletoriamente, ou demonstrar raiva por determinada situação também não. O problema é quando estas são atitudes constantes. Confira algumas atitudes que ajudam a identificar o TOD:
- Ataques de raiva;
- Discussões frequentes com pais, coleguinhas e professores;
- Comportamento vingativo;
- Atitude hostil;
- Agressividade;
- Recusa para obedecer a regras;
- Negativismo.
Como diferenciar o TOD de comportamentos comuns da infância
Em entrevista ao site do doutor Drauzio Varella, a neurologista pediátrica, Letícia Sampaio (capa), membro da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, diz que o comportamento opositor e desafiador é comum em crianças em determinados estágios do desenvolvimento, como na adolescência, e em algumas situações estressantes, como conflitos familiares ou dificuldades escolares; ele também pode ser causado por outros fatores, como transtornos de ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ou transtorno de conduta.
“No entanto, o TOD é caracterizado por um padrão persistente de comportamento desafiador, que é mais severo, frequente e duradouro do que o comportamento observado na maioria das crianças na mesma faixa etária. O diagnóstico é baseado em uma avaliação cuidadosa da história do comportamento da criança, que inclui informações sobre a duração e gravidade do comportamento desafiador, bem como as circunstâncias em que ocorre”, esclarece.
Principais características do transtorno opositor desafiador:
A doutora Letícia fez a seguinte listagem sobre as principais características do Transtorno Opositor Desafiador. Confira:
- Comportamento desafiador: as crianças com TOD frequentemente desafiam as regras, desobedecem aos pais e professores e se recusam a seguir instruções;
- Comportamento irritável: elas também podem ficar facilmente irritadas, com explosões de raiva frequentes e intensas;
- Vingança: podem buscar vingança contra outros, especialmente os adultos que elas acreditam que lhe causaram algum mal, e frequentemente são rancorosas;
- Teimosia: podem ser excessivamente teimosas e obstinadas, recusando-se a ceder, mesmo quando suas demandas são claramente irrealistas ou inapropriadas;
- Dificuldade em lidar com frustrações: podem ter dificuldades em lidar com situações frustrantes e estressantes, tornando-se facilmente desencorajadas;
- Comportamento impulsivo: crianças com TOD podem agir impulsivamente, sem pensar nas consequências de seus atos.
A especialista destaca que essas características não necessariamente indicam que uma criança tem transtorno opositor desafiador. Ou seja, trata-se de um diagnóstico difícil. “Diferenciar [o TOD] de comportamentos comuns da infância, como birras e desafios ao autoritarismo, pode ser difícil, pois esses comportamentos podem ser observados em muitas crianças em algum momento durante o desenvolvimento”, explica.
Por isso, para conseguir fazer essa diferenciação é fundamental levar em conta alguns critérios:
- Padrão persistente: o comportamento desafiador é persistente e ocorre com frequência;
- Severidade: o comportamento é mais grave do que os desafios comuns da infância; as crianças com esse transtorno podem ser agressivas, provocadoras e vingativas;
- Duração: o comportamento desafiador dura pelo menos seis meses, não é um evento pontual ou transitório;
- Interferência: o comportamento tem impacto no funcionamento normal da criança, afetando suas relações e seu desempenho escolar;
- Contexto: o comportamento desafiador ocorre em diversos contextos – como em casa, na escola, em reuniões com amigos e familiares –, e não apenas em um ambiente específico.
Como lidar com as situações desafiadoras
Pode ser complicado lidar com a criança durante as situações desafiadoras, e a especialista recomenda algumas estratégias nesse sentido. Primeiro, é preciso estabelecer limites claros e consistentes para a criança, explicando as regras de maneira objetiva. Também é importante reconhecer e elogiar quando ela tem um comportamento positivo. “Isso ajuda a reforçar o comportamento desejado e pode incentivar a criança a continuar com esse comportamento”, afirma.
Outro ponto é evitar confrontos desnecessários com a criança. Embora seja difícil, é importante tentar manter a calma e usar uma abordagem tranquila para resolver as situações. Além disso, ensine a ela habilidades de resolução de problemas e comunicação eficaz, pois isso pode ajudar a amenizar o comportamento desafiador e promover a cooperação.
Por fim, não deixe de buscar ajuda profissional especializada. Se o comportamento da criança é persistente e afeta o seu dia a dia e da família, é importante procurar atendimento. E procure manter uma atitude positiva em relação à criança. “Lembre-se de que o TOD é um transtorno e que a criança não está escolhendo agir dessa forma. Fique calmo e ofereça apoio e incentivo à criança enquanto ela aprende a lidar com suas emoções e comportamentos desafiadores”, destaca a dra. Letícia.
Como é feito o diagnóstico e o tratamento do transtorno opositor desafiador
O diagnóstico do transtorno é feito por um neurologista infantil, psiquiatra ou psicólogo clínico, após avaliação completa da criança. Segundo a especialista, essa avaliação pode incluir entrevistas com a criança, pais e professores, e a observação do comportamento dela em diferentes situações. O profissional também pode solicitar testes psicológicos e de comportamento para ajudar a avaliar o funcionamento geral da criança.
“Para diagnosticar o TOD, avaliamos a presença de sintomas específicos, como desafio à autoridade, comportamento de oposição persistente e frequente, comportamento vingativo e irritabilidade. Esses comportamentos devem estar presentes por pelo menos seis meses e devem afetar negativamente o funcionamento da criança em casa, na escola ou em outros ambientes”, esclarece ela.
O tratamento pode combinar terapia comportamental, terapia familiar e/ou medicação. “A terapia comportamental pode ajudar a criança a desenvolver habilidades para lidar com seus comportamentos desafiadores e melhorar a comunicação e resolução de problemas. A terapia familiar pode ajudar a melhorar o funcionamento familiar e a comunicação entre a criança e seus pais ou responsáveis. Os medicamentos podem ser prescritos para ajudar a controlar os sintomas de impulsividade, agressividade e irritabilidade”.
Outro ponto importante é que os pais e responsáveis podem se beneficiar de educação e treinamento para lidar com o comportamento desafiador dos filhos, buscando melhorar a comunicação e o ambiente familiar. As escolas também podem ser um apoio adicional, com aconselhamento, planos de intervenção comportamental individualizados e serviços de apoio acadêmico. “O tratamento do TOD é geralmente eficaz, mas pode levar tempo e esforço. O envolvimento dos pais e responsáveis é fundamental para o sucesso do tratamento”, completa a médica.