Psicologia e Comportamento

Transtorno Afetivo Sazonal: o sofrimento psicoemocional de final de ano

Você já notou que seu humor muda de maneira severa numa determinada época do ano, por motivos que você não consegue identificar direito? Talvez você se sinta um pouco nervoso ou triste durante a semana do Natal e/ou réveillon, mesmo que nada de ruim tenha acontecido. A verdade é que determinados feriados, meses ou mesmo estações podem carregar uma bagagem emocional que você pode não reconhecer.  E isso se chama TAS – Transtorno Afetivo Sazonal.

“Cada um de nós tem pontos emocionais no tempo que estão irreversivelmente ligados ao nosso passado”

”O que está acontecendo é que a sua mente está dando um sentido emocional, com referências passadas, às suas experiências presentes sem que você esteja necessariamente pensando a respeito. É uma forma de reconhecimento de padrões. Em outras palavras, é como se o seu subconsciente estivesse tomando nota de si mesmo, com base em fatores ambientais ou condições sensoriais que desencadeiam uma memória desconfortável do passado”, afirma o Dr. John Sharp (capa), psiquiatra da Harvard.

Quer sejam óbvias ou ocultas, essas conexões geralmente envolvem memórias de eventos notáveis ​​em nossas vidas, mas também podem estar ligados a uma perda específica (como a morte de um ente querido ou uma separação ou divórcio devastador ) ou a lutas pessoais (com finanças ou abuso de substâncias, por exemplo). “As emoções, inconscientemente, vão do passado ao presente, sem que você se esforce para isso”, explica Sharp.

Quando o Transtorno Afetivo Sazonal acontece?

O TAS é um fenômeno de abatimento emocional em relação a feriados, aniversários, datas festivas, certas estações do ano, cheiros específicos, lugares específicos, uma música, uma comida… Estudos descobriram que o impacto emocional é particularmente forte para pais que perderam um filho e para cônjuges mais velhos e enlutados.

Um estudo de 2015 da Suécia descobriu que mães que perderam um filho tiveram um risco 46% maior de morrer, principalmente de problemas cardíacos ou suicídio, durante a semana do aniversário da morte da criança. Um estudo de 2014 da Rutgers University descobriu que adultos mais velhos viúvos experimentaram maior sofrimento psicológico durante o período pós-feriado, o mês do aniversário de seu cônjuge falecido e quando ocorrem muitos aniversários de casamento e formaturas. “Quando você perde alguém, não existe fechamento – há um buraco no tecido que nunca é totalmente reparado”, diz Ann Rosen Spector, psicóloga clínica da Filadélfia.

Essa reativação emocional pode acontecer por vários motivos, dizem os especialistas. Por um lado, seus sentidos podem despertar memórias e certas emoções quando você nota um frio no ar, o cheiro de castanhas ou um certo raio de luz por entre as árvores. Por outro lado, as expectativas culturais e as tradições familiares podem preparar o terreno para o surgimento de velhas emoções.

Reconhecer que a angústia tem referencia com o passado e não como o presente, é libertador

“Todos esses padrões provavelmente se intensificaram nos últimos anos por causa das redes sociais. Porque você vê como todo mundo comemora esses feriados. Sempre postando experiências mais positivas, e você pode considerar que as suas vivencias têm sido menos agradáveis ​​em comparação com tantas”, observa Deborah Carr, professora de sociologia da Universidade Rutgers.

Ter consciência desse fenômeno e entender por que você pode se sentir mal permite que você faça algo a respeito. O primeiro passo é descobrir por que você experimentou uma mudança repentina de humor, se não teve um motivo+ óbvio. Para fazer isso, Sharp recomenda se imaginar como um ator no palco, e então ampliar os holofotes para ver o que está ao seu redor em termos de memórias ou eventos passados ​​e influências presentes. “Não é como fazer uma analise Freudiana profunda – você precisa apenas ampliar um pouco o foco sobre si mesmo para ver o que pode estar afetando você que não é imediatamente aparente”, diz Sharp.

Para fazer isso, pergunte-se: quais cheiros, sons ou outros fatores ambientais podem estar desencadeando esses sentimentos? Que expectativas culturais podem estar alimentando minha angústia ou agitação? Quando eu me senti semelhante no passado? “Às vezes você não tem uma resposta imediata”, diz Sharp, “mas, um pouco mais tarde, algo pode surgir em sua cabeça que fará sentindo e você perceberá a conexão”.

Depois de saber com o que está lidando, pode ser útil dizer a si mesmo que os sentimentos que está vivenciando pertencem mais ao passado do que ao presente. Além de ajudar a modificar sua reação, pode “desembaraçar esses fios e reconhecer que algo tem a ver com o passado pode ser enormemente libertador”, diz Sharp.

No futuro, esteja ciente de que pode ocorrer uma recaída de uma ressaca emocional e tome medidas para evitá-la na passagem. “Descubra o que significa cuidar bem de si mesmo e ser proativo”, diz Sharp. Isso pode significar planejar um passeio especial a um lugar favorito, assistir a bons filmes ou fazer outra coisa que te anime.

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As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

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