Balzac disse em seu clássico “A mulher de trinta anos”, que elas estão no auge nessa idade, que elas têm “atrativos irresistíveis”. Concordo com ele, mas outras coisas também acontecem conosco: homens e mulheres. Há um ritual de passagem quando se completa trinta anos. É o que dizem. Uns sentem mais que os outros, assim como uns, ao lerem o horóscopo do dia, se identificam mais que outros.
Aos trinta as exigências aumentam, a capacidade de dar resposta à elas, às vezes, também. O corpo da sinais, a maioria não é bom. Começamos a entender que emagrecer um tanto é bem mais difícil do que antes, o desafio passa a ser engordar pouco e de forma menos letal, isto é, comendo melhor.
Varrer toda a casa rápido, como fazíamos quando a mãe cobrava uma ajuda mensal, produz efeitos mais duradouros. Efeitos parecidos com os de ficar vinte minutos lavando louça depois que seus sete amigos foram embora e você disse: “não precisa, deixa isso aí”.
O lugar do efeito? As costas, cuja musculatura pouco se usa, e quando se usa se faz errado, sem flexionar as pernas. Aos trinta começamos a dar valor aos puffs da sala, ao carrinho no supermercado e ao tênis com amortecedor.
Nessa idade já se esta maduro para dizer coisas com mais confiança, mas inexperiente para colocá-las em prática. Aos trinta trocamos a quantidade pela qualidade. Quando se fala em bebida, por exemplo, uma ou duas boas cervejas ficam mais interessantes que as dez das mais baratas de antes. O vinho de uma boa safra e uva toma lugar do Delgrano ou Sangue de boi.
Uns chegam aos trinta antes de ter trinta, outros já passaram dos trinta e não estão nem perto dos trinta. Sendo caseiro ou não, a sua casa ganha relevância depois dos trinta, ela vira refúgio, ninho e fortaleza. O lar, cada vez mais, é para onde você quer ir ou voltar, e não o lugar que se quer deixar.
Pedir ajuda fica mais difícil aos trinta, receber ainda mais. Você passa a ter que dar respostas para perguntas que ainda não foram feitas pela vida, mas pela sua ansiedade ou expectativa.
Chegar aos trinta pode ser uma carta de alforria para os resmungões, as reclamações ganham status etário.
Por outro lado, completar três décadas pode ser boa chance para reflexões quase vãs como essa, ou, também, pode ser apenas mais um aniversário.