Felizmente existe uma grande divulgação das síndromes e transtornos que podem assolar nossa saúde psicoemocional. No entanto, uma das mais perigosas síndromes passa despercebida dos grandes fóruns de psiquiatria. Eu a denomino de “Síndrome do Prefácio” e seus sintomas são bem conhecidos: a vítima desse mal acredita que sua felicidade chegará daqui a algum tempo: quando fizer 20 anos ou 40. Quando arrumar um emprego melhor ou for promovido, quando casar, quando se divorciar, quando comprar a casa ou trocar de carro novo, quando se aposentar… Quando e quando. Nunca o aqui ou o agora!
Penso muito nesta síndrome que acomete a muitos de forma inconsciente tendo em vista a cumplicidade coletiva dos grupos sociais. A síndrome do prefácio preconiza que sua vida ainda está para começar. Tudo o que você viveu e vive até agora é apenas o esboço, o prefácio da grande saga que está por vir. Assim você posterga importantes decisões, menospreza grandes feitos, ignora seus bons amigos e subestima relações afetivas significativas.
Na Síndrome do Prefácio a pessoa pode pensar: “Afinal esse namoro é apenas um passatempo; esse emprego é temporário; essa amizade é passageira; esse romance não é para durar, o melhor ainda está ainda por vir!”.
Essa síndrome paralisa a capacidade de aproveitar o momento e degustar os aspectos mais proeminentes do aqui e do agora. Faz com que cada um viva o amargor diário ao intuir que do outro lado a grama é sempre mais verde. E quanto mais distante estiver de si esse “outro lado” — seja no tempo ou no espaço — mais o verde e perfeito parecerá.
Não tenho nada contra a essa mola propulsora que nos faz querer sempre mais. O que me perturba na ambição em seu papel da pimenta que estraga o prato da vida, tornando-a intragável — não é a ambição em si — mas seu excesso que amortece o sabor das pitadas necessárias para deixar a vida mais viva. O que me assusta na ambição é essa fome que nunca cessa, é esse vazio que nunca se preenche. Porque a vida é no fundo a própria jornada e não o almejado ponto de chegada.
Que tal reduzir a velocidade na sua a ida à praia e aproveitar toda a aventura até chegar lá e voltar? Porque tudo que é nosso é o agora e o aqui. Só dessa forma conseguiremos construir uma sucessão temporal de “aquis e agoras” numa coleção em qualidade e intensidade que transforme a aventura de viver numa experiência memorável.
Em memória do escritor e professor Mustafá Ali Kanso (1960 * 2017). Mustafá Ali Kanso Foi um mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001), graduado de Engenheiro Químico pela Universidade Federal do Paraná (1988), em Química pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1981) e em Ciências e Química pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1981).
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