Uma das grandes contradições nos seres humanos tem a ver com a dificuldade em apreciar honestamente as virtudes dos outros, sem se incomodar com isso. Não é exatamente inveja. Relaciona-se com o que chamamos de síndrome da alta exposição, ou Síndrome da Papoula Alta.
A síndrome da alta exposição nos diz que quando as pessoas se destacam muito em alguma área, provocam o ódio nos demais. Esse ódio não pode ser chamado de inveja propriamente dita. Sobretudo, ele se relaciona como o fato de que o sucesso dos outros faz com que as nossas próprias limitações se tornem mais visíveis.
É por isso que a síndrome da alta exposição também é chamada de “síndrome da papoula alta”. O motivo vem da lógica que impera de cortar as flores que crescem mais do que as outras, para que as demais não saiam perdendo em uma comparação.
A lenda da Papoula Alta
“Síndrome da papoula alta é um termo comumente usado na Austrália, referindo-se à expectativa de que as papoulas cresçam juntas do mesmo tamanho. Se uma ficar muito alta, ela deve ser cortada no tamanho certo”, disse o Dr. Rumeet Billan, que explorou o tópico extensivamente. O objetivo de cortar uma papoula alta – no contexto australiano – é manter a altura das flores uniforme. Com o tempo, a gíria australiana passou a significar ‘eliminar’ grandes realizadores que se destacam em um campo de realizadores medíocres.
Mas essa história não começou na Autrália. Conta a lenda que a síndrome da alta exposição tem suas primeiras referências nos livros de Heródoto e nas reflexões de Aristóteles. Também aparece em um relato de Lívio sobre o tirano “Tarquínio, o orgulhoso”.
Segundo Heródoto, o imperador enviou um mensageiro para pedir conselhos a Trasíbulo sobre a melhor maneira de manter o controle sobre seu império. O mensageiro perguntou a ele, mas Trasíbulo somente começou a caminhar entre as plantações de trigo. Cada vez que encontrava uma espiga mais alta, cortava-a e a jogava no chão. E não disse nenhuma palavra.
Quando o mensageiro voltou para o imperador, contou-lhe sobre a atitude estranha do conselheiro. O imperador o compreendeu. A mensagem significava que ele deveria eliminar todos aqueles que estivessem acima dos outros. Acabar com os melhores, para que seu poder e sua supremacia jamais fossem postos em cheque.
A síndrome da alta exposição no mundo de hoje
No dia a dia, vemos como somos convidados a nos destacar acima dos outros, ao mesmo tempo em que nos impõe limites muito precisos. A ideia é que você siga determinados parâmetros do que significa ser bem-sucedido. Por exemplo, o “funcionário do mês” não é necessariamente o que mais cresceu ou contribuiu com elementos relevantes, mas sim quem cumpriu integralmente as metas que lhe foram dadas.
Se isso acontece, não há problemas. A raiz da planta que cresceu mais que as demais não será cortada, porque se adaptou ao que o jardineiro queria. Por outro lado, se alguém se destacar muito por razões diferentes das consideradas válidas, é provável que se desencadeiem suspeitas e que, eventualmente, esse alguém seja excluído.
A síndrome funciona em um duplo sentido
A síndrome da alta exposição gera consequências em duas dimensões. A primeira tem a ver com o indicado. Há uma tendência, quase natural, de não permitir que alguém se destaque demais, porque isso gera inseguranças ou cria uma sensação de ameaça nos outros. Portanto, aos que se destacam, muito frequentemente são feitas críticas com severidade excessiva. Ou são muito exigidos. Ou procuram minimizar seus talentos e suas conquistas.
A segunda consequência da síndrome da alta exposição é que ela ensina as pessoas a terem medo de se destacar. Precisamente por tudo o que foi dito, as pessoas aprendem, mais implícita do que explicitamente, que estar acima dos outros pode colocá-las em risco. Risco do quê? De rejeição, questionamentos, crítica e até mesmo de ostracismo.
Por isso, muitos acreditam que é melhor não se destacar em nenhuma circunstância. Assumem o “baixo perfil” como uma norma e se ficam desajustados ao serem expostos aos outros. De uma forma ou outra, acabam sendo adestrados para não desafiarem o estabelecido. É uma pena, pois nesse processo, também perdem capacidades, deixam de lado talentos genuínos e até renunciam ao sucesso.