Como uma jovem adolescente tudo o que eu queria eram as últimas roupas e aparelhos eletrônicos iguais aos que muitos da minha idade tinham. Eu estava no ensino médio e atingi aquela fase estranha com os novos óculos e aparelho nos dentes, e pensei que se eu pudesse tivesse roupas maneiras, um celular supermoderno, uma mochila radical, um par de tênis famoso… essas coisas me ajudariam a me sentir melhor comigo mesma. Então eu lancei uma daquelas birras de adolescente para meus pais, sendo excessivamente emocional. Lembro-me de correr para o meu quarto e me jogar na cama, chorando e desejando ter nascido numa família onde os pais atendessem às “necessidades de sua filha”.
Eu nunca vou esquecer o que aconteceu. Meu pai entrou no meu quarto, sentou na minha cama e amorosamente me explicou que dinheiro não faria diferença, fosse o quanto fosse para eu me sentir bem comigo mesma. Mesmo que ele pudesse me comprar um guarda-roupa novo, não seria suficiente, mesmo que eu ele trocasse o meu celular a cada nova geração, mesmo assim, eu não estaria feliz comigo e tampouco preencheria vazio provocado pela persistente necessidade de ser aceita por aquilo que se tem e não por quem se é.
Naquela época eu pensei que ele estava errado. Mas, na verdade, eu era o única que estava errada. Porque no mais íntimo de mim, eu sabia que não importaria ter o último modelo de celular ou as roupas mais caras, pois alguém sempre se destacaria mais do que eu em alguma coisa na qual eu não conseguiria competir.
Foi então que eu pude perceber que tinha algo que a maioria das jovens da minha idade não tinham: pais presentes e participativos. Meu pai, embora trabalhasse dias inteiros, era diligente e frequentemente levava a mim e minhas irmãs para encontros entre pai e filhas. Minha mãe estava sempre presente em nossos eventos extracurriculares, sentava-se ao nosso lado enquanto praticávamos piano e sempre nos ajudava com nosso dever de casa. Cresci sabendo que meus pais me amavam, se importavam comigo e queriam o que era melhor para mim.
Sim, é verdade que os meus pais trabalharam duro para pagarem uma boa escola para mim e minhas irmãs e também é verdade que nunca nos faltou presentes matérias nas datas importantes. Claro, todos conforme as condições. E sou capaz de afirmar, por mim e minhas irmãs, que dos brinquedos eu me esqueci completamente, mas do que eu jamais esqueço é do quanto meus pais foram presentes em todas as fases da minha infância e adolescência.
Existem criança que, enquanto cresce, experimenta o melhor dos melhores em termos materiais. Ele recebe todos os brinquedos mais recentes, os tablets e os videogames mais recentes, mas seus pais raramente estão em casa. Seus pais não se preocupam em estabelecer um relacionamento próximo com ele, em vez disso, tentam comprar o seu amor com brinquedos. À medida que o filho cresce sem a validação afetiva com seus pais, ele aprende a contar com eles somente por meios financeiros. E aí não adianta dizer: “só me liga pra pedir dinheiro”. O que mais ele poderia esperar de pais ausentes?
As crianças aprendem a confiar em seus pais para tudo desde que estavam no ventre materno. Mesmo que os pais trabalhem em tempo integral fora de casa, eles ainda podem estar presentes na vida de seus filhos. Eles ainda podem fazer todo o possível para desenvolver um relacionamento forte com seu filho baseado no amor, na compreensão e na validação das emoções, pensamentos, sentimentos e expressões.
Aqui estão 3 razões pelas quais a sua presença é mais importante na vida do seu filho do que o último e maior presente:
A primeira escola de uma criança é o lar. Este é o lugar onde as crianças aprendem habilidades básicas como falar, andar, usar o banheiro, segurar um garfo, etc. As crianças aprendem essas habilidades observando os outros. Os pais dão o exemplo aos filhos. Se uma criança vê um pai realizando uma determinada tarefa, ela sente que também pode fazê-lo. Quando você está presente na vida de seu filho, você ajuda a moldá-lo na pessoa que você sabe que ele poderá se tornar. As crianças olham para você a vida inteira e suas ações falam muito mais alto do que qualquer quantia de dinheiro. Mostre aos seus filhos, pelo seu exemplo e suas ações, que você quer o que é melhor para eles.
Qual lembrança gostosa você tem da sua infância? Aquela música que sua mãe colocava pra vocês dançarem juntos; o dia em que seu pai te mostrou os movimentos do Sol e da Terra usando uma laranja e um limão…
Sentir o afeto do outro é vivenciar uma série de sentimentos prazerosos que podem estruturar muito do que somos. A experiência desde cedo com manifestações de carinho é fundamental para o desenvolvimento infantil, impactando na personalidade da criança e também no seu crescimento cognitivo – mecanismos mentais necessários para a construção da percepção, pensamento, memória e resolução de problemas. Apesar das ligações afetivas trazerem tantos reflexos para a criança, a maioria das pessoas ainda não faz essa relação. Uma pesquisa, realizada em 2012, pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, apontou que apenas 12% da população considera o afeto importante para o desenvolvimento da criança.
Segundo o professor Walter Eustáquio Ribeiro, o ambiente amoroso, com uma família compreensiva e tranquila, faz com que a criança fixe melhor o conhecimento. Hábitos afetivos colaboram para que a criança desenvolva suas capacidades motoras e cognitivas, e ainda fortalecem o sistema imunológico. Mas o afeto familiar significa mais do que apenas o contato abraços e colo, significa diálogo, presença, regras e assertividade.
A afetividade parental tem um efeito duradouro, desde a infância à vida adulta. Aproveite o tempo para aconchegar seus filhos, deixe-os ao seu lado enquanto você lê histórias para eles e, todas as noites, lhes abrace antes de dormir.
Quando você está envolvido na vida de seu filho, você o ajuda a ganhar confiança e a construir sua autoestima. Quando os pais priorizam assistir ao concerto do coral de uma criança ou ao jogo de futebol ou até mesmo garantir que a lição de casa esteja concluída, isso traz sentimentos de segurança e amor à criança. Isso é importante para a saúde mental da criança e do adolescente. Quando esses sentimentos não existem, é mais provável que a criança seja insegura e tenha sentimentos de baixa autoestima.
São os pais presentes e ativos na vida dos filhos que legitimam ou censuram conhecimentos e valores desenvolvidos durante todo o processo de crescimento. Quando os pais estão presentes na vida de uma criança, eles passam mais tempo conversando com ela. Do contrario quando uma criança recebe um presente, geralmente fica sozinha por um longo período de tempo.
A comunicação com os pais é essencial para o estabelecimento de habilidades críticas. Vocabulário, gramática e até mesmo habilidades básicas de socialização podem ser aprendidas através da comunicação constante entre uma criança/adolescente e seus pais.
A princípio, os presentes podem parecer uma ótima maneira de conquistar o amor do seu filho, mas eles nunca substituirão os momentos vivenciados com você. As crianças crescem rápido demais, então, brinque com seus filhos enquanto eles querem brincar com você. Marque presença nas experiências de vida do seu filho adolescente enquanto eles cobram por ela. Quando você dedica tempo aos seus filhos, você os presenteia com algo inestimável, inigualável e inesquecível.
Texto da escritora Courtnie Erickson, publicado originalmente em familyshare.com Tradução e livre adaptação Portal Raízes.
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