Psicologia e Comportamento

“Se você me deixar, eu morro”: 4 passos para superar a dependência emocional

A dependência emocional é uma patologia comportamental que influencia nos relacionamentos e pode trazer muito sofrimento psíquico ao casal. O primeiro passo para combater esse distúrbio é reconhecer que você tem um problema: existem sintomas e comportamentos que podem nos ajudar a definir quando a relação não vai bem e tende a fracassar. Mas e depois, como desintoxicar da dependência emocional por causa de um relacionamento que terminou?

Relacionamentos tóxicos: vício em amor

No contexto das relações tóxicas, a dependência emocional pode ser caracterizada como um distúrbio patológico que compromete a felicidade e a liberdade pessoal. O “vício do amor”, apesar de não estar inserido no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, passou a ser considerado por muitos especialistas em saúde mental como um “Novo Vício Comportamental” do nosso tempo: como vício em tecnologia, telas, compras…

Aqueles que sofrem de dependência afetiva, são emocionalmente dependentes de outra pessoa, ou seja, acreditam piamente que não conseguem sobreviver se não for ao lado daquela pessoa. Em geral, esse distúrbio tem origem na infância e muitas vezes é causado pela falta de afeto e atenção dos pais ou por traumas de negligência psicoafetiva, moral, social e física. Na idade adulta, tendemos a compensar esse vazio com outra pessoa.

Normalmente quem sofre desse transtorno atrela sua própria felicidade a uma única pessoa e depende enormemente de sua opinião, criando assim uma forte dependência emocional e psicológica. O medo de ser rejeitado ou de perder o outro, se torna uma obsessão a ponto de evitar discussões ou não expressar livremente sua opinião. O sujeito afetado por esse tipo particular de subordinação prefere colocar em risco sua própria liberdade e felicidade para evitar perder a outra pessoa e, por isso, se isola do resto do mundo.

Esse transtorno só pode ser combatido buscando sua independência emocional, física e psicológica, ou seja, aprendendo a ser independente e a não amarrar sua felicidade exclusivamente a outra pessoa, em detrimento de sua própria felicidade.

Dependência emocional, como reconhecê-la

Para reconhecer sinais de dependência emocional, observe se os seguintes sintomas acontecem com você:

  • Abstinência pela ausência do companheiro: grande sofrimento e ansiedade pela falta do outro.
  • Você investe a maior parte do seu tempo se preocupando com o que o outro deseja na relação.
  • Você se isola e rejeita convites para outros tipos de atividades sociais, ocupacionais ou de lazer, caso o parceiro/a não possa ir.
  • Você faz malabarismos para manter o relacionamento, sendo capaz de se desculpar e se humilhar para evitar uma discussão fatal.
  • Você se vê incapaz de terminar o relacionamento, mesmo sabendo que as coisas que machucam você, são infinitamente maiores do que as coisas que lhe dão prazer.
  • Você idealiza uma vida romântica do tipo, envelhecer juntinhos e para isso você se esquece de que, melhor do que envelhecer ao lado de alguém incompatível com você, não é melhor do que envelhecer fazendo, ainda que sozinho, as coisas que são compatíveis com o seu bem estar físico, mental e emocional.
  • Você nem sabe mais quais são os seus gostos. Quando alguém lhe pergunta do que você gostaria de fazer, você sempre coloca os gostos da outra pessoa em primeiro lugar e ainda diz que é o que você gosta também.
  • Você elimina a si mesmo e a sua identidade e não satisfaz suas próprias necessidades, na tentativa de agradar o outro, a fim de tentar controlar a opinião dele acerca de si.
  • Você não vê o casal como dois indivíduos separados, mas como um todo, com a consequente necessidade constante de segurança.
  • Você tem baixa autoestima e uma necessidade contínua de reconhecimento, combinada com um forte medo da solidão.
  • Você não acredita que mereça amor e tem medo de confiar nos outros.
  • Você tem medo da separação e ficar sozinho, de se sentir feliz apenas no relacionamento.
  • Você idealiza seu parceiro/a e tem pensamentos obsessivos sobre ele/a, pensando constantemente onde ele/a está ou o que está fazendo.
  • Você sempre tem medo de que seu parceiro/a perca o interesse em você.
  • Você sente que você sempre escolhe a pessoa errada como parceiro/o.

Caso reconheça algum destes sintomas ou atitudes, não hesite em pedir ajuda a um profissional.

Existem vários tipos de vício em amor

  1. Obsessivo: você não consegue se afastar do seu parceiro mesmo que ele não esteja mais disponível. É provável que nesse estágio, você também possa desenvolver outros vícios, seja em medicamentos, compra, comida, sexo, drogas, cigarro, álcool… Esse tipo de comportamento pode levar à prática de violência física, psicológica, sexual, verbal, automutilação, suicídio e/ou assassinato.
  2. Dependência psíquica afetiva: baseia-se em cuidar do outro ao extremo, esperando ser reconhecido por sua dedicação ao relacionamento: a dependência não é mais da pessoa, mas do próprio relacionamento.
  3. Narcisista: usa de processos manipulativos para dominar o parceiro a ficar com você, o culpablizando por seu grande sofrimento emocional, seus traumas e suas dores físicas. Esse tipo de dependência só surge quando se é abandonado ou quando tem medo de ser abandonado.
  4. Ambivalente: busca, deseja, sonha com o amor, mas tem medo de se entregar e assim, foge da relação quando percebe a intimidade.
  5. Rejeição sedutora: precisa de um parceiro para receber carinho, mas depois tende a rejeitá-lo quando se sente seguro, gerando o ciclo entra na rotina.
  6. Romântico volúvel: precisa de relacionamentos intensos, mas de curta duração com múltiplos parceiros.

Todas essas tipologias são comportamentos autodestrutivos e podem ter raízes em traumas de infância. O primeiro passo para saber como se livrar de um vício emocional é, de fato, reconhecer que você tem um problema.

As causas da dependência emocional

As principais causas de vício do amor são a falta ou falta de afeto ou amor, ou outros traumas emocionais que ocorreram sobretudo na infância e que causaram um vazio e uma sensação contínua de medo do abandono.

Esses tipos de traumas normalmente dizem respeito ao relacionamento com os pais (ou quem deles cuidou) e podem envolver eventos como ausência emocional dos pais, luto, abandono ou separações violentas. Pessoas que sofreram esses traumas e falta de afeto podem recriar, mesmo sem saber, o mesmo cenário nos relacionamentos adultos, encontrando-se assim em uma busca espasmódica de afeto e dependência.

Estudos recentes relacionaram a adicção amorosa com a adicção a substâncias, procurando focar principalmente em analogias e destacando algumas características relacionadas à duração e à frequência do sofrimento percebido na adicção emocional.

Falamos de adicção amorosa quando uma pessoa permite que outros influenciem seus pensamentos e atitudes e só isso lhe permite sentir-se serena: assim deixa aos outros o controle de suas emoções e se torna totalmente dependente.

O parceiro torna-se a única coisa que nos faz sentir bem e vivos, e da qual não podemos ignorar, tal como nos vícios de substâncias, também neste caso o amor e o parceiro tornam-se a única fonte de bem-estar e obsessão e sai desta vício torna-se complicado e muito doloroso.

Em estágios patológicos o indivíduo pode não ter mais o controle da situação, mas ficar totalmente condicionado pela dependência emocional, e mesmo que se sinta mal e queira terminar o relacionamento, não consegue.

Na verdade, a dependência emocional assume várias formas, incluindo a de procurar alguém para se sentir completo e seguro, mas quando o outro se afasta, sente-se completamente perdido e à mercê das emoções que podem, em alguns casos, até levar à depressão.

O vício emocional pode se tornar patológico e, associado a outros sintomas, pode levar a transtorno de personalidade dependente. Se você se sentir duvidoso ou inseguro ou reconhecer alguns sintomas de vício amoroso, não hesite em pedir ajuda a um especialista na área.

Vamos começar com os principais sintomas:

  • Vício: parece óbvio, mas o primeiro sintoma do vício emocional é o próprio vício. O afetivo-viciado despeja no outro todos os seus mecanismos de autorregulação, como manter a autoestima, a coesão pessoal ou sentir emoção. Se o parceiro se afasta, esses bens pessoais são perdidos e a pessoa viciada pode sofrer exageradamente e entrar em pânico.
  • Incapacidade de lidar com uma possível separação: Como mencionado anteriormente, o parceiro torna-se vital para o viciado em amor e a separação é uma dor inimaginável.
  • O dependente emocional é facilmente chantageado, justamente por não conceber a separação, aceitaria qualquer coisa para não terminar uma história. A essa altura, é claro, o maior perigo é perder a identidade.
  • Procure pessoas afetivas ou narcisistas, pois representam o seu oposto e são atraídas pela falsa segurança e perfeição que parecem emanar.
  • O empregado é subjugado e complacente com o companheiro, a ponto de condescendê-lo, venerá-lo e adorá-lo, esperando receber um reconhecimento que provavelmente nunca virá.

As causas do vício costumam ter raízes profundas e remontam à infância, quando a criança começa a construir uma identidade, e se houver críticas, punições ou total indiferença dos pais durante esse processo, a criança poderá crescer com um sentimento aguçado de culpa e baixa autoestima.

Familiares que podem levar à criação de baixa autoestima

Pais superprotetores que nunca acreditaram em seus filhos: Pais hiperpotenciais tendem a satisfazer todas as necessidades e desejos de seus filhos, sem que eles tenham que pensar em nada. Desta forma, os filhos crescerão com pouca autonomia e independência e, provavelmente, mesmo quando adultos, procurarão por um lado pessoas que resolvam as coisas para eles e, por outro, depositarão muitas expectativas em seu parceiro, atribuindo-lhe o poder de ser o único que pode resolver seus problemas.

Pais ausentes: os pais não deram ao filho as respostas e confirmações de que ele precisava para suas necessidades emocionais, levando-o a se sentir incompetente e sem valor. Nesse caso, o parceiro representa essa possibilidade de redenção e de ser amado. A perda de um parceiro pode levar a uma sensação de solidão e profundo desespero que também pode levar à depressão.

Essas situações levarão o dependente emocional a uma perda de si mesmo , em prol do relacionamento que, porém, sendo tóxico , só pode levá-lo a uma solidão ainda mais acentuada e sem identidade. Justamente porque a autoestima e a identidade são construídas durante o crescimento, a dependência emocional pode ser considerada uma consequência da falha na construção da autoestima. Se alguns sintomas do vício em amor parecem familiares para você, vamos nos aprofundar nas maneiras de curar o vício em amor.

Vício emocional como sair dele: os primeiros 4 passos

Se você se envolveu em um relacionamento que parece estar levando a um vício emocional e não sabe como sair dele, deixamos 4 dicas para ajudá-lo a se livrar desse vício. Para se afastar lentamente desse transtorno , é necessário que o próprio sujeito que o sofre dê passos em direção à solução para superar o vício emocional.

Aqui estão 4 dicas para reconhecê-lo e se livrar dele:

1 – Aceitar que tem um problema

Não há cura se a pessoa que sofre de dependência amorosa não admitir que tem um problema com seu relacionamento. É preciso lembrar que esse tipo de transtorno não está ligado apenas a relacionamentos de casal, mas também a outros tipos de pessoas, como amigos ou familiares. Se você se reconhece na descrição dos sintomas, é hora de buscar uma solução.

2 – Faça uma lista

Depois de reconhecer o transtorno, é preciso tomar consciência de suas consequências. Pode ser útil fazer uma lista de todas as coisas que você fez pela outra pessoa que lhe causaram danos. Dessa forma, é possível entender que essa forma de vício leva a ações que não aumentam nosso bem-estar, mas pioram nossas vidas com o único objetivo de não perder o outro. Para combater o vício emocional, é útil processar racionalmente o que está acontecendo.

3 – Fortaleça a Autoestima

A baixa autoestima é uma das principais causas do vício amoroso. Na verdade, sem este elemento, não sacrificaríamos toda a nossa independência e liberdade para seguir outra pessoa. Para melhorar a autoestima, a melhor solução é pedir ajuda a um terapeuta para investigar as causas do distúrbio.

4 – Aprenda a ficar sozinho e descubra a independência emocional, psicológica e física

Você não pode se sentir bem com os outros se não se sentir bem consigo mesmo primeiro. Se você não souber aproveitar seu tempo sozinho, será difícil ter um relacionamento maduro com os outros. É normal querer um parceiro ou amigos, mas não é saudável sentir a necessidade urgente ou ficar viciado nessa ideia. Faça novos hobbies e use o tempo livre para si mesmo. Pouco a pouco você poderá se abrir para os outros e estabelecer relacionamentos saudáveis ​​e maduros.

Essas etapas podem lançar as bases para repensar e redesenhar os relacionamentos e para poder começar a sair do vício emocional.

Exercícios para sair do vício do amor

Nesta parte do artigo apresentaremos alguns exercícios para sair do vício do amor, a fim de poder dizer “estou curado do vício do amor”.

No parágrafo anterior, destacamos como o primeiro passo para sair do vício emocional é aceitar o problema. Uma vez que o problema tenha surgido, podemos usar alguns exercícios que podem nos ajudar a superar esse momento (embora, obviamente, o principal conselho seja sempre entrar em contato com um especialista que possa nos acompanhar em nossa jornada):

  • Concentre-se no momento presente: dedique 10 minutos por dia para fazer algo que você ama, concentrando-se principalmente nos sentidos e embalando pensamentos que não estão relacionados a este momento
  • Concentre-se em si mesmo: aprenda a dizer não e faça apenas o que quiser, sem se deixar arrastar pelos compromissos, objetivos e pensamentos dos outros. Comece com pequenas coisas e depois envolva toda a realidade
  • Afirme-se: ou seja, ocupe o espaço vital que nos pertence, fazendo com que os outros respeitem os nossos limites (e obviamente respeitando os deles).
  • Elimine a culpa. Muitas vezes, o vício cria uma culpa inexistente: escrever em uma lista todos os momentos que nos fazem sentir culpados pode nos ajudar a reduzir e compreender nosso sentimento de culpa
  • Aprenda a administrar a vergonha: não podemos agradar a todos e podemos errar. Vamos aprender a gerir este tipo de sentimento, começando pelos exercícios de relaxamento muscular.
  • Deixe espaço para suas paixões: Ser independente e livre para escolher
  • Vivencie o luto da separação e os sentimentos dolorosos: Processar o desapego e as separações pode trazer relacionamentos passados ​​ao seu devido lugar, aceitando assim que a dor existe, mas sem alimentá-la.
  • Aceite e descubra sua verdadeira beleza.

Essas reflexões e exercícios para sair do vício emocional podem nos ajudar no dia a dia a tentar encontrar um equilíbrio.

Tratamentos para o vício do amor

O tratamento para o vício do amor pode variar dependendo da gravidade do vício. Como mencionado no início do artigo, o vício amoroso não é considerado um transtorno mental real, mas um transtorno de comportamento que pode se apresentar em vários transtornos patológicos de personalidade, com o transtorno limítrofe ou transtorno de personalidade dependente, associado a outra gama de sintomas.

A cura para o vício do amor é baseada em 3 etapas:

  • Psicoterapia Cognitiva Comportamental de curto prazo para ajudar o paciente em seu sofrimento atual.
  • Autocuidado com saúde física, a alimentação, a estética, a prática de atividades físicas e a dedicação à atividades artísticas e ao entretenimento.
  • Uma terapia com psicanalise de longa duração que leva o paciente a resolver situações de negligência física e emocional, abandono ou abuso que minam a autoestima e a autoimagem, conduzindo assim a pessoa à procura de uma relação em que se sinta amada e respeitada. A questão não é ser autossuficiente e não se depender de pessoa alguma, mas ser capaz de estabelecer vínculos afetivos saudáveis e não em comportamentos patológicos.

Atenção: este artigo não substitui uma consulta com psicólogo e não tem a intenção de fazer diagnósticos. Todas as informações são informativas. Procure sempre a orientação de um profissional.

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