A educação autoritária ou violenta faz parte da história de muitos de nós. Por isso, usar a brincadeira para educar pode parecer estranho.
Mas a ideia tem uma lógica, e é infinitamente mais eficaz e menos estressante. A brincadeira e a fantasia são as linguagens essenciais da infância. É através delas que as crianças conhecem e compreendem a si mesmas e o mundo, que se expressam e aprendem.
A brincadeira tem um efeito tão potente no cérebro infantil que a criança se sente atraída para ela, mesmo numa crise de mau humor ou irritabilidade.
O cérebro das crianças está programado para aprender brincando. Embora possa parecer mais eficaz dar uma ordem ou repreender em voz alta ou severa, eles aprenderão melhor quando você responder com humor e fantasia. Por exemplo, com a voz de robô ou de um locutor de futebol.
O riso alivia a resposta ao estresse e desarma o medo. Quando você brinca para corrigir o comportamento de uma criança, os hormônios do estresse em seu corpo começam a diminuir e sua reação de luta ou fuga se acalma. Ela estará mais aberta para aprender e colaborar. Nada melhor que brincar para desatar nós e desarmar disputas de poder.
Além disso, você estimula a sua criatividade e imaginação, e “treina” para desenvolver algo que nos salva tantas vezes: o bom humor. E pesquisas mostram que crianças e pais que brincam muito têm uma conexão mais forte e intensa ao longo da vida.
Somos programados para a interação, para o vínculo. Ao educar seu filho brincando, você reforça a conexão com ele e fortalece um relacionamento baseado na confiança, no afeto e no riso.
Se a criança não aprende como a gente se acostumou a ensinar, vamos mudar e ensinar do jeito que ela aprende melhor.
Para uma criança colaborar, em vez de gritar, fale na língua dela: a brincadeira e a fantasia. Você não imagina o alívio que isso vai trazer. Veja alguns exemplos:
Para uma criança que insiste no “não” quando algo lhe é solicitado: “Ah, tô vendo que você tá com muito não pra falar. Quero que você diga quantos ‘nãos’ quiser. Quando eu falar sim, você fala não, na mesma voz”. Fale sim com vozes de robô, de falsete, imitando uma pessoa cheia de frescuras, um comandante militar, etc. Em seguida, com a criança mais relaxada, proponha, a tarefa e comece a fazer junto com ela.
Uma criança de 2 ou 3 anos contrariada quer bater em você: Antes de mais nada, diga “aqui em casa ninguém bate em ninguém”, para reforçar valores fundamentais. Mas depois transforme isso em brincadeira: “Ah, mas você tá precisando bater! Pega essa almofada e bate no sofá!” Enquanto isso, pegue outra e comece uma a guerra de travesseiros. Quem não gosta de uma?
Para uma criança choramingando, diga: “Xiiii, acho que a sua voz normal se perdeu! Precisamos procurá-la!! Vamos ser os detetives! Onde será que ela se escondeu? Veja embaixo da mesa. Não, vamos procurar nas gavetas!” Deixe ela liderar a procura: “Ah, achou! Que bom, pensei que a gente numa mais ia encontrar!”.
Dois irmãos brigando por um brinquedo? Use a brincadeira do locutor: “Atenção, aqui é o locutor papai transmitindo ao vivo diretamente do quarto das crianças! A disputa do século está acontecendo por causa do carrinho vermelho. Será que eles conseguem resolver a questão ou teremos que guardar o carrinho?”. Depois entreviste ambos, perguntando qual a versão de cada um e as soluções que propõem, sem julgar ou escolher por eles.