Matéria de Gazeta do Povo – Sempre Família
Que pai ou mãe nunca deixou de comprar algo para seu uso pessoal porque precisava adquirir uma peça de roupa, um brinquedo ou qualquer outro item que o filho pedisse? Gustavo Lacatus é psicólogo e explica que essa ação é comum e acontece na tentativa de trazer felicidade aos pequenos. No entanto, a satisfação na infância e também na vida adulta não depende dos itens que a criança ganha em seus primeiros anos de vida, mas da qualidade do seu relacionamento familiar nessa fase.
Inclusive, “os filhos que sempre recebem o que querem ficam passivos ao mundo e não compreendem que é necessária a contrapartida deles para adquirir alguma coisa”, afirma o especialista em atendimento infantil, acrescentando que a criança também apresentará dificuldades para enfrentar desafios no futuro. Por isso, os pais devem ter equilíbrio ao presentear os pequenos e ainda precisam incentivá-los a conquistar aquilo que pediram. “Isso desde muito cedo”, aponta Lacatus.
Segundo ele, um bebê que está aprendendo a andar, por exemplo, precisa de estímulo para levantar e se locomover. “Então, a gente coloca um objeto relativamente longe das mãos dessa criança e começa a balançar o item para que o filho se esforce e chegue até o brinquedo”, exemplifica o psicoterapeuta, ao afirmar que incentivos como esse contribuem para o desenvolvimento da criança e para o seu sucesso no futuro.
Só que o especialista garante que não adianta desafiar as habilidades cognitivas e sociais dos filhos se eles não receberem apoio adequado para isso no dia a dia. “A criança precisa ser ouvida, guiada e necessita de modelos corretos que possa seguir”, afirma. “Não que isso garanta sua felicidade completa na vida adulta, mas, com certeza, contribuirá de forma significativa, pois esse indivíduo terá aprendido a administrar seus sentimentos”.
E, para isso, Lacatus apresenta algumas dicas essenciais no desenvolvimento emocional dos filhos e seu preparo para uma vida feliz. As sugestões são voltadas para crianças até quatro anos de idade, mas um ambiente familiar acolhedor trará benefícios em qualquer fase do desenvolvimento. Confira:
A linguagem da criança é a brincadeira, pois é por meio dela que os pequenos interagem com o mundo, expressam o que sentem e compreendem as situações ao redor. Então, em vez de deixar a criança passar horas na frente das telas, pai e mãe devem brincar com os filhos dentro e fora de casa. “Deixe que as brincadeiras surjam e invistam nelas, mostrando outras possibilidades de agir e aproveitando para ensinar durante a atividade”, orienta o especialista, lembrando que o aprendizado não surge em uma ou duas tentativas. “Então, dedique tempo para isso e reforce o ensinamento diversas vezes”.
Ao incentivar a criança a montar uma torre de blocos, aprender um instrumento musical ou ajudar em alguma tarefa da casa, é imprescindível levar em conta a idade dela para que sua resposta seja positiva ao estímulo. “Afinal, o filho precisa dar conta de cumprir aquele desafio”, pontua o psicólogo. Além disso, é importante que os pais mostrem ao filho o que deve ser feito, sem realizar a tarefa por ele, e cuidem para não criar expectativas muito altas ou exigirem perfeição quando a criança realizar a atividade. Afinal, o pequeno pode se sentir desestimulado e até desistir de sua meta se perceber que não alcançará o padrão exigido.
Ao perceber que a criança se esforçou para realizar uma atividade proposta ou que teve alguma ação positiva em relação aos pais, irmãos ou um amiguinho, isso deve ser comemorado com entusiasmo. Assim, o pequeno será incentivado a repetir essa atitude e a manter-se ativo nas interações futuras que forem apresentadas a ele.
Estimule o autocontrole
Outra dica que prepara a criança para uma vida feliz é o aprendizado do autocontrole, pois essa habilidade a auxiliará na hora de tomar decisões. Por isso, os pais podem fazer certo “suspense” ao contar uma história para que o filho espere o desfecho sem perder o interesse ou convidá-lo para ajudar no preparo de um bolo e aguardar que ele asse.
Também é importante reduzir a quantidade de “tentações” presentes na casa que aumentem a chance de o filho desobedecer alguma ordem. No caso de doces e outras guloseimas que devem ser consumidas em pequena quantidade, por exemplo, vale a pena guardá-las em prateleiras altas, fora do alcance e da visão das crianças, enquanto frutas e outros alimentos saudáveis devem ter acesso fácil para incentivar uma boa alimentação.
Já nos momentos em que os pequenos apresentarem algum comportamento desagradável, é necessário que os pais mantenham a calma e prestem atenção à situação emocional dos filhos. “Nós, adultos, temos a tendência de querer orientar ou corrigir a criança na hora em que ela fez algo errado. Só que nem sempre ela está emocionalmente disponível ao aprendizado”, explica o psicólogo. Portanto, é necessário limitar a ação e proteger o pequeno de algum perigo imediatamente, mas aguardar alguns minutos para conversar com ele a respeito do que ocorreu.
Também vale ressaltar que uma relação de carinho com o filho é necessária para que ele se sinta seguro, confie em sua família e ouça o que os pais querem lhe dizer. “E isso é conquistado por meio de interações de qualidade, ou seja, exige disponibilidade dos adultos”, aponta o psicoterapeuta, ao incentivar que pai e mãe aproveitem o tempo com a criança para ouvi-la, acolhê-la e demonstrar que ela é amada. “Assim, a chance dela se tornar uma pessoa realizada no futuro será muito maior”, garante.
Seja exemplo
Por fim, não adianta transmitir os melhores ensinamentos aos pequenos se eles não presenciarem essas ações em casa. “Isso vale mesmo que não estejam interagindo naquele momento, pois são extremamente observadores e percebem o que ocorre ao redor”, afirma o psicólogo. Por isso, pai e mãe devem se esforçar para manter um clima emocional agradável no lar, demonstrar gratidão, perdão, solidariedade e ter bons hábitos no dia a dia. “Isso tudo fará com que a criança também se aproprie dessas características positivas e as repita”, finaliza.
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