Desde crianças, criamos expectativas de que nossas necessidades sejam aliviadas e de que nossos desejos sejam atendidos por quem nos rodeia. Parece fazer parte de nossa natureza acalentar a esperança de que tudo vai dar certo, de que as pessoas nos farão felizes, de que o amor perfeito virá até nós e completará o que nos falta. Infelizmente, a vida tende a nos lembrar de que teremos um longo caminho de tombos e de decepções pela frente, pois nada é fácil, nada vem fácil. Cabe-nos não esperar muito dos outros e agirmos por conta própria.

Não semeie expectativas exageradas em relação aos caminhos que percorre. Diariamente, nossa jornada estará sujeita a ventos e trovoadas, a descaminhos escuros que nos derrubarão, arrefecendo-nos os ânimos. Problemas fazem parte da vida de todos nós e sua resolução dependerá da lucidez de nossos sentimentos em relação ao que deve ser feito, repensado e mudado. Deveremos estar preparados para os reveses que nos adentrarão todos os espaços, combatendo-os com equilíbrio, sempre junto aos nossos queridos.

Não acalente esperanças de que as pessoas serão gratas pelo que você faz por elas, de que será reconhecido pela sua dedicação, sua fidelidade, ou seu empenho em deixar o outro feliz. Muitas delas simplesmente esquecerão tudo isso num piscar de olhos, outras lhe cobrarão ainda mais, enquanto algumas o trocarão por novas amizades, novos companheiros. Cada um dá o que tem, já diz o senso comum, por isso devemos fazer o bem sem condições e sem esperar nada em troca.

Não espere que o outro vá mudar, que um dia ele irá acordar do jeito que você quer – isso não existe longe dos enredos de ficção. Ou aceitamos as pessoas como elas são, valorizando em cada uma delas aquilo que têm de melhor e abrindo concessões que não firam nossos princípios e nossa dignidade, para aceitá-las em nossas vidas, ou entraremos em relacionamentos desgastantes e permeados por frustrações e discussões inúteis.

Não aguarde que a vida traga até você as oportunidades que contribuirão aos seus avanços pessoais e profissionais. Nada costuma cair no nosso colo assim, como num passe de mágica. Aja em favor de si mesmo, correndo atrás daquilo que você quer, estudando, projetando, atualizando-se, relacionando-se com as pessoas, harmonizando-se com o mundo à sua volta, de forma que os ambientes por onde transitar sejam repletos de portas a serem abertas e de gente que torce por você.

Não nutra desejos de ser aceito por todos, de poder viver a seu modo, de acordo com o que quiser, sem ser mal interpretado ou incompreendido. Encontraremos muita intolerância pela frente, estaremos sujeitos a julgamentos alheios o tempo todo, muitos deles vindos de pessoas que pautam seus argumentos sobre pontos de vista unilaterais, preconceituosos e cruéis. Conserve a fidelidade à essência de suas verdades, dê importância a quem tem importância e caminhe junto a quem estiver ao seu lado com afeto sincero.

Obviamente, devemos idealizar um futuro de realizações que nos levem à satisfação pessoal e profissional, para que tenhamos sempre algo por que lutar diariamente, ou então permaneceremos presos ao comodismo incômodo, ao amortecimento de nossos sentidos. No entanto, é preciso que adotemos uma postura ativa, impulsionada por idealizações passíveis de serem alcançadas de acordo com o que temos e somos, sem abrir mão de nossas verdades.

Porque esperar do outro aquilo que está dentro de nós fatalmente nos trará uma série de decepções que em nada nos acrescentarão. Na verdade, nós é que somos os responsáveis pela nossa vida, pelas nossas dores e alegrias, ou seja, podemos esperar, sim, mas de ninguém mais do que de nós mesmos.

Texto de Marcel Camargo






Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.