Quando falamos de vínculos afetivos, o tratamento é um reflexo da qualidade dos sentimentos que damos e recebemos. A maneira que você aceita ser tratada, indica como as pessoas devem lhe tratar. Se você aceita receber menos do que acredita que merece, sua aceitação do menos, é um aceno para a forma como as pessoas vão lhe tratar sempre e sempre. O que você permite é o que continuará. Não mudará nunca.
Quem nos ama, não nos maltrata. Se lhe maltrata, não lhe ama. É uma crença contraditória a de que quem faz você chorar é quem lhe ama de verdade. Não aceite a convivência com quem lhe faz chorar com lágrimas de tristeza, de decepção, de frustração; que não lhe proporciona genuína e alegre companhia, que não lhe traz êxtases plenos, que não lhe estimula a lutar por seus sonhos, que lhe impõe condições para que você receba afeto dela.
Então, a primeira coisa que devemos fazer é rever o tratamento que recebemos, bem como o tratamento que oferecemos aos outros. Muitas vezes, acontece de sermos maltratados exatamente pela pessoa que mais costumamos nos doar. Há um dito popular que afirma que a vida é um eco e se você não gosta do que está recebendo, observe o que está emitindo. Sim, isso também é verdade, pois devemos tratar os outros da forma como desejamos ser tratados. Mas quem criou o ditado se esqueceu de que existem pessoas egocêntricas, orgulhosas, opressoras e egoístas e tóxicas que só conseguem se relacionar com o outro, enquanto o outro for cativo às suas vontades; enquanto o outro não lhe questiona; não lhe afronta com um ‘não’ incisivo.
Certamente que há momentos e, momentos: e não devemos ser inflexíveis ao classificar um tratamento ríspido esporádico de um tratamento abusivo rotineiro. Pois existem momentos de raiva e de explosões verbais, onde o que sai da boca não é verdadeiramente o que está no íntimo de nossos corações, não são palavras que orgulhamos em dizê-las, mas que foram ditas e não se pode desdizer; há momentos de tristeza em que refletimos nossas vulnerabilidades e as vulnerabilidades da relação e por fim ao falarmos de nossas angustias, podemos, sem querer, ofender o outro; há momentos de euforia que podem nos fazer prometer muitas coisas que não temos condições de cumpri-las depois e, com isso, deixar o outro frustrado. Enfim… nossas emoções desempenham um papel importante naquilo que expressamos e como tratamos o outro.
Todavia, lembre-se: a repetição faz marcas até nas pedras. E se um comportamento ruim é recorrente, é claro, vai adoecer física, mental e emocionalmente quem o recebe. Se o tratamento mais recorrente for afetuoso, justo, amável e lhe fazer, na maioria do tempo, sentir-se bem consigo mesma, releve os momentos de impensadas palavras. Mas se a forma como você é tratada é uma rotina de humilhações, de aspereza, de distanciamento afetivo, de agressividade verbal e moral… se, na maior parte do tempo, predomina o abuso, não pergunte a pessoa por que a pessoa lhe trata assim, coisa alguma justifica um tratamento abusivo, mas a pergunta que você deve fazer é, por que você fica.
Em suma: quando você se respeita, se valoriza, se cuida…você indica aos outros a maneira como devem lhe tratar.
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