Um estudo realizado por uma equipe de especialistas em Los Angeles, nos Estados Unidos, constatou que os circuitos cerebrais que regulam as emoções surgem muito mais cedo do que se imaginava, começando a se formar antes de o bebê completar um ano. Segundo o trabalho, que teve como autor principal Wei Gao, do Hospital Cedars-Sinai, o desenvolvimento desses circuitos no segundo ano de vida prenuncia o quociente de inteligência (QI) e o controle emocional da pessoa na fase adulta. De acordo com as conclusões da pesquisa, publicada na última edição da Biological Psychiatry: Cognitive Neuroscience and Neuroimaging, seria possível reconhecer, de forma prematura, crianças em risco de apresentarem desordens comportamentais e psiquiátricas.
“Pelas lentes da ressonância magnética, o estudo mostra que os circuitos cerebrais essenciais para uma regulação emocional bem-sucedida em adultos não existem nos recém-nascidos, mas se desenvolve no primeiro e no segundo anos de vida, provendo as bases do desenvolvimento emocional”, destacou, na pesquisa, Wei Gao. Ele lembrou que os recém-nascidos contam com um outro tipo de circuito, que desaparece tão logo as conexões adultas se estabelecem.
Segundo a pesquisa, a taxa de crescimento das conexões emocionais ao longo do segundo ano de vida assinala os níveis de ansiedade que a criança pode vir a apresentar aos 4 anos. Essa evolução também pode predizer o QI da criança, determinando o desenvolvimento do controle emocional na idade adulta e também a cognição.
“Esse estudo revela o rápido avanço que estamos testemunhando no uso de imagens funcionais do cérebro para entender o desenvolvimento das conexões cerebrais na primeira infância”, escreveu Cameron Carter, editor da Biological Psychiatry. Na avaliação de Carter, os resultados chamam a atenção para “a importância de se compreender o desenvolvimento das trajetórias das funções cerebrais para prever as diferenças de funcionamento emocional dos indivíduos”.
A pesquisa foi realizada com base nas imagens cerebrais de 223 recém-nascidos. Os especialistas se detiveram no processamento de emoções no cérebro, a região conhecida como amígdala, e suas conexões com outras áreas do órgão relacionadas aos sentimentos. Encadeamentos considerados incomuns na amígdala estão ligados a problemas como depressão, ansiedade e esquizofrenia na fase adulta.
Para os pesquisadores, as conclusões do estudo fornecem um sinal sobre em que momento esse desenvolvimento atípico pode determinar o surgimento de problemas emocionais e cognitivos na vida adulta.
“As descobertas sugerem que pode ser possível, no futuro, identificar as crianças em maior risco de apresentar dificuldades comportamentais associadas com desordens psiquiátricas na primeira infância, permitindo uma intervenção precoce para reduzir o risco do surgimento de problemas”, enfatizou John gilmore, coautor do trabalho.
“Esse estudo revela o rápido avanço que estamos testemunhando no uso de imagens funcionais do cérebro para entender o desenvolvimento das conexões cerebrais na primeira infância”
Cameron Carter, editor da Biological Psychiatry: Cognitive Neuroscience and Neuroimaging, Via Saúde Plena – Uai
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