Há algum tempo, eu, minha irmã e nossas duas primas mais próximas criamos o hábito de promover o que chamamos de “almoço das prima”. Isso nada mais é do que uma desculpa para nos encontrarmos fora da barulheira das festas de família e termos a oportunidade de realmente colocar as conversas em dia. Ontem foi um desses dias. Nos encontramos num restaurante aqui perto de casa, almoçamos, desabafamos, rimos, conversamos, fomos juntas ao shopping ajudar minha irmã na difícil tarefa de comprar “brusinhas” (sim, nós só chamamos blusa de ‘brusinha”), voltamos para a casa, tomamos um chá da tarde e tivemos um dia tão gostoso e agradável que eu fiquei pensando no quão única e especial é essa relação que a gente tem com os primos.
A verdade é que primos são um híbrido de amigo e família e é justamente isso que os torna tão incríveis. Com primos a gente não precisa ter filtros. Primos são amigos com quem temos uma intimidade que é implícita. É consanguíneo.
Mesmo com os primos distantes parece que a parceria acontece no exato momento daquele encontro esporádico num batizado, formatura, velório ou casamento da família. Com primos, por mais que eles morem longe, parece que sempre há um bom bocado de empatia. Primos têm tanto em comum com a nossa história que não importa que você passe anos sem vê-los. Fica impossível não se sentir bem ao lado deles quando você comenta que se divertia com a gagueira do vovô e eles riem porque sabem exatamente o que você está dizendo.
Primos são amigos de infância com quem dividimos as festas, as viagens, os natais, as bagunças e os barracos de família. Primos lembram daquela chuva do natal de 2002. Primos lembram de quando o tio Aldo se vestiu de Papai Noel. Primos conhecem as manias da vovó, o pavê da tia Denise e as piadas sem graça do novo namorado da tia Gina.
Com os primos você ri das suas brigas de infância. Ri das correntes que enviam no grupo da família. Ri daquela amiga da vovó que entrou recentemente no Facebook e ao invés de curtir as coisas, só compartilha.
Com primos você se sente à vontade até para reclamar da sua própria família. Eles conhecem os defeitos do seu pai e da sua mãe e vão entender perfeitamente quando você disser que está meio de saco cheio daquela tia hipocondríaca. A verdade é que com primos, querendo ou não, você também divide experiências ruins. Primos conhecem seus dramas mais íntimos porque afinal esses também são dramas deles. Primos também conhecem o pior de nossas vidas porque há certas coisas que a gente consegue esconder de todo o mundo, menos da família.
Primos são especiais porque não são simplesmente parentes. Primos são parceiros de vida. Primos são amigos que deram essa sorte danada de nascer na mesma família.
Texto de Eduarda Costa – publicado originalmente EºH