“Todos nós crescemos ouvindo: ‘case-se e você não se sentirá sozinho’. Mas eu nunca achei que essa seria a minha história”, diz, em uma palestra recente do TedX, a pesquisadora americana Bella DePaulo, 63, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. Como solteira convicta, ela se dedicou a estudar a felicidade nesse grupo de pessoas.
Para DePaulo, “as preocupações com as dificuldades da solidão podem ofuscar os benefícios de ser solitário”. Em 2016, a pesquisadora fez um levantamento de estudos que evidenciassem essas vantagens, e encontrou indícios de que:
“Costumamos escutar que ‘solteiros não têm ninguém’, mas o fato é que muitas vezes eles têm mais amigos e se esforçam mais para manter elos com pais, irmãos e sua comunidade”, diz ela. “Enquanto isso, casados tendem a ser mais insulares.”
Esse dado vem de um estudo de 2015 nos EUA, que avaliou levantamentos censitários para entender os laços entre parentes, vizinhos e amigos adultos americanos.
Os pesquisadores, em artigo publicado no Journal of Social and Personal Relationships, dizem que “solteiros têm mais tendência a manter contato e receber ajuda de pais, irmãos, vizinhos e amigos do que os casados. Essas diferenças são mais proeminentes para os que nunca se casaram do que os que haviam sido casados”.
O que importa para a saúde, segundo DePaulo, é ter pessoas com as quais você possa se abrir, mais do que ter ou não um cônjuge.
DePaulo argumenta que não é apenas o amor bilateral que nos traz sentimento de plenitude, mas também “autonomia, propósito e (a sensação de) estar no comando de nossas vidas”.
“Solteiros perseguem o que importa mais para eles, (como) trabalhos mais significativos e mais crescimento pessoal”, argumenta. E, com mais autossuficiência, essas pessoas tinham menos chance de experimentar sentimentos negativos.
Ela cita um estudo publicado no Journal of Family Issues que conclui que “ainda que o casamento continue a promover bem-estar para tanto homens quanto mulheres, em alguns casos – como autonomia e crescimento pessoal – os solteiros se saíram melhor do que os casados”.
Esses solteiros ouvidos pelo estudo tendiam a concordar mais com as frases “Para mim, a vida tem sido um processo contínuo de aprendizado, mudanças e crescimento” e “Acho importante ter novas experiências que desafiem como você vê a si mesmo e ao mundo”.
Um estudo posterior ao levantamento de DePaulo também colocou em xeque a ideia de que a saúde dos casados é sempre melhor. Publicada em março de 2017 na revista Social Forces, da Oxford University Press, a pesquisa de Matthijs Kalmijn, da Universidade de Amsterdã, usou dados coletados na Suíça ao longo de 16 anos e “lança dúvidas sobre a teoria de proteção de saúde” que beneficiaria pessoas casadas.
O pesquisador questionava anualmente os participantes quanto a sua saúde. E não encontrou melhoras ao longo da vida dos casados – ressaltando que são necessários mais estudos para avançar no tema.
“As evidências sugerem que o casamento tem mais a ver com a saúde mental do que física”, escreve Kalmijn. “Especulamos que o casamento seja mais ligado a uma avaliação positiva da vida da pessoa do que a uma melhora em sua saúde”.
Vale lembrar, porém, que há extensa documentação científica sobre os efeitos favoráveis proporcionados por casamentos felizes, desde mais estabilidade econômica até o apoio mútuo cultivado entre o casal. Para DePaulo, ressaltar os benefícios da vida de solteiro não significa desprezar os do casamento – significa “buscar o estilo de vida que melhor funcione para cada pessoa”.
“O que importa não é fazer o que as outras pessoas acham que devemos fazer, mas sim buscar os espaços em que podemos ser o que realmente somos e nos permitir viver o melhor de nossas vidas”, argumentou ela em uma apresentação de 2016 para Associação Americana de Psicologia.
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