Psicologia e Comportamento

Para esses nossos dias de intemperança

Ando cansada de monólogos disfarçados de diálogo. Poucos são aqueles que estão atentos ao que é dito e menos ainda, raríssimos, os que enxergam as entrelinhas. Falar tem sido um exercício vazio.

O imediatismo desse nosso tempo tem trazido intemperança às almas. As pessoas se julgam no direito de se fazerem ouvir de pronto,  de serem acatadas de imediato, de que seus egos sejam servidos com precisão. Suas verdades são sempre absolutas  e o outro deve ouvir sem esboçar qualquer divergência. Pouco importa se quem diverge o faz com humildade e de modo embasado e racional, será sempre havido como “o pretencioso arrogante que discorda de tudo”.

Infelizes humanos que nada aprenderam com Manoel de Barros, poeta que investigava a eternidade dos caramujos e que percebeu que as suas verdades (pasmem!) podem não ser verdades.

Essa pressa faz com que se torne dispensável mensurar a grandeza do outro, apreciar seus argumentos, ponderar sobre o tom da sua voz, perquirir o seu intelecto, tentar ver  a sua essência. Afinal, o outro se tornou  um mero espelho para que se possa nele fazer refletir a minha excessiva vaidade. Uma abóboda vazia e fria onde farei ecoar a voz  da minha a minha eterna sabedoria.

Se não reconhecemos a importância do outro, por que alguém haveria de desperdiçar o seu tempo com o diálogo? Afinal, ele (o diálogo) é a face visível da empatia, onde há trocas de perspectivas, de sentimentos, de sonho.

Aqueles que sabem ouvir silenciam-se na esperança do diálogo, mas ele não vem. Não há interesse nas trocas. E os ouvintes, seres às vias da extinção, suspiram na certeza de que muitos falam e nada dizem.

Estou sempre aberta ao verdadeiro diálogo, mas, se é para falar sozinha, os meus silêncios me bastam. E eles são muitos.

Portal Raízes

As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

Recent Posts

“Nós não somos. Estamos sendo. Pare de querer ser uma rocha. Aceite que você é um rio” – Alejandro Jodorowsky

Alejandro Jodorowsky é um artista chileno conhecido por sua vasta obra como cineasta, escritor, poeta,…

2 horas ago

O investimento que se faz hoje na formação e saúde dos professores se converterá em qualidade no futuro das crianças.

“É necessário maior atenção por parte do Ministério da Educação (MEC) na carga horário dos…

1 dia ago

5 Práticas Simples de Organização e Limpeza para Pessoas Desorganizadas

Manter um ambiente limpo e organizado vai além da estética: essa prática também traz impactos…

4 dias ago

A falta de respeito pela psicologia e a banalização da saúde mental

Você sabe em que consiste o trabalho de um psicólogo? Você acredita que ter uma…

4 dias ago

Dicas para apostas responsáveis

As apostas esportivas, quando realizadas de maneira controlada e consciente, podem ser uma atividade recreativa…

1 semana ago

Hiperconectividade Infantojuvenil e o Aumento dos Transtornos Mentais: Reflexões sobre o livro Geração Ansiosa

Jonathan Haidt, renomado psicólogo social, em seu livro: "Geração Ansiosa - Como a Infância Hiperconectada…

2 semanas ago