Não há desenvolvimento pessoal sem mudanças. Em alguns casos é uma mudança rápida, profunda e radical. Em outros casos ocorre uma transformação lenta, gradual e restrita. O fato é que para crescer e atingir determinados objetivos é imprescindível mudar.
No entanto, apesar de estarmos conscientes da importância da mudança, muitas vezes nós resistimos. Em alguns casos, inclusive, desenvolvemos um pensamento mágico. E pensamos que determinados objetivos vão se materializar diante de nossos olhos como que por encanto. Obviamente que as coisas não acontecem assim. A realidade não funciona com essa certeza absoluta.
Por isso Willian Shakespeare escreveu na peça Henrique IV, “Or sink or swin”, “ou afunda ou nada”.
Somente quando decidimos mudar e assumir essa responsabilidade, as coisas começam a tomar outra direção. Este é o primeiro passo mas não é suficiente. Muitas pessoas se comprometem de dentro para fora, fazem uma declaração de intenções e logo se esquecem do assunto. No entanto, para mudar de verdade é necessário adicionar outras variáveis na equação e passar por uma série de etapas.
O ciclo emocional da mudança
Quem é mais e quem é menos. Todos têm uma ideia das coisas que precisam mudar. Alguns querem deixar de fumar, outros perder peso, iniciar uma atividade física, se estressar menos, ser mais carismático…
No entanto, normalmente nos esquecemos de um detalhe fundamental: todo processo de mudança começa pelo caminho da transformação. Se não formos pelo caminho da mudança, corremos o risco de voltar ao ponto de partida.
Neste sentido, na década de 1970, os pesquisadores dos Estados Unidos Don Kelley e Daryl Conner perceberam que muitas pessoas que enfrentaram um processo de mudança passaram pelo seu problema depois de uma série de fases, cada uma diferente e marcada por estados emocionais. Assim descobriram “o ciclo emocional da mudança”.
São cinco etapas:
Etapa 1 – Otimismo injustificado
Esta é uma fase em que ficamos esperançosos. Temos muita esperança com o novo projeto e a nova meta nos entusiasma. Durante esta fase acreditamos que praticamente somos invencíveis. Estamos dispostos a engolir o mundo se for preciso. Pensamos que nada, absolutamente nada, pode nos deter. Óbvio, é uma sensação enganosa, uma espécie de otimismo tóxico que pode nos levar a cometer diferentes erros e tomar decisões precipitadas.
Entretanto, não é necessário nos alarmar por esta fase em que estamos cheios de energia e altamente motivados. É comum que esta fase não dure por muito tempo. Ainda assim é uma etapa essencial para concretizar o projeto. É o momento de canalizar toda a energia para firmar as bases sólidas que nos permitam seguir adiante quando as forças diminuírem.
Etapa 2 – Pessimismo justificado
Depois de alguns dias ou semanas percebemos que é inútil continuar desprendendo esse nível de energia. Como se isso não bastasse, nosso projeto colide com o muro que chamamos “realidade”. Neste momento, as dificuldades que começamos a encontrar pelo caminho geram frustração e como os resultados demorar a chegar, também nos sentimos desmotivados.
Normalmente nesta fase nos invadem as dúvidas. Perguntamo-nos se devemos continuar, se realmente alcançaremos a meta, se não nos enganamos ou se é correto continuar por esse caminho. Esta mentalidade negativa faz com que entremos no que poderíamos denominar de “O vale da desespero”, que é o fim da mudança.
Este é um ponto da motivação inicial que não deixa nenhum vestígio. A força de vontade é uma recordação distante, e o entusiasmo é uma palavra que perdeu o sentido. Diante de nós vemos somente um deserto árido. Por isso a maioria das pessoas desiste.
No entanto, a solução não é ‘jogar a toalha’. É perfeitamente compreensível que mudemos o rumo se no dermos conta de que embarcamos num projeto inviável. O problema dessas pessoas é que elas oscilam durante toda a sua vida de uma etapa de exaltação causada por uma nova meta e, depois, vem a depressão e frustração por não alcançar o objetivo. As pessoas que abandonam as seus projetos na etapa do pessimismo justificado vivem numa montanha russa emocional marcada pelos fracassos.
Etapa 3 – Realismo motivador
Uma vez que o “vale do desespero” é superado pela força de vontade, se instala o mecanismo de realismo motivador recorrendo, principalmente, à força de vontade. E se instaura a estrutura do realismo motivador. Na prática, esta é uma etapa em que aprendemos a nos concentrar no trabalho duro, mas sem nos desmotivar e, sobretudo, encontrando um ritmo de trabalho que não seja desgastante.
Na fase anterior somente víamos a escada que deveríamos subir, mas nesta fase aprendemos a nos concentrar em subir cada degrau. Nela planejamos como crescer e quando alcançado o resultado, é natural que nos sintamos satisfeitos.
Isto significa que atravessamos uma etapa marcada por pequenas conquistas. É precisamente esse tipo de trabalho que é necessário para alcançar uma grande meta e dele quase mínguem fala nada. Nesta fase é fundamental manter uma atitude pragmática e se concentrar nas tarefas e bendizer cada passo, ainda que seja pequeno.
Basicamente se trata de uma fase em que nem vimos o final. Mas recuperamos a confiança em nossas capacidades e, aos poucos, começamos a ter pequenos resultados que nos mantém motivados.
Etapa 4 – Otimismo justificado
Quando estamos focados nas tarefas cotidianas durante um período de tempo, normalmente uns 90 dias, que é o lapso que se necessita para consolidar um hábito, entramos numa fase emocional muito positiva que podemos chamar de otimismo justificado.
Nesta etapa finalmente nos damos conta de que tudo flui como deveria. As dúvidas foram diluídas porque aumentou a confiança em nossas capacidades. Por outro lado, nesta fase, conhecemos os obstáculos que podem surgir e saberemos como superá-los.
Mesmo que não tenhamos atingido a meta, já podemos ver alguns resultados e estes nos enchem de satisfação e otimismo. Esta fase é muito útil para ajudar outras pessoas que buscam seus objetivos e se encontram na primeira fase da caminhada. Ajudar aos outros cimentará sua própria mudança e se dará conta do quão duro você teve que trabalhar para chegar a este ponto.
Etapa 5 – Conclusão
Esta é a fase final. E finalmente podemos comemorar porque fizemos a mudança que queríamos. Entretanto é curioso que em muitos casos, depois de um árduo período de dedicação e sacrifício, muitas pessoas não sentem a alegria que eles pensavam sentir e, em vez dessa sensação, experimentam uma profunda sensação de vazio.
Esse efeito de vazio vem do cansaço pelo esforço realizado ou por haver concentrado todas as suas forças num só objetivo. E, agora, de repente, uma vez alcançada a meta, se sente de certa forma desorientado.
No entanto, é importante que o seu cérebro compreenda que fez algo genial e que merece ser premiado pelo que fez. Não permita que essa sensação de vazio oculte o que conseguiu. É provável que em breve tenha um novo projeto nas mãos. Enquanto isso relaxe, descanse e desfrute o que já alcançou.
Lembre-se: concluir um círculo virtuoso é a recompensa para que ele sirva como inspiração para futuras mudanças ou para atingir metas mais ambiciosas.
Da pesquisa Don Kelley e Daryl Conner – Tradução e adaptação: Portal Raízes