Nossa própria fantasia de onipotência é o que nos faz raramente pensar na velhice. Reconhecemos que existem pessoas idosas, que outras estão envelhecendo, mas nos surpreendemos ao constatar que também nós caminhamos para a velhice. É como se, ao negar nossa própria decadência, negássemos nossa finitude e contingência.
Não seria saudável para o idoso, viver de costas para a morte, mas ele também não deve transformá-la numa referência de sua vida. Uma atitude que foca no presente, sem distorcer a realidade, pode ser uma boa maneira para curtir a velhice. A longa experiência de vida do idoso proporcionou-lhe uma visão ampla da vida, e esta visão o leva a ser mais generoso e solidário. Certamente, a pessoa idosa que soube assimilar o declínio típico da velhice, saberá descobrir os aspectos positivos de todas as fases de sua existência, desde que ela tenha se preparado para isso.
Duas datas importantes e consecutivas no calendário, o Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, e o Dia Internacional do Idoso, comemorado em 1º de outubro, oportunizam a reflexão sobre a situação do idoso na sociedade e o crescente índice de antecipação do fim da vida nessa população.
Uma pesquisa holandesa aponta uma relação entre o sentimento de solidão e o desenvolvimento de depressão grave, doenças degenerativas no cérebro, como o mal de Alzheimer e até o desejo e/ou a prática do suicídio.
No relatório “Suicide worldwide in 2019” afirma que todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que com HIV, malária ou câncer de mama, ou guerras e homicídios. Cerca de 700 mil por ano em todo mundo. No Brasil, segundo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgados em 2021, apontam para a alta taxa de suicídio entre idosos com mais de 70 anos.
O comportamento suicida é resultado da interação de diversos fatores e que por vezes os idosos manifestam a intenção suicida, de forma indireta, por meio de verbalizações: “estão todos bem e não precisam mais de mim”; “não quero incomodar ninguém, já vivi demais”; “meu último compromisso era ver meu filho encaminhado”, “estou cansado de viver”. A comunicação verbal pode estar acompanhada de mudanças repentinas de comportamento, como desinteresse por atividades antes consideradas prazerosas, descuido com a alimentação, medicamentos e aparência, desejo súbito de distribuir pertences, bens, patrimônio e herança.
Esses sinais muitas vezes são uma forma de despedida silenciosa da vida e não devem ser negligenciados por familiares, amigos e profissionais de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que para cada suicídio consumado há cerca de vinte pessoas que o tentam. Entre idosos, a razão entre tentativas e suicídios efetivados chega a ser de aproximadamente dois para um. Isso demonstra que os mais velhos são menos ambivalentes em relação a morte, ou seja, tem menos dúvidas em relação à antecipação do fim.
Depressão (não diagnosticada e por isso não tratada); perda de pessoas significativas e referências sociais; Vivência diária com a solidão, acompanhada de dificuldades materiais; Doenças crônicas e degenerativas (perda de autonomia); Receio de ser um estorvo para a família; Conflitos familiares, situações de violência, etc.
Conectividade social e participação na vida comunitária; suporte emocional por parte de familiares; Espiritualidade/fé; Acesso à saúde integral; Acolhimento (escuta) dos parentes, dos amigos, da comunidade em geral; Ressignificação de projetos pessoais com o apoio de um profissional especializado em saúde mental na velhice.
Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família; Postos e Centros de Saúde); UPA 24H, Samu 192; Centros de Apoio Psicossocial (Caps) – De acordo com dados do Ministério da Saúde, onde existe esse serviço o risco de suicídio reduz em até 14% e o CVV – Centro de Valorização da Vida – 188 (ligação gratuita, 24 horas por dia, em todo território nacional).
Uma pesquisa holandesa aponta uma relação entre o sentimento de solidão e o desenvolvimento de depressão grave, doenças degenerativas no cérebro, como o mal de Alzheimer e até o desejo e/ou a prática do suicídio. A relação, segundo os autores, diz respeito ao sentimento de solidão, e não ao fato de estar sozinho por si só. Eles acreditam que a solidão seja um fator que cause à perda de memória e de raciocínio, mas não descartam que o caminho seja o contrário – ou seja, que a redução na capacidade do cérebro leve a pessoa a se retirar.
A equipe de Tjalling Jan Holwerda, da Universidade VU, de Amsterdã, acompanhou mais de 2 mil idosos ao longo de três anos. No início do estudo, esses idosos não tinham nenhum sinal de demência e responderam sobre seu nível de solidão – se viviam sozinhos, se já tinham sido casados e se sentiam solitários.
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