Não adianta mandar textos e vídeos motivacionais, nem mesmo orações. O enlutado não verá os vídeos, não lerá os textos e nem fará as orações. O luto pode consumir todas as reservas de força, esperança e superação. Por isso, estar presente e oferecer amor e bondade é tudo o que importa. A não visitação de pessoas próximas, foi uma das coisas que eu mais senti falta nos dois processos de luto que vivi nos últimos 8 anos em que perdi meu filho e o meu esposo, o primeiro para o autoextermínio, o segundo para o câncer no pâncreas.
Nesta quinta-feira, 04 de outubro, assistindo uma entrevista com a especialista em luto, Maria Helena Franco, na 2ª Semana da Saúde Mental VivaBem, ela afirmou sobre o quanto é importante ajudar pessoas que passam pelo luto sem fazer julgamento e sugestões. Ela disse: “a primeira atitude é estar junto e não ficar dizendo ‘faça isso ou faça aquilo’. É importante mostrar para a pessoa enlutada que você está com ela, estando ali com ela. Precisa ouvi-la sem fazer julgamento e sem dar sugestão, pois o enlutado não quer sugestões, muito menos julgamentos. O que ele precisa é de alguém que esteja ali de verdade, que de fato seja uma presença em seu terrível momento de dor”.
Diante dessas assertivas da psicóloga, e baseada em minha própria experiência com a finitude de quem amamos, eu elaborei uma síntese de como ajudar uma pessoa a superar o luto. Caso você esteja preocupado em como ajudar um ente querido que está passando por uma perda terrível, aqui estão minhas sugestões:
Faça um esforço amoroso para estar presencialmente com a pessoa enlutada, mesmo que seja para tomar um café juntos. Você pode se surpreender com o quanto essa atitude pode significar para quem está sofrendo muitíssimo da perda de alguém. Não espere que a pessoa diga: venha me visitar ou que responda que não gostaria de ficar sozinha. Mande uma mensagem dizendo que está chegando e que está levando uma refeição. Fique com ela por algumas horas, ajude nos afazeres da casa. Ouça sem julgamentos, deixe-a falar exaustivamente sobre o que ela quiser, deixe-a chorar, gritar, xingar, reclamar… deixe-a livre para se expressar como o seu coração deseja naquele momento.
Enquanto o enlutado navega pelas muitas emoções difíceis que o luto pode trazer, é importante ter uma compreensão das fases luto . As pessoas que estão enlutadas geralmente passam por cinco fases: negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. Os sintomas adicionais podem incluir problemas físicos , como problemas digestivos, distúrbios do sono e fadiga, entre outros. À medida que você aprende sobre o processo de luto, ficará mais claro como você pode apoiar seu amigo de maneiras significativas.
Quando você está na presença de um enlutado, geralmente é difícil saber o que dizer. Sua tendência natural pode ser tentar fazê-lo se sentir melhor, mas em uma situação como a de luto, nenhuma conversa vai ajudar. Preste atenção à quantidade de conversa que você está fazendo em comparação ao quanto você está ouvindo. O enlutado se beneficiará mais se ao invés de ouvir você falar sobre a pessoa falecida e o que ela deve fazer para superar, ela se sentir confortável com você para falar sobre como está ou não se sentindo, liberdade para falar do ente falecido, seja como desejar falar. Ouça o que o enlutado diz e expresse apenas compaixão por ele.
Um dos aspectos mais importantes do processo de luto é a capacidade de expressar profunda tristeza e se permitir chorar, pois logo aparece alguém para dizer: ‘não fique assim, fulano não iria gostar de te ver chorando assim’. Deixar o enlutado chorar demonstra que você entende que chorar é uma parte importante do processo de luto. E que é melhor chorar quando há alguém por perto em quem possa se amparar, do que desesperadamente sozinha. Pode ser tentador tentar animar o enlutado ou lhe dizer para não chorar, mas lembre-se de que o choro é uma parte importante do luto e da cura. Frequentemente, quando as pessoas são desencorajadas a chorar, isso é um reflexo do desconforto que os outros sentem por testemunharem tanta dor. Pense nas lágrimas como uma parte necessária da jornada de cura.
É normal que as pessoas hesitem em fazer perguntas a um enlutado, por medo de incomodá-lo ou de dizer algo errado. Não tenha medo de fazer perguntas, pois isso permite que seu amigo fale abertamente sobre a pessoa amada. Se você não tiver certeza do que perguntar, verifique, por exemplo, como está o autocuidado do enlutado: como está dormindo e se está recebendo o suficiente para comer. Aventure-se em saber como ele está se sentindo emocionalmente e ouça com compaixão e cuidado. Lembre-se de que você não precisa consertar nada – não há nada que você possa fazer para que a dor do enlutado desapareça – mas a sua presença e compaixão podem fazer toda a diferença. Jamais nos esqueceremos daqueles que nos piores momentos de nossas vidas, nos fizeram uma visita e nos escutaram com compaixão e sem julgamentos.
O luto às vezes pode fazer com que você negligencie suas próprias necessidades básicas. Oferecer ajuda prática pode ser um salva-vidas quando seu amigo está lutando para lidar com as tarefas da vida enquanto está de luto. Você pode ficar surpreso com o quão benéficas essas tarefas práticas podem ser:
O luto introduz uma variedade de emoções fortes e, às vezes, tudo que uma pessoa enlutada precisa é de alguém se sente ao seu lado em silêncio, para que ela possa vivenciar um instante de paz. Pode ser difícil ficar sentado em silêncio, principalmente quando você sabe que o enlutado está lutando contra uma dor emocional. Resista ao impulso de preencher o silêncio com algo que certamente não será mais precioso do que a paz de espirito que o silêncio oferece. Sua presença é o suficiente. Ao se colocar á disposição do enlutado só para estar ao seu lado em silêncio, você oferece a ele algo inestimável: o seu tempo. E isso, jamais será esquecido.
Aniversários de experiências de luto podem ser lembretes dolorosos por muitos anos. Tente ter em mente que a data da perda, bem como feriados e aniversários, podem ser o gatilho para sintomas de luto. Estenda a mão para que seu amigo saiba que você está pensando nele. Depois de uma perda, as pessoas costumam ter boas intenções de manter contato, mas ficam ocupadas com a vida e não vão até o fim. Contatar o enlutado em aniversários e feriados pode ajudar a reduzir a sensação de solidão, lhe permite saber que o seu bem-estar é importante para alguém.
Assim como as dicas úteis para apoiar o enlutado, também existem vários lembretes sobre comportamentos a serem evitados. É fácil cair em comportamentos inúteis, mesmo quando você tem a melhor das intenções. Então, o que não fazer quando se está convivendo com alguém enlutado?
Às vezes, as pessoas têm a ideia errônea de que falar sobre o ente querido falecido pode perturbar o enlutado. A maioria das pessoas enlutadas quer falar e pensar sobre seu ente querido que já faleceu e, ao fazer isso, ajuda a facilitar o processo de cura.
Faça perguntas sobre o ente querido perdido, como quais eram seus hobbies? Pergunte sobre as memórias que seu amigo guarda. Pode ser que você seja uma das poucas pessoas com quem seu amigo se sente à vontade para falar sobre sua perda. Incentive a conversa e as lembranças sobre o falecido e apenas escute.
O luto não é um problema a ser resolvido. Seu amigo enlutado só precisa de seu amoroso apoio e presença. Tentar fazer ou dizer algo para consertar a situação só vai deixar você e seu amigo se sentindo mais impotentes. Lembre-se de que o luto não pode ser remediado por nada além de tempo, apoio e compaixão. Se o seu amigo achar que você está tentando consertá-los ou aos sentimentos deles, ele pode começar a se ver como um problema, o que pode reduzir o seu conforto em confiar em você e expressar seus sentimentos abertamente.
Reconhecer o luto é uma das maneiras mais básicas e poderosas de mostrar seu apoio. As pessoas podem, sem querer, diminuir a dor de um ente querido dizendo: “Você vai superar isso logo” e “Você vai ficar bem”. A melhor maneira de honrar os verdadeiros sentimentos e experiências de luto de alguém é perguntar como ela se sente e simplesmente ouvir. Tentar diminuir a dor de alguém, minimizando-a, só faz com que se sinta desconectado.
Para se identificar com a dor deles e oferecer apoio, você pode se sentir tentado a fazer comparações sobre suas perdas. No entanto, fazer isso é desnecessário e muitas vezes pode levar à frustração e raiva da pessoa que está sofrendo. Embora possa ser verdade que você também sofreu perdas, use de discrição ao comentar sua experiência. Somente compartilhe e faça comparações se a perda for muito semelhante à de seu amigo. Fazer comparações inadequadas sobre o luto pode fazer com que seu amigo sinta sua dor minimizada.
Evite dizer ao seu amigo enlutado que ele parece cansado, deprimido ou triste. Mesmo os comentários que são elogiosos podem fazer seu amigo se sentir como se estivesse sendo julgado. Em vez disso, ofereça seu apoio e pergunte como você pode ajudar.
Pode ser estimulante compartilhar suas crenças religiosas ou espirituais com o enlutado, como um meio de ajudá-lo a se sentir melhor. Mesmo que você queira que seu amigo sinta paz e conforto, resista ao impulso de falar sobre sua fé com ele. Se seu amigo fizer perguntas sobre suas crenças, compartilhe abertamente, mas sem insistir no assunto.
O senso-comum deve estar no topo da lista de coisas para evitar dizer a alguém que está enlutado. Frases como “Eles estão melhor agora” e “Ela não gostaria que você ficasse triste”, devem ser proibidas de todas as conversas com pessoas enlutadas. Essas declarações comuns certamente são feitas com boas intenções, mas apenas aplacam e minimizam os sentimentos da pessoa que está sofrendo.
A melhor coisa que você pode oferecer a um enlutado é um abraço, um ouvido atento e uma presença compassiva. Nenhuma combinação de palavras fará com que a dor do enlutado vá embora. Não se preocupe em dizer a coisa certa porque, honestamente, não há nada certo a dizer. O luto pode consumir tudo. Apenas estar presente e oferecer amor e bondade é tudo o que importa.
Observação sobre a escolha da foto de capa: A imagem da atriz Glória Menezes na capa do artigo é uma homenagem ás mais de 600 mil famílias enlutadas por causa da Covid-19.
Texto organizado por Clara Dawn, escritora, neuropesquisadora, psicanalista especialista em prevenção e pósvenção ao suicídio. Clara Dawn é fundadora do Portal Raízes e do IPAM – Instituto de Pesquisas Arthur Miranda. As informações contidas neste artigo são apenas para fins informativos. Se você gostou do texto, curta, compartilhe com os amigos, e não se esqueça de comentar. Pois isto contribui para que continuemos trazendo conteúdos incríveis para você. Siga o Portal Raízes também no Facebook, Youtube e Instagram.
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