A fenomenologia consiste em estudar a essência das coisas e como elas são percebidas no mundo, a partir da observação de um conjunto de fenômenos e como eles se manifestam, seja através do tempo ou do espaço. O pânico causado pelo Covid19 (anunciada pela Organização Mundial de Saúde, no dia 11 de março de 2020) é uma fenomenologia social.
Assim, trazemos à lume algumas reflexões com base na recente fenomenologia social ao se correr para um supermercado para abastecer a casa como se previsse tempos de grande escassez de alimento. As compras motivadas pelo pânico geram consequências negativas: desabastecimento de certos produtos e aumento dos preços.
Prateleiras vazias. Filas longas com carrinhos lotados. Nervosismo, pressa, olhares cúmplices que compartilham a mesma inquietude: o medo de ficar sem recursos, sem alimentos, sem papel higiênico… As compras nervosas devido ao coronavírus estão se tornando um fenômeno cada vez mais comum que nos surpreende e intensifica a sensação de pânico
Steven Taylor, autor do livro The Psychology of Pandemics (A Psicologia de Pandemias, em tradução livre), lançado três semanas antes do início do surto do coronavírus na China, diz que compras motivadas pelo pânico aconteceram em outras pandemias também, mas foram pouco documentadas.
Segundo ele, durante a Gripe Espanhola, em 1918, as pessoas esvaziaram prateleiras de Vick Vaporub, nome comercial da pomada criada para desobstruir as vias aéreas durante gripes e resfriados. A empresa produtora da pomada até fez uma série de propagandas especiais relacionadas à pandemia.
Dessa vez, além do álcool em gel, as fotos que viralizam são de pessoas estocando papel higiênico. Taylor tem uma teoria: “O papel higiênico virou um símbolo de segurança, embora não vá impedir que as pessoas sejam infectadas pelo vírus. Mas quando as pessoas ficam sensíveis a infecções, aumenta a sensibilidade delas para o que é nojento. É um mecanismo para nos proteger de patógenos”.
Para ele, o papel higiênico é visto, então, como um instrumento para evitar coisas nojentas e vira um símbolo de segurança. Ele observa que as pessoas fazendo compras motivadas pelo pânico são geralmente ansiosas. E que essa pandemia é uma pandemia das redes sociais.
“A diferença fundamental dessa pandemia para outras são as redes sociais e nossa interconexão. As pessoas são expostas a vários materiais, inclusive fotos e textos dramáticos. É uma ‘infodemia'”, afirma. E o que viraliza são as imagens de corredores e prateleiras vazios, não de pessoas fazendo compras normalmente, como é a maioria dos casos.
E por causa da conexão entre as pessoas pelo mundo inteiro, se houver qualquer orientação oficial para que a população estoque produtos em um país, essa informação pode viajar para outros locais e estimular as compras mesmo onde não houver necessidade semelhante, inflando artificialmente a sensação de ameaça.
Para Andreas Kappes, professor da City University, em Londres, e especialista em psicologia e neurociência, o pânico não começa de imediato.
“No começo, as pessoas acham que estão de alguma forma seguras. Somos bons em negligenciar o pior e permanecer otimistas porque isso nos protege do estresse e nos mantém produtivos”, explica.
Kappes estuda como a incerteza afeta nosso comportamento e conduziu uma pesquisa em que inventou uma “gripe africana” para avaliar como as pessoas agiriam para tomar decisões que poderiam colocar a vida de outras pessoas em risco.
O pesquisador diz que, embora haja diferenças individuais, as pessoas geralmente preferem informações “desejáveis” a informações “indesejáveis”, e subestimam a probabilidade de que coisas ruins possam acontecer com elas em comparação com outras pessoas. “Podemos pensar: ‘Não é provável que eu pegue o novo coronavírus, mas as outras pessoas, sim'”.
Mas um momento de estresse rompe essa bolha otimista — no caso do novo coronavírus, pode ser o aumento do número de casos, ou sua maior proximidade, ou então o espaço de cobertura na imprensa.
Também pode ser um sentimento de empatia por alguém afetado pelo vírus. “Quando lemos uma notícia de alguém que tinha 60 anos que tinha uma família, ficou doente e morreu, podemos nos colocar no lugar da pessoa, ou imaginar que poderia ser alguém que conhecemos, da nossa família, por exemplo”, afirma. Paramos de ver os números e pensamos nas histórias por trás deles.
Kappes diz ainda que há outro sentimento que guia a corrida pelos produtos no supermercado. “Agimos de determinadas maneiras guiados por evidências sociais. Olhamos para os outros para obter informações sobre o que deveríamos ou não deveríamos fazer”, diz.
Ele cita um exemplo: a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que lavemos as mãos com mais frequência e de maneira mais precisa, mas muitas vezes só seguimos essa orientação se vemos que outras pessoas estão fazendo isso.
Portanto, se você está se perguntando se deve ser precavido, a resposta é sim, mas de maneira racional. É recomendável aumentar o seu volume de compras de um dia para o outro?
Tudo vai depender das orientações que recebermos dos especialistas. Se você vai passar mais tempo em casa por causa de uma quarentena, ou se seus filhos não vão ter aulas, evidentemente será preciso estar um pouco melhor equipado.
Para concluir, se em algum momento você notar que esta situação está tendo um impacto intenso demais e que você não está sabendo lidar com ela, não hesite em entrar em contato com profissionais especializados.
As crises devem ser enfrentadas com calma, consenso e comportamento cívico, reunindo esforços e motivações entre todos.
Fontes pesquisadas:
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