Embora existam inúmeras maneiras de abordar os problemas de comportamento de uma criança, gostaria de sugerir uma ferramenta fácil de implementar para pais que não tiveram sucesso com outros métodos.
Entre os anos de 1954 e 1959, o psicólogo americano David Premack (capa), e sua esposa e colaboradora Ann James Premack, conduziram diversas investigações sobre o condicionamento operante analisando o comportamento de macacos. Suas descobertas sugerem que comportamentos de alta frequência que ocorrem naturalmente são sentidos mais recompensadores do que comportamentos de baixa frequência que ocorrem naturalmente.
Pense na criança comum sem a intervenção dos pais, a frequência de consumo de sobremesas seria muito maior do que a frequência de consumo de vegetais. Como resultado, os pais aprenderam a dizer: “Você pode comer a sobremesa depois de comer todos os vegetais”. Sendo assim, o princípio de Premack revela a existência de uma dimensão psicológica que determina a repetição ou extinção de um comportamento.
Ainda assim, alguns pais frequentemente perdem todo o potencial do princípio Premack ao educarem um comportamento desajustado dos filhos de forma errônea. Ou eles são rápidos em implementar punições tradicionais ou oferecem recompensas se a criança obedecer. Exemplos comuns incluem:
Consequências tradicionais
- Perder eletrônicos
- Vá para o quarto
- Hora de dormir cedo
- Perder a sobremesa
Recompensas tradicionais
- Dinheiro
- Sobremesas/guloseimas
- Ficar acordado até tarde
- Brinquedo novo
Claro, essas coisas podem funcionar bem, mas surgem problemas ao colocá-las em prática. Como por exemplo, a maioria dos pais se sentem mais seguros com seus filhos levando o telefone para a escola, retirar os eletrônicos já não será algo com que eles se sintam confortáveis. A respeito dos doces e sobremesas como recompensas ou consequências, os pais ensinarão seus filhos a associar o açúcar à emoções positivas e com isso poderá provocar um padrão não adequado com os alimentos.
A clássica consequência “vá para o seu quarto” pode ser eficaz – supondo que a criança não goste de estar no quarto; mas a maioria das crianças tem brinquedos ou até videogames no quarto. Para os pais de crianças com comportamento indesejável em casa, pouca força é obtida com a implementação dessas recompensas ou consequências tradicionais.
Então, o que os pais devem fazer?
Minha sugestão é esta: tenha uma conversa franca sobre que tipo de coisas ele realmente gosta de fazer em casa. Você pode se surpreender com as respostas deles. Numa conversa que eu facilitei entre uma mãe e seu filho de 8 anos, na tentativa de identificar recompensas eficazes pelo bom comportamento do garoto, ele disse:
- Gosto de andar na bicicleta da minha irmã, mesmo ela sendo menor do que a minha, porque posso fazê-la de cavalinho.
- Gosto de pular na cama elástica sem a minha irmãzinha porque não preciso ter cuidado para não bater nela acidentalmente.
- Gosto muito de fazer biscoitos com a mamãe.
- Eu me diverti na semana passada quando meu pai me ensinou a jogar damas.
- Gosto quando você [mãe] me deixa segurar a coleira quando passeamos com o cachorro.
Embora a mãe não tenha ficado muito surpresa com o fato de o filho gostar de fazer biscoitos ou jogar damas com o pai, ela não tinha ideia de que ele gostava de tentar fazer truques de bicicleta ou se importava em segurar a coleira quando passeavam com o cachorro. Em vez de impor à criança a noção preconcebida do que é gratificante (dinheiro, doces, etc.), trabalhamos com ela para identificar os comportamentos que – se lhe fosse dada a escolha – ocorreriam com uma frequência mais elevada do que acontecia atualmente.
Com certeza, 10 minutos sozinho na cama elástica ou a oferta de segurar a coleira do cachorro enquanto eles caminhavam foram muito mais eficazes para incentivar o comportamento do que dinheiro, doces e até mesmo o tempo de videogame que ela havia experimentado anteriormente. Além disso, os pais têm a oportunidade de passar mais tempo com os filhos quando escolhem atividades relacionais, como cozinhar juntos.
Para famílias de crianças com TDAH, comunicar quais comportamentos são mais gratificantes pode ser especialmente útil. Autores fornecem o exemplo do jovem Michael Phelps (que compartilhou publicamente seu diagnóstico de TDAH) e de sua mãe, descobrindo que a natação era uma atividade desejada de alta frequência. E, apesar de ter optado por descontinuar a medicação para TDAH , ele nunca pareceu ter dificuldade em se concentrar nas atividades relacionadas à natação. Bem, não posso prometer que seu filho será um atleta olímpico vencedor da medalha de ouro, mas aposto que seu filho pode ter algumas ideias de recompensas exclusivas nas quais você ainda não pensou.
Mas e as consequências? O conselho predominante para os pais é ignorar estrategicamente o comportamento indesejável com crianças pequenas e uma estratégia organizada e consistente com crianças mais velhas. Fique tranquilo, pesquisas em psicologia cognitiva descobriram que a magnitude da recompensa aumenta linearmente com a força do reforço (recompensas mais desejadas provocam uma maior probabilidade de repetição do comportamento), mas a probabilidade de interromper um comportamento não aumenta com a magnitude da consequência.
Como resultado, os pais devem estar motivados para determinar que tipo de recompensas podem ser particularmente significativas (alta magnitude) para os seus filhos. Para as crianças mais novas, tomar apenas um gole do café da mãe pela manhã pode ser um verdadeiro prazer! Reservar um tempo para observar os comportamentos de alta frequência desejados e únicos de uma criança pode aumentar significativamente a eficácia de recompensar o comportamento que você deseja ver mais. E a atividade relacional conjunta de planejar um “menu” de recompensas pode servir para estabelecer as bases para colaboração futura e começar a desenvolver em seu filho um senso de responsabilidade por suas ações.
Texto de Daniel Flint, professor assistente no Baylor College of Medicine e psicólogo pediátrico no Texas Children’s Hospital