O Conselho Federal de Psicologia (CFP) divulgou uma nota criticando a abordagem da novela O Outro Lado do Paraíso, da TV Globo, em relação aos temas temas abuso sexual e saúde mental. “O Conselho Federal de Psicologia entende que a telenovela, por se tratar de uma obra capaz de formar opinião, presta um desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos um tema tão grave como o sofrimento psíquico de personagem cuja origem é o abuso sexual sofrido na infância”, diz a nota publicada no site do órgão.

Na trama, Laura (Bella Piero), uma jovem que sofreu abuso sexual do padrasto, Vinícius (Flávio Tolezani), quando era criança, não consegue se sentir totalmente confortável com o marido por ter ficado traumatizada. A protagonista Clara (Bianca Bin) conversou com a garota e sugeriu que ela procurasse a advogada Adriana (Julia Dalavia), que consegue acessar as memórias reprimidas de uma pessoa usando técnicas de *coaching e hipnose.

Percebe o problema? Um tema tão sério tratado com tanto descaso não poderia ter tido uma repercussão menos pior. Colocar uma advogada para tratar traumas de abuso sexual foi um tiro errado, e se não bastasse tudo isso, a cena foi uma ação de merchandising. Ou seja, uma empresa pagou para incluir o serviço de coaching na novela.

E não para por aí, Gael que espancava a mocinha Clara, sua ex-esposa, em dado momento da trama passou a ser retratado como uma pessoa com dupla personalidade ou problemas espirituais. Ele foi procurar a Mercedes, uma espécie de guru espiritual, para pedir ajuda, já que tinha sido preso por tentar estuprar a Clara. Enquanto Mercedes pedia para o demônio sair de dentro do Gael, ele interrompeu a oração para agredi-la.

Agressão contra a mulher não deveria ser tratada como um problema espiritual. Essa é só mais uma desculpa que normaliza a violência doméstica.

“São as novelas da Rede Globo que, como estratégia de elevar a audiência, frequentemente buscam embaralhar as barreiras do ficcional e do real”, continua a nota da CFP. “É consenso no Brasil de que pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da Psicologia, pois são os que tem a habilitação adequada”.

“Saudamos como positiva a manifestação de diversos grupos e escolas de coaching, que, manifestando-se sobre o ocorrido, afirmaram compreender que os transtornos mentais devem ser cuidados por profissionais da saúde mental”, continua o texto. “O CFP faz um alerta à sociedade para que não se deixe iludir. As pessoas devem buscar terapias adequadas conduzidas por profissionais habilitados para os cuidados com a saúde, particularmente a saúde mental”.

Além de tudo isso, no início de “O Outro Lado do Paraíso”, a homossexualidade do médico Samuel era um tabu até mesmo para ele, que não se assumia. Depois da cena em que Samuel foi flagrado pela esposa com o amante, enquanto usava vestido e uma calcinha dela(claro), tudo desandou. Basicamente, Walcyr Carrasco reuniu todos os estereótipos sobre gays numa tentativa de formar um núcleo cômico. De repente ser gay passou a ser motivo de chacota e escracho.

Fontes: Buzzfeed, CFP, Cláudia






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