Uma batalha sobre livros entrou em erupção recentemente nas páginas do The New York Times e Time. A ressalva inicial foi o ensaio de Gregory Currie, “A Grande Literatura Nos Torna Melhor?”, que afirma que a crença generalizada de que a leitura nos torna mais morais tem pouco apoio. Em resposta, Annie Murphy Paul ponderou sobre “Literatura de Leitura nos Torna Mais Inteligentes”. Seu argumento é que “leitura profunda”, o tipo de leitura que a literatura exige, é uma atividade cognitiva distinta que contribui para nossa empatia com os outros. Portanto, pode, de fato, nos tornar “mais inteligentes e mais agradáveis”, entre outras coisas.
Para avançar em sua tese, Paul cita estudos de Raymond Mar, psicólogo da Universidade de York, no Canadá, e Keith Oatley, professor emérito de psicologia cognitiva da Universidade de Toronto. Em conjunto, suas descobertas sugerem que aqueles “que frequentemente leem ficção parecem ser mais capazes de entender outras pessoas, simpatizar com eles e ver o mundo a partir de sua perspectiva”. É o tipo de coisa que a escritora Joyce Carol Oates está falando quando diz “A leitura é o único meio pelo qual nós escorregamos, involuntariamente, frequentemente impotentes, para a pele de outra pessoa, a voz de outra pessoa, a alma de outra pessoa”.
“Para a ciência, tem ficado cada vez mais claro o quanto aqueles que leem literatura de ficção desenvolvem o dom da empatia muito mais do que os outros
E por ‘ficção’ entende-se que vai além da científica – estamos falando de romances, mesmo, histórias inventadas, daquelas que nos transportam diretamente para a cabeça de um ser que, na verdade, não existe.
Em meados do século passado, surgiu a Teoria da Mente, descrita pela revista Science como ‘a capacidade humana de compreender que as outras pessoas têm crenças e desejos e que eles podem ser diferentes de suas próprias crenças e desejos’.
Um estudo publicado em 2013 na mesma revista descobriu, justamente, que os leitores de romances costumam se sair melhor, quando testados a respeito da Teoria da Mente. Ou seja: eles compreendem melhor o fato de que os seres humanos têm opiniões diferentes.
Em julho deste ano, outra pesquisa sobre empatia e a leitura examinou como essa relação é poderosa. Entre os participantes, alguns foram convidados a ler o conto Saffron Dreams, da autora paquistanesa Shaila Abdullah, enquanto outros só foram informados sobre como a história se desenrolava.
Depois, todos eles foram expostos a fotografias de olhares – de várias pessoas diferentes – e estimulados a supor o que cada um dos fotografados estava pensando e sentindo. Os que leram o conto viam com empatia semelhante os rostos de pessoas árabes e de pessoas brancas, mais do que os outros que não leram. Resumindo: além de ler ficção, precisamos investir nas narrativas, mesmo”. Giovana Feix
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