Psicologia e Comportamento

Não temas a tua solidão, mas sim o desprezo de quem não te correspondes

Não tenhas medo da tua ausência ou da tua “presença desértica” em meio a tua solidão, dentre o nada do cenário que se apresenta no teu ser. Outrossim, tenhas receio é do desprezo de quem “está contigo” e que na tua “presença” se faz ausência. A vida é feita de tantas contradições que tantas vezes não conseguimos administrar, tantas incongruências que outrora fazia algum sentido. Contudo, dentre tantas inquietudes, o que não convém é alimentar o que de fato não existe. Melhor deixar dar o último suspiro àquilo que não tem mais como viver de forma digna e me refiro aqui a relacionamentos amorosos não correspondidos. 

Tudo perde o sentido quando tu deixas de ser teu cúmplice para te tornares o algoz de tua própria alma, aprisionando o teu ser em quimeras descabidas, sendo necessário desconectar o teu coração de quem não reconhece teus sentimentos, do que não pode ser contigo ou do que não pode vir a ser.

Não tenhas medo da tua solicitude ou mesmo da tua solidão. Melhor uma solidão triste mas realista e bem digerida a ilusões que embalsamam (in)verdades que transbordam num cálice quebrado onde tudo já se esgotou.

Por que um dia a tristeza nua e crua que não engana e que não omite, que não se estende no que é irreal um dia dará espaço para uma felicidade plena sem os embustes que nós mesmos criamos para nos engaiolarmos, seja por acreditar demais no outro ou por alimentar expectativas infundadas. Isto chama-se armadilha, autossabotagem e embuste que criamos em prol de uma falsa felicidade pautada num outro.

Que tu tenhas coragem de abandonar o campo infértil e não retornar nunca mais. Tu tens o poder de contornar a rota e empreender novos caminhos, novas oportunidades, dentre uma que insiste em permanecer, mas que não há terreno, sequer semente para que se germine nada. Quando isto acontecer, tu deves procurar outros caminhos, pois a vida é ilimitada e próspera, não te condiciones num caminho íngreme.

Tiras o foco de quem não te tem como foco. Dê adeus definitivo às ilusões que alimentastes sem algum retorno, porque na economia da vida, a paciência não deve ser confundida com o que não merece ser investido, tampouco esperado.

Que tu tenhas o carinho que te aceita e te acolhe; que sejas a tua mão a que te afaga e que acolhe teus sentimentos antes que qualquer pessoa o faça. Qual o sentido na expectativa de ser amado por alguém a quem desejas correspondência, se esta pessoa já provou por qualquer motivo que seja que isto não é possível?

Por que tanta dificuldade em te amar, em apreciar a tua própria companhia? Tu não precisas de adendos para ser feliz. Tu não precisas de nada para ser feliz. A felicidade é algo genuíno que nasce dentro de cada um, tendo como terreno o substrato da força humana interior, da resiliência e do amor-próprio.

Não te deixes abater se não fores correspondido. Não te abandones nas mãos de quem não sabe apreciar o ser único que tu és. Não tenha medo da tua solidão, mas sim tenha medo de não ser correspondido como merece.

Em alguns momentos da vida é salutar que estejas sozinho para que reconheças o teu valor, para que renoves as nossas forças, para que acredites em um novo amanhã e depois da tua morte interior das desilusões que a vida te trouxe, enfim descobrir que a esperança, o sorriso e a felicidade genuína habitam em ti e que não necessita de alguém como condição inalienável para que sintas completude e que desfrutes desta felicidade que ninguém mais nesta vida pode oferecer, visto que esta não é proveniente de nada externo.

A vida é tua, as vivências são tuas, és tu que vai ser feliz ou sofrer pelas escolhas que fizestes e somente a ti compete a cada dia da tua vida qual estrada tomar, com quem vais te relacionar e como vai viver a tua história, seja sozinho ou acompanhado.

Talvez já tenhas compreendido que tua eterna companhia és tu mesmo e de tudo que poderá restar de qualquer relacionamento, de qualquer experiencia, tu continuarás ali, ferido, transformado, transmutado ou modificado de alguma maneira, sempre sobrevivente para novas experiencias, algumas magníficas, outras, nem tanto. No que concerne à tua vida e às tuas experiencias, tu és o ponto central, o referencial, o eterno companheiro de inúmeras jornadas, algumas que retornam e outras que se renovam e que tu precisarás estar pronto para todas elas, pois de alguma forma te enriquecerão.

Não existe ninguém certo para ti; antes de tudo, tu és a pessoa certa para ti, pois com os outros sempre existirão contratempos. Ninguém nasceu para ti, tu nasceste para ti mesmo, pois ninguém veio aqui para satisfazer tuas expectativas, mas para que juntos promovam aprendizados para ambos. Nunca esperes que alguém te assuma para que assim tu te assumas; este movimento deve partir unicamente de ti.

Por que para que sejas feliz tu precisas ser amado por uma outra pessoa, do contrário tu serás aquele que primeiro te abandonará? Não aprendas a administrar a tua própria solidão, mas sobretudo que saibas apreciar tua estadia contigo, independentemente de com quem estejas.

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Soraya Rodrigues de Aragão

Soraya Rodrigues de Aragão é psicóloga, psicotraumatologista, escritora e palestrante. Realizou seus estudos acadêmicos na Unifor e Università di Roma. Equivalência do curso de Psicologia na Itália resultando em Mestrado. Especializou-se em Psicotraumatologia pela A.R.P. de Milão. Especializanda em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde - Universidad San Jorge (Madri) e Sociedad Española de Medicina Psicosomática y Psicoterapia.   Sócia da Sociedade Italiana de Neuropsicofarmacologia e membro da Sociedade Italiana de Neuropsicologia. Autora do livro Fechamento de Ciclo e Renascimento: este é o momento de renovar a sua vida. Edições Vieira da Silva, Lisboa, 2016; e do Livro Digital: "Transtorno do Pânico: Sintomatologia, Diagnóstico, Tratamento, Prevenção e Psicoeducação. É autora do projeto "Consultoria Estratégica em Avaliação Emocional'.

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