Não se preocupe com quem a criança será no futuro, se preocupe em como ela se sente hoje. Deixe-a verbalizar todos os seus sentimentos e não julgue nenhum deles. Você saberia dizer exatamente como o seu filho está se sentindo emocionalmente hoje?
Às vezes é difícil equilibrar o que é melhor para as crianças com o que as faz felizes – mas os dois não precisam ser mutuamente exclusivos. Crianças mais felizes têm maior probabilidade de se tornarem adultos bem-sucedidos e realizados.
Desde o ventre materno experienciamos prazeres e dissabores. A angústia nasce com a vida, ensinou-nos Jacques Lacan ao postular que a partir do momento em que deixamos a segurança do ventre materno, nos deparamos com a terrível sensação de vazio existencial, na qual passaremos a vida inteira procurando meios de preenchê-la. Por conta disso faremos, tantas vezes, escolhas complicadas.
Este vazio acomete a todos, independente de sua classe social, gênero, cor… Se foi gerado com amor ou rejeitado, se teve uma infância feliz ou sofreu abusos. Dessa maneira, o que fará a diferença na vida adulta é a forma como você, na infância, precisou aprender a lidar com esse vazio existencial. Partindo desse prisma, podemos considerar que a estrutura familiar é o principal agente de nossa saúde psicossocial.
Fica evidente que uma criança que não foi rejeitada no ventre materno, que teve uma infância respaldada pela pedagogia do amor, onde recebeu orientações, disciplinas e bom exemplo, terá maior capacidade de desenvolver uma inteligência emocional capaz de lhe tornar um adulto equilibrado em termos gerais. Logo, podemos compreender que se a criança nasce e convive num ambiente hostil, terá poucas chances de aprender a lidar com suas emoções, pensamentos e sentimentos. E quando as durezas da vida lhe acontecer ela não terá inteligência psicoemocional para lidar com elas.
É importante ressaltar que independentemente das condições sociais em que se vive, o que determina quem seremos na vida adulta é a forma afetuosa em que nossas emoções, pensamentos e sentimentos são aceitos, escutados, validados, respeitados e não julgados na infância. Foi por isso que a doutora Rosalice Lopes, em sua tese de doutorado “Prisioneiras de uma mesma história – O amor materno atrás das grades” – 2004 – passou dois anos estudando e entrevistando detentas da Penitenciária Feminina de Tatuapé – São Paulo, bem como outras penitenciárias da Austrália e defendeu a importância do amor materno na “construção” de um adulto estruturado emocionalmente.
Somos seres unimultiplos e como tal devemos ser observados. E isso, por si só, já seria uma tarefa complexa, não fosse o fato de estarmos inseridos em sociedades excludentes e dotadas de paradigmas, onde as fenomenologias sociais negativas são normatizadas. Em suma, uma educação pública de qualidade, integral, inclusiva, democrática e politécnica, resolveria um sem números de problemas sociais, morais, políticos, culturais, mentais e emocionais.
Texto da escritora, neuropsicopedagoga, psicanalista e pesquisadora Clara Dawn
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