É maravilhoso ter para quem voltar no final do dia. Mas somente se esse alguém for o seu maior fã. Um fã que incentiva e contempla o seu voo. A gente recebe o amor que julga merecer. Entretanto, as pessoas nos dão o valor que a gente se dá. Entenda que é melhor viver sozinha e se sentir um sucesso ainda não encontrado, do que numa duo vivência que lhe induz a crer que você é um fracasso em termos gerais; que faz questão de demonstrar que é difícil amar você e que ao lhe dedicar amor, está lhe fazendo um favor, como se você tivesse que ser grata pelas migalhas que recebe.
Tenha firme em sua mente que não vale a pena compartilhar os seus sonhos com alguém que faz questão de ‘arrancar as suas pétalas’ só para depois dizer que você só tem espinhos. Esta é uma metáfora pobre, todavia, pois uma flor não tem consciência de que é uma flor, de que tem beleza, de que tem perfume, e muito menos que tem espinhos. Uma flor não sabe que é uma flor. Ela é ignorante de si mesma.
Este não é o seu caso. Você se conhece bem. Você sabe de seus valores e do quanto os seus sonhos, seus ideias, seus projetos, sua existência é importante para que se sinta protagonista de sua própria história. Não se anule para caber na expectativa do outro. Não abra mão de seus sonhos para investir no sonho do outro.
Só se prenda ao que lhe liberta. Só deseje a vivencia com alguém que você pode viver sem. Paradoxal, eu sei. Mas é um encargo difícil desejar algo que não se possa abrir mão, que não se possa deixar voar para que este conquiste seu individual horizonte de felicidade. Porque quando se deseja desesperadamente uma coisa ao ponto de ‘prendê-la’, você experiência duas outras: cegueira e insanidade. A primeira lhe impede de vislumbrar que, o que você deseja, tem seus abismos; a segunda faz com que você – uma vez dentro do abismo – acredite que aquele lugar é onde você merece estar.
Este texto é de autoria da escritora, pesquisadora e psicanalista especialista em prevenção ao suicídio, Clara Dawn.