No livro: “Como ter uma criança melhor comportada desde o nascimento até os dez anos”, o escritor e pediatra estadunidense William Penton Sears, afirma que muitos pais/mães/tutores usam a Bíblia como desculpa para bater nos seus filhos. Elas acreditam que Deus as ordena a disciplinar seus filhos com vara (bater). Elas levam ao pé da letra versos como: “A tolice está ligada ao coração de uma criança, mas a vara da disciplina a afastará dela”. Entretanto, em nossa experiência de aconselhamento parental, descobrimos que essas pessoas são pais dedicados que amam a Deus e amam seus filhos, mas não entendem o verdadeiro significado o conceito da vara, inserido na Bíblia.

O autor, diante de sua visão, faz análises de versículos bíblicos que são mal interpretados. Extraímos alguns excertos. Confira:

  • “A tolice está ligada ao coração de uma criança, mas a vara da disciplina a afastará dela”. (Pv 22:15)
  • “Aquele que poupa a vara odeia seu filho, mas quem o ama tem o cuidado de discipliná-lo”. (Pv 13:24)
  • “Não negue a disciplina de uma criança. Discipline-a com a vara e salve sua alma da morte”. (Pv 23:13-14)
  • “A vara da correção transmite sabedoria, mas uma criança entregue a si mesma desonra sua mãe”. (Pv 29:15)

Interpretação Bíblica do que seja ‘vara’

À primeira vista, esses versos podem soar a favor da surra. Mas olha o que o verso 4 do Salmo 23 diz: “A tua vara e o teu cajado me consolam”. Este verso deixa bem evidente que a ‘vara’ no sentindo bíblico jamais poderia ser algo que causasse dor.  O dicionário hebraico dá a esta palavra vários significados: uma vara no contextos bíblico quer dizer: escrita, luta, governo, caminhada…

Embora uma vara  também pudesse ser usada para bater, era normalmente usada para guiar ovelhas errantes. Os pastores não usavam a vara para bater nas ovelhas – e as crianças certamente são mais valiosas do que as ovelhas. O pastor usa a vara para combater um predador e o para guiar suavemente as ovelhas pelo caminho certo.

As famílias judias, que seguem cuidadosamente as orientações bíblicas, não praticam a “correção da vara” com seus filhos, porque eles têm uma interpretação não literal das escrituras, mas sim, metafórica, poética, política e filosófica.

Acreditamos que estes são os pontos reflexivos sobre a vara na Bíblia: os pais tomarem conta de seus filhos, conduzindo-os com paciência e amorosidade pelo caminho que os conduzirá á vida adulta. Quando você reler os versos bíblicos, onde houver a palavra ‘vara, ao invés do conceito de surra, substitua-a por: pedagogia do amor, validão dos sentimentos da criança, escuta, diálogo, construção sadia e em comum acordo das regras que regem a casa.

Jesus ensinou com amor

Cristãos e judeus acreditam que o Antigo Testamento seja a palavra de Deus. E no AT a palavra “vara” está carregada de interpretações sobre castigos corporais. Outras partes da Bíblia, especialmente o Novo Testamento, sugerem que o respeito, a autoridade e a ternura devem ser as atitudes predominantes em relação às crianças entre as pessoas de fé.

No Novo Testamento, Cristo modificou o sistema tradicional de justiça olho por olho com Sua abordagem de dar a outra face. Cristo pregou gentileza, amor e compreensão, e parecia contra qualquer uso severo da vara, conforme declarado por Paulo em 1 Coríntios. 4:21: “Devo ir até você com o chicote (vara), ou com amor e com um espírito manso?”. Paulo passou a ensinar os pais sobre a importância de não provocar raiva em seus filhos (que é o que a palmada geralmente faz): “Pais, não irritem seus filhos” (Efésios 6:4), e “Pais, não amargurem seus filhos, ou eles ficarão desanimados” (Colossenses 3:21).

Em nossa opinião, em nenhum lugar na Bíblia diz que você deve bater em seu filho.

Da redação de Portal Raízes a partir dos estudos de O Livro da Disciplina: Como ter uma criança melhor comportada desde o nascimento até os dez anos – Do escritor e pediatra estadunidense William Penton Sears.

Leia mais sobre este assunto:






As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.