Engraçado como podemos realmente nos acostumar com tudo, não é? Até mesmo com a amargura presente no cotidiano, onde em cada esquina, cada centímetro da nossa mera existência sustentamos nossa soberba, bêbados de nós mesmos. E cada milagre que se apresenta timidamente diante de nós, parecemos não perceber, por causa da grandeza das tragédias que nos cercam. Somos tão pequenos, tão imprecisos.
Em todo o caos dos desencontros será que estamos no caminho certo? Tomamos as escolhas certas? Não conseguimos alcançar os padrões e paradigmas estabelecidos, os ideais são postos sobre nós como uma sentença, e no fim, nos perdemos de quem realmente somos. Nos afastamos do que é legitimo de nós, nos perdemos em um abismo de mentiras, do qual, é praticamente impossível sair.
Algumas vezes me sinto mergulhando dentro de mim, não tenho certeza da clareza das minhas necessidades, não tenho certeza se meus objetivos são precisos. Essas ideias às vezes parecem tão embaraçadas, que deste emaranhado de incertezas que me assolam, resta apenas o vácuo.
Tento me consertar, encontrar os erros nesse grande quebra cabeça. Me ponho a jogar comigo mesmo, tiro uma peça daqui, testo ela ali, e repito o processo, de novo e de novo. Pego a peça que não se encaixava, e quando a retorno para o lugar em que outrora estava errada, parece se encaixar formidavelmente. Porém, a falta de solução persiste.
Estive pensando, onde eu estaria se não fossem minhas escolhas, as certas, mas principalmente as erradas? Se minhas dualidades e confusões fossem respondidas de uma vez por todas, se todas as respostas que procuro estivessem bem diante de mim, a um passo apenas. A vida valeria a pena? Se eu pudesse apenas acertar, e os erros fossem privados das minhas escolhas e eu pudesse compreender e desdobrar meus planos em questão de milésimos, ainda restaria beleza na vida? Ainda teria pelo o quê viver?
Não sei até que ponto posso estar errado em meu íntimo, tampouco tenho pressa por respostas, acertos e soluções, O fato é que somos movidos pela realidade, pelo tangível e pelo que pode ser provado. Nada além disso pode sanar nossas angústias e nos fazer entender o que vai além da compreensão humana.
E aqui, peço emprestado as palavras de Ednardo e Belchior: “É preciso mergulhar mais que mil pés, onde Netuno traça o rumo das marés, é preciso acertar a direção dos pés, quando os velhos caminhos se esgotam, pois os tempos não voltam”.
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