Você pode ser uma pessoa muito atenta e perspicaz, mas as suas chances de pegar um mentiroso no flagra são relativamente baixas. É o que diz o especialista em comportamento Paulo Sergio de Camargo, autor do livro “Não minta para mim: psicologia da mentira e linguagem corporal” (Summus Editorial, 2012). Segundo ele, um leigo em linguagem corporal costuma acertar apenas 50% das vezes em que tenta identificar um mentiroso pela sua postura. Mas nem os especialistas mais tarimbados acertam sempre: suas chances de sucesso costumam girar em torno de 65% ou um pouco mais. A principal dificuldade está no fato de que os sinais da mentira muitas vezes se confundem com vestígios de timidez, ansiedade e nervosismo.
No cotidiano do trabalho, porém, os sentimentos e expectativas que você alimenta em relação ao seu interlocutor podem “nublar” o seu julgamento sobre a honestidade dele – para o bem ou para o mal. Ainda assim, há certos sinais clássicos que costumam trair os mentirosos. Confira:
Um gesto típico de quem não está falando a verdade é tocar a própria boca. Afagar o queixo, limpar os lábios com os dedos, colocar um lápis ou outro objeto diante da boca são sinais bastante comuns. De acordo com Camargo, a preocupação com a boca reflete a vontade de impedir que os demais escutem a mentira que será proferida, ou até o desejo inconsciente de reprimir suas próprias palavras, por elas serem falsas.
Não olhar diretamente nos olhos do outro não significa necessariamente falta de sinceridade: pode se tratar simplesmente de insegurança ou timidez. Ainda assim, é comum que o mentiroso baixe os olhos para evitar que a falsidade das suas afirmações seja percebida. No entanto, esse detalhe pode ser traiçoeiro. “Muitos mentirosos, sabendo disso, fazem exatamente o contrário quando mentem: olham diretamente nos olhos da vítima na tentativa de fazer suas afirmações mais críveis”, escreve Camargo.
Um mentiroso em ação costuma se fechar em si mesmo, evitando que as palavras saiam de sua boca. Um sinal bastante claro dessa resistência à comunicação é dobrar os lábios para dentro, apertando-os com força. Trata-se de uma reação comum a perguntas com potencial de expor a verdade. De acordo com Camargo, o “sumiço” dos lábios pode indicar que a pessoa foi atingida pela pergunta e não deseja respondê-la.
Quando direciona os olhos para o canto superior direito, o indivíduo normalmente quer criar uma imagem, explica Camargo. Esse é um dos sinais mais consistentes da mentira – a pessoa faz um esforço criativo, isto é, prepara algo fictício para dizer. Muitos indivíduos giram a cabeça na mesma direção. Em muitos casos, o desvio do olhar também serve para não encarar diretamente o interlocutor.
O nervosismo trazido pela situação também pode provocar o aparecimento de pequenas rugas horizontais na testa do mentiroso. O problema é que elas desaparecem muito rápido e nem sempre são fáceis de observar, diz Camargo. Mas cuidado: as linhas na testa muitas vezes refletem um tipo de tensão que nada tem a ver com mentiras. Em geral, as rugas que denotam mero nervosismo são bem pronunciadas e permanecem no rosto do outro por mais tempo.
É comum que as pessoas que faltem com a verdade diminuam muito sua gesticulação. “As mãos ficam grudadas às pernas, nos bolsos, colocadas para trás”, escreve o especialista. “Os movimentos são escassos e controlados”. O motivo para essa paralisia é inconsciente: sem saber, a pessoa acredita que, quanto mais imóvel estiver, mais facilmente passará despercebida do olhar atento do seu interlocutor. Ela também tenta reduzir sua linguagem corporal para não deixar que seus gestos acabem por contradizer sua fala.
Na tentativa de se fechar em seu próprio corpo, o indivíduo pouco sincero tenderá a se movimentar de forma dura, repetitiva e mecânica. Quanto mais intensos esses gestos, mais fica claro que o mentiroso está desconfortável e trava uma luta interna para manter o controle da situação.
Segundo Camargo, o mentiroso tende a retrair o próprio corpo: pescoço encolhido, queixo baixo, pernas juntas e braços cruzados indicam uma tentativa inconsciente de controlar as suas próprias emoções. O comportamento remonta aos tempos das cavernas. Diante de um predador, o homem pré-histórico tinha três opções: fugir, lutar ou ficar paralisado. A terceira opção é a que menos chama a atenção. Não à toa, o mentiroso que quer “sobreviver” ao seu interlocutor tenta se encolher de todas as formas possíveis.
O autoabraço e as carícias aos próprios braços podem denotar insegurança, ansiedade, necessidade de proteção e retorno inconsciente a uma postura infantil, explica Camargo. São diversos os toques ao próprio corpo que traem os mentirosos. Passar as mãos nas pernas para tirar uma sujeira imaginária, por exemplo, pode denotar preocupação e ansiedade. Coçar o nariz é outro gesto característico, diz o especialista: durante seu depoimento no caso Monica Lewinsky, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton tocou o próprio nariz mais de 25 vezes.
Este é um dos sinais mais clássicos da mentira, de acordo com o psicólogo norte-americano Paul Ekman, considerado um dos maiores especialistas do mundo em expressões faciais e corporais. A postura do indivíduo que falta com a verdade é assimétrica: um dos seus ombros se levanta ou se projeta levemente para a frente. Com o gesto, ele tenta transmitir descaso e pouca preocupação pelo que está dizendo. Muitas vezes, esse tom de desdém dissimulado também aparece na voz do mentiroso.
Camargo diz que uma das técnicas mais usadas por especialistas para desmascarar um mentiroso é se aproximar o máximo possível dele durante uma pergunta delicada. Essa tática pode deixá-lo mais ansioso e propenso a se entregar. Isso porque, quanto mais afastado puder ficar do outro, mais seguro ele vai se sentir. A tentativa de manter uma distância confortável aparece tanto física quanto verbalmente: ele também procurará se manter longe dos detalhes mais espinhosos de sua história. Ainda assim, é preciso tomar cuidado com esse sinal. “Certos mentirosos se aproximam intensamente de suas vítimas”, escreve o especialista.
Fonte: Exame
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