Se Einstein fosse hoje criança, é possível que seria diagnosticado com Perturbação de Hiperatividade e Déficit de Atenção. Nem todas as crianças são gênios, claro, mas na pós-modernidade muitas têm as mesmas características cognitivas e comportamentais de Einstein e são medicadas por esse motivo. Dão trabalho, questionam, são agitadas, viajam nos pensamentos, consideram a escola aborrecida, logo, não se concentram nem memorizam.
Se apesar destas características, Einstein se tornou um famoso e brilhante cientista, por que, cada vez mais se medicam crianças para que “obedeçam aos padrões” estipulados pelo ensino, pelos médicos, pelos pais e pela sociedade? Felizmente, Einstein nasceu numa época em que ainda não se medicavam crianças. As suas dificuldades foram ultrapassadas sem drogas e ganhamos um gênio.
Neste artigo vamos adentrar a controvérsia científica e cultural sobre a medicalização da infância e o movimento internacional Stop DSM, (Diagnóstico de Saúde Mental) que devem inquietá-lo com dados impactantes sobre o uso abusivo de medicamentos e seus efeitos sobre crianças e jovens. Veremos ainda, a opinião de pesquisadora sobre a droga mais usada em casos de TDAH, a ritalina que segundo a pesquisadora trata-se de uma bomba. Como contrapartida, inserimos opções de atividades físicas e artísticas como substitutivos ao uso das drogas. Confira:
A medicalização da infância é uma forma eficiente de destruí-la
Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de 8% a 12% das crianças no mundo foram diagnosticadas com TDAH, e a suspeita dos pais de que os filhos tenham o transtorno é o principal motivo que os leva aos médicos. Em 2010 foram vendidas 2,1 milhões de caixas de metilfenidato. Em 2013, foram 2,6 milhões.
A medicalização é o processo pelo qual são deslocados para o campo médico problemas que fazem parte do cotidiano das crianças. Desse modo, fenômenos de origem social e política são convertidos em questões biológicas tratáveis com medicalização. E é essa medicalização da vida cotidiana da criança, tem provocado uma verdadeira “epidemia” de diagnósticos, ao transformar sensações físicas ou psicológicas normais (tais como ansiedade, insônia, agitação, e tristeza) em sintomas de doenças, de transtornos, de espectros (como distúrbios do sono, TDAH, autismo, e depressão).
A medicalização é um negócio extremamente rentável e a sua associação com transtornos não se dá ao acaso. Esse movimento, político, social e econômico, que tem produzido essa epidemia de diagnósticos, gera também uma epidemia de tratamentos, que nem sempre fazem bem à saúde, principalmente aqueles que não seriam necessários.
Quem ganha com isso é a indústria farmacêutica, a qual investe na divulgação da falsa perspectiva sobre doença e doença mental, na qual a psicofarmacologia resolve todos os problemas humanos, incluindo aqueles ligados ao comportamento. Isso produz a sensação de que os sofrimentos e dificuldades da própria vida podem ser evitados ou eliminados pela via medicamentosa.
No plano internacional, desça-se o movimento “STOP DSM”, iniciado em 2011 em Barcelona, Buenos Aires e no Brasil, integrando profissionais da área “Psi” para contestarem o modelo estatístico dominante do DSM e resgatar um diagnóstico clínico que considere a subjetividade do sofrimento psíquico. Uma das críticas mais marcantes ao DSM é que, ao longo dos anos e de suas novas versões, ele amplia o escopo das patologias e diminui o espaço da normalidade, com isso também permite a criação de tratamentos medicamentosos, alimentando a indústria farmacêutica. A primeira edição do manual de Diagnóstico de Saúde Mental apresentava 100 transtornos, o atual (DSM 5) tem mais de 300.
Nos EUA o o psiquiatra, líder do movimento contrário ao DSM , Allen Frances, que coordenou o DSM-IV, disse: ” Durante as duas últimas décadas, a psiquiatria infantil já provocou três modismos – triplicou o Transtorno de Déficit de Atenção, aumentou em mais de 20 vezes o autismo e aumentou em 40 vezes o transtorno bipolar na infância”.
O TDAH parece incluir comportamentos comuns na infância, porém de
forma intensa que não se modificam com as intervenções dos educadores.
Desatenção, atividade excessiva e/ou comportamento emocional impulsivo estão
presentes nas crianças, dificultando-lhes o aprendizado desde o começo da vida
acadêmica, trazendo-lhe rejeição e incertezas quanto a sua capacidade cognitiva,
o que costuma lhes reduzir a autoestima, dificultando ainda mais o processo
O TDAH parece estar relacionado a alterações do sistema nervoso, em
particular a algumas áreas relacionadas ao comportamento socioemocional.
Aspectos genéticos estão envolvidos na sua etiologia, observando-se que vários
genes parecem interagir para produção do fenótipo. Também fatores ambientais,
como a exposição ao álcool ou a nicotina durante a gestação ou, ainda, a
contaminação por substâncias tóxicas, têm sido relacionadas ao transtorno, bem
como o peso abaixo da média no nascimento.
O TDAH parece se constituir em disfunção atencional e executiva, que inclui descontrole de processos emocionais e motivacionais. Excesso de impulsividade, desatenção e hiperatividade são algumas de suas características. Outra característica é a limitada socialização, como a dificuldade de participar de atividades colaborativas e a
restrição de conseguir e manter amigos.
Os sintomas se reduzem com a idade, mas normalmente não se extinguem. Em termos neurológicos, algumas características incluem a redução no tamanho do cérebro, que persiste até a adolescência, a redução do funcionamento do córtex pré-frontal, com a modificação do circuito que conecta essa região ao corpo estriado e ao cerebelo
A pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, a fez uma declaração bombástica: “A gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro”, disse ela em entrevista ao Portal Unicamp. “Quem está sendo medicado são as crianças questionadoras, que não se submetem facilmente às regras, e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que ‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de mil anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Estamos dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes. E isso é terrível”, diz ela.
Da família das anfetaminas, a ritalina, ou metilfenidato, tem o mesmo mecanismo de qualquer estimulante, inclusive a cocaína, aumentando a concentração de dopamina nas sinapses. Segundo a pesquisadora, a criança “sossega”: pára de viajar, de questionar e tem o comportamento zombie like, como a própria medicina define. Ou seja, vira zumbi — um robozinho sem emoções. É um alívio para os pais, claro, e também para os médicos. Por esse motivo a droga tem sido indicada indiscriminadamente nos consultórios da vida. A ponto de o Brasil ser o segundo país que mais consome ritalina no mundo, só perdendo para os EUA.
O fato, no entanto, é que o uso da ritalina reflete muito mais um problema cultural e social do que médico. A vida contemporânea, que envolve pais e mães num turbilhão de exigências profissionais, sociais e financeiras, não deixa espaço para a livre manifestação das crianças. Elas viram um problema até que cresçam. É preciso colocá-las na escola logo no primeiro ano de vida, preencher seus horários com “atividades”, diminuir ao máximo o tempo ocioso, e compensar de alguma forma a lacuna provocada pela ausência de espaços sociais e públicos. Já não há mais a rua para a criança conviver e exercer sua criancice.
E se nada disso funcionar, a solução é enfiar ritalina goela abaixo. “Isso não quer dizer que a família seja culpada. É preciso orientá-la a lidar com essa criança. Fala-se muito que, se a criança não for tratada, vai se tornar uma dependente química ou delinquente. Nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona. E o que está acontecendo é que o diagnóstico de TDAH está sendo feito em uma porcentagem muito grande de crianças, de forma indiscriminada”, diz a médica.
“Se a criança já desenvolveu dependência química, ela vivenciará a crise de abstinência. Também apresentará surtos de insônia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e correm o risco de cometer o suicídio. São dados registrados no Food and Drug Administration (FDA)”.
O ambiente familiar pode se tornar tenso e com mensagens negativas a criança, prejudicando seu autoconceito, tornando-a mais defensiva e reativa tanto na família quanto na escola. A família precisa aprender a integrar as manifestações da criança.
Compreender que os comportamentos da criança não são voluntários e responder
com comportamentos equilibrados. A disciplina, as regras, mantém o equilíbrio e
facilitam o dia a dia, porém não devem ser imutáveis, e sim flexíveis, de acordo
com as necessidades e as situações que vão surgindo.
Como a criança hiperativa tende a ser mais impulsiva, agitada e apresentar dificuldade para se concentrar, há algumas atividades recreativas e exercícios para déficit de atenção que além de estimular o foco, ajudam a acalmar.
Jogos de tabuleiro e de montar, assim como quebra-cabeças, são boas opções de atividades para crianças agitadas, pois normalmente envolvem o exercício do raciocino lógico e a criação de estratégias com base em regras. Durante essas brincadeiras, procure encontrar soluções junto com a criança para mantê-la motivada e interessada.
Entre as atividades para crianças com hiperatividade destacam-se as brincadeiras dinâmicas e visuais, como teatro de fantoches ou brincadeiras que envolvem a pintura e o faz de conta. Através delas, os pequenos podem se expressar sem medo de errar, estimulando suas habilidades e autoconfiança. Então, por que não experimentá-las em casa?
As modalidades esportivas também são recomendadas como atividades para crianças agitadas. Os esportes são ótimos para gastar a energia do hiperativo, e têm a vantagem de serem excelentes meios para trabalhar a motivação e incentivar a socialização com outras crianças. Futebol, vôlei ou atividades junto à natureza, como arvorismo e surf, podem trazer benefícios imediatos. Mas, é bom escolher uma prática que a criança já demonstre um certo interesse para evitar a desistência.
Atividades físicas que trabalham com a respiração podem tanto acalmar, quanto ajudar na concentração. Além das práticas alternativas, como yoga e meditação, a natação e caminhada são boas sugestões de atividades para crianças com hiperatividade.
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