E ela perguntou-me: “que merda é essa de Lei do Retorno? Eu nunca fiz mal à pessoa alguma e por que fizeram isso comigo?” – Estava chorando muito e tinha razão para tal. Sofreu um golpe e perdeu alguns milhares de reais. No dia anterior, quando ela contou das expectativas em relação ao negócio sonhado, lembro-me de parabenizá-la e completar que finalmente o Universo estava a seu favor.  Depois que tudo se desmoronou senti-me golpeada também, especialmente por minha crença acerca da Lei do Retorno, O Segredo, O Poder… e essa coisa toda elencada pela mídia para vender livros, cursos e palestras.

Tudo que nos acontece é evocado por nossas energias?

Antes de tentar consolar a minha amiga com mais um clichê da psicologia social, fui refletir sobre os estudos da neurociência que afirmam que tudo que nos acontece é evocado por nossas energias  e que todos os atos praticados, nocivos ou benéficos, e as palavras emitidas, construtivas ou destrutivas, atingem o objetivo e produzem ação reflexa, volvendo ao ponto de partida. Isso não significa que uma pessoa boa que observa com diligência suas ações, palavras e pensamentos, jamais sofrerá coisas ruins. 

Todas as pessoas que conhecemos estão vivenciando essas experiências com suas energias – aqui e agora – por causa de seus desejos (bons e/ou ruins) que elas evocam conscientes e inconscientemente. Os desejos são energias que o nosso o estado de espírito nos permite vivenciar. Podemos resisti-las ou fortalecê-las. Os desejos surgem independentemente de nossa vontade. Esta é uma gestação que cabe a nós decidir se vamos abortá-la ou dar-lhe vida abundante.

Mas se a Lei do Retorno não falha, por que coisas ruins acontecem com pessoas boas?

Não somos inocentes. Não choramos sem merecer. Tudo, de um jeito ou de outro, é consequência de nossas escolhas. Eu, por exemplo, não sou melhor do que ninguém pra ter o privilégio da não desgraça, tampouco pior ao ponto de não vivenciar a benevolência dos instantes de felicidade. Sou grata por tudo que me acontece: de bom e de ruim. O primeiro porque plantei sementes e o segundo, por que não comigo?.

Lembra do caso que mencionei no início do texto? É verdade que minha amiga é uma pessoa boa e não merecia cair num golpe e perder milhares de reais. Entretanto tudo o que lhe aconteceu, foi consequência de suas próprias escolhas, de confiança cega em estranhos, sua inocência de há mais gente boa no mundo de que ruins. É justo? Certamente que não. Por que não com ela? Por que não comigo?

Por que alguém pode sofrer um golpe, ter sua casa assaltada, sofrer abuso sexual, ter um filho traficante de drogas, ser filha de pedófilo, se casar com um grande sacana, contrair uma DST numa transfusão de sangue…? Porque coisas ruins acontecem com gente boníssima; acontecem com gente ruim, com ricos, com famosos, com pobres, com brancos, com pretos, com homens, com mulheres e até com os inocentes animais irracionais.

Você só precisa compreender e aceitar que existe uma teia existencial de acontecimentos independentes de quem somos e se merecemos ou não. Acontecem porque de algum modo, nós mesmo ou, os que nos antecederam fizeram escolhas que culminaram em nosso momento presente. É a Teoria do Caos, uma das leis mais importantes do Universo, presente na essência de quase tudo o que nos cerca. A ideia central da teoria do caos é que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer conseqüências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis – caóticos, portanto. No final, sua vida se alterou por completo, e tudo por causa do tal prego no início dessa sequência de eventos.

De posse desse saber e consciente de que você não é o único a vivenciar infortúnios, o primeiro passo é livrar-se dos sentimentos de injustiça, coitadismo, vitimismo e autopiedade; o segundo passo é arregaçar as mangas e arrumar a bagunça; o terceiro passo é seguir em frente com diligência e determinação; o quarto passo é dedicar-se à prática do “antes o outro aborrecido do que eu, porque ‘não’ também foi feito para se dizer”. Lembre-se do que nos ensinou Clarice, a Lispector: “Tenho meus limites. O primeiro deles é meu amor-próprio”.

 






Clara Dawn é romancista, psicopedagoga, psicanalista, pesquisadora e palestrante com o tema: "A mente na infância e adolescência numa perspectiva preventiva aos transtornos mentais e ao suicídio na adolescência". É autora de 7 livros publicados, dentre eles, o romance "O Cortador de Hóstias", obra que tem como tema principal a pedofilia. Clara Dawn inclina sua narrativa à temas de relevância social. O racismo, a discriminação, a pedofilia, os conflitos existenciais e os emocionais estão sempre enlaçados em sua peculiar verve poética. Você encontra textos de Clara Dawn em claradawn.com; portalraizes.com Seus livros não são vendidos em livrarias. Pedidos pelo email: [email protected]