Filósofo polonês, Zygmunt Bauman, vai de Sartre à “modernidade líquida”, da construção de um projeto de vida às rápidas transformações cotidianas para encontrar uma solução ao dilema da identidade na contemporaneidade: como compreendemos a vida, quando esta é “dividida em episódios”? Como alcançamos a felicidade, quando o próprio significado da vida é constantemente redefinido?

Essas nossas atitudes são, na visão de Bauman, fruto do líquido mundo moderno, pois construímos e sustentamos as referências comuns de nossas identidades em movimento. A busca por identidade vem justamente do desejo de segurança. E no mundo da alta velocidade cuja aceleração é fruto do anseio por mais, é impossível confiar na utilidade das ferramentas tecnológicas com base em sua durabilidade, pois são dotadas essencialmente de um caráter atemporal. Bauman não desconhece as divergências sobre o conceito de identidade, pelo contrário.

Cada conceito é permeado por valores similares, indispensáveis para uma existência humana decente e madura: a liberdade de escolha e a segurança oferecida pelo pertencimento. Liberdade de autodefinição e autoafirmação que, para os comunitários, é uma totalidade maior do que a soma das partes. É a submissão dos interesses pessoais em benefício da solidariedade de que o seu grupo necessita. E em um mundo fluído, comprometer-se com uma única identidade para toda a vida é extremamente arriscado. Identidades são mostruários de nossa essência, não se deve armazená-las em uma caixa e jogá-las no sótão empoeirado.

“Quando eu era jovem, isto é, séculos atrás, ficamos impressionados com Jean Paul Sartre, que nos disse que precisávamos um projeto de vida. Temos que selecionar um projeto de vida, temos que prosseguir passo a passo de forma consistente, ano após ano chegando cada vez mais próximo desse ideal. Agora, conte isso aos jovens de hoje e eles rirão de você. Nós temos grandes dificuldade em adivinhar o que vai acontecer conosco no ano que vem. O projeto de vida, de uma vida inteira, é algo difícil de acreditar. A vida é dividida em episódios. Não era assim no início do século 20.

As sociedades foram individualizadas. Em vez de se pensar em termos de: qual comunidade se pertence, qual nação se pertence e a qual movimento político se pertence etc., tendemos a redefinir o significado de vida, o propósito de vida, a felicidade na vida para  o que está acontecendo com uma própria pessoa, as questões de identidade, que têm um papel tremendamente importante hoje, no mundo. Você tem que criar a sua própria identidade. Você não a herda.

Você não  só precisa fazer isso, mas você tem que passar toda a sua vida redefinindo a sua identidade. Porque os estilos de vida, o que é considerado ser bom para você e ruim para você, as formas de vida atraentes e tentadoras mudam muitas vezes na sua vida. Se eu tentasse listar as coisas que saíram de moda a este respeito, que mudaram nos meus 86 anos de vida, provavelmente eu levaria várias horas para fazê-la”.

Comentários de Juliano Madalena





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