“Negro, quilombola, filho de lavradores, nascido e criado na roça, filho do meio e integrante de uma família humilde composta por 11 irmãos e rodeada pela pobreza, chego ao fim de uma enorme batalha!”, conta o jovem, que estou na UFS – Universidade Federal de Sergipe.
João Costa, de 24 anos, se formou na primeira turma de Medicina do campus de Lagarto da UFS. E se orgulha muito disso.
“Atualmente com 24 anos de idade, sou oriundo da cidade de Simão Dias-Sergipe, nascido e crescido no povoado Sítio Alto, uma comunidade autodeclarada quilombola, formada por descendentes de escravos e que desde sua criação foi assolada pela pobreza e por precárias condições de vida e moradia”, lembra.
Mas o menino não aceitou aquilo como seu destino e decidiu estudar.
“Desde criança já sabia que para poder melhorar a minha condição social e a da minha família teria que sair do paradigma que era comum onde eu morava (trabalhar na roça para prover o sustento) e me aventurar no mundo da educação e do conhecimento”.
Filho de pais analfabetos, ele lembra que a infância não foi fácil. Faltavam ítens básicos, como roupas e alimentos.
“Chegar na faculdade então? Uma utopia. Morava em uma comunidade em que poucos haviam chegado ao ensino médio, quiçá chegar à Universidade Federal’, diz.
João costa estudava e trabalhava na lavoura. Ele queria proporcionar uma vida melhor e menos sofrida à família e as notas boas que tirava na escola eram o incentivo que precisava para seguir adiante.
“Me destacava cada vez mais na escola, porque sabia que a única opção para uma ascensão social e financeira era por meio dos estudos”.
Aluno de escola pública, ele ele agradece aos professores “que além de compartilharem seus conhecimentos científicos e materiais didáticos, compartilharam lições de cidadania, comportamento e empatia, e não menos importante, me prepararam para vida! Sem o apoio de cada um de vocês eu não poderia ter alçado meu voo e não teria chegado onde cheguei!
Aprovado com louvor no ensino fundamental e no médio, ele conseguiu o primeiro emprego no último ano do ensino médio.
Foi trabalhar durante meio turno na Promotoria de Justiça de Simão Dias, “um estágio remunerado conseguido por méritos e fruto do meu desempenho acadêmico na escola estadual Dr. Milton Dortas, lugar onde eu estudava na ocasião”.
O sonho dele era entrar na universidade, mas teve que lutar contra a inveja e o preconceito.
“Muitas vezes me questionava se seria possível, se eu era capaz. Recebi muitos comentários desencorajadores, de pessoas próximas inclusive, pelo fato de ser uma pessoa pobre, vindo da roça, negro e proveniente de escola pública. Conseguir cursar medicina? Muitos consideraram improvável! Mas Deus e o destino foram maravilhosos comigo”.
João conta que surgiram pessoas que o apoiaram, o incentivaram e “instigaram a provar para mim e para os incrédulos que eu conseguiria, e eu consegui!”, comemora.
Aos 17 anos ele passou em terceiro lugar, no curso de medicina da Universidade Federal de Sergipe, campus de Lagarto, “curso que estou terminando com louvor e colhendo os frutos da minha dedicação e empenho.”
Foram 6 longos anos de estudo, com dificuldades “já que o sustento [da família] ainda é provido pelo trabalho na roça e por benefícios sociais de distribuição de renda.
Nesse período o estudante se inscreveu no programa de residência universitária disponibilizado pela UFS e na bolsa permanência disponibilizada pelo MEC.
“Tenho o orgulho de dizer que não estressei meus pais com despesas nesses anos longe de casa”, diz.
“No pouco que vivi aprendi que quando as dificuldades baterem na sua porta deixe-as entrar! Nada melhor que os desafios para instigar a evolução humana. Acredito que se eu não tivesse tantas dificuldades não estaria me graduando em medicina, curso ainda elitizado e estereotipado em nossa sociedade”.
“Hoje tenho orgulho de dizer que graças aos meus esforços e ao apoio de pessoas maravilhosas o negro saiu da “senzala”, o pobre saiu da roça e o aluno de escola pública está se formando em medicina em uma Universidade Federal”, conclui.
Com informações do Lagartense e UFS, via SNB
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