Esta imensa tela quase monocromática, representa um marco contra a barbárie, é um manifesto acarinhado, depois, pela Humanidade em favor da vida. É um quadro a preto e branco com uma gama variadíssima de cinzentos e alguns azuis imperceptíveis.
Guernica está ligada a um clamor de justiça tão válido hoje como em 1937. Não é uma arte panfletária. O que a torna uma das telas mais notáveis do século XX é a combinação auspiciosa de um talento pictórico no seu apogeu, de absoluta universalidade e rara transparência. Aquelas anacrónicas deformações físicas que já possibilitaram interpretações variadas e nem sempre coincidentes, o que enriquece a intemporalidade da obra, manifestam-se-nos, de imediato, como apelos desesperantes contra o absurdo patético da guerra. O que nos ocorre imediatamente é uma alma caracterizadamente estilhaçada, onde o caos se instala e brutaliza, modeladamente, as estruturas ósseas que quase nos causam transtorno visual.São variadas as opiniões e para todos os gostos, sobre as razões desta opção cromática. Será, por isso legítimo que seja avançada a evocação, mais ou menos consciente, dos Caprichos ou dos Desastres de Guerra, de Francisco Goya.
A bota fascista, com o apoio determinante da igreja e do capital parasitário (…e como no caso espanhol esta catalogação é exacta) fere a Espanha de forma lancinante, como o artista assinala naquele inesquecível esgar dorido da égua, repleta de morte anunciada.
A explosão de luz de Guernica, deixa tudo às escuras e impele-nos como que a uma momentânea suspensão horrorizada. É, pois, a experiência da realidade, que faz Picasso só com ela se preocupar, uma vez que «a luz é tão concreta como qualquer parte da realidade». A diminuição cromática da paleta cubista não lhe agrada já muito, não obstante o gosto que tem pelo percurso teórico que revolucionou a História de Arte. Passará a representar a luz na sua própria essencialidade.
O medo e a dor, a raiva e o desespero, são as emoções dominantes e inequívocas. O cavalo/égua ferido de morte que agoniza é a personificação de um desespero terrífico. Ao touro é dada uma raiva contida que lhe não diminui a solidez e a nobreza. Se quisermos encontrar uma figura salvadora no quadro em análise, é o touro que se escolhe como o protector daquela mãe apavorada com o filho ao colo
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