“Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa é uma das mais importantes obras literárias da literatura brasileira. Por sua linguagem e a originalidade de estilo presentes no relato de Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas, seus medos e o amor reprimido por Diadorim.
O romance foi publicado em 1956 e inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento para criar uma obra singular e inovadora.
“O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia”.
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.
“Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas, que é a sem razão de motivo”.
“Se eu fosse filho de mais ação e menos ideia, isso sim, tinha escapulido, calado “.
“Um dia ainda entra em desuso matar gente”.
“O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo”.
“A gente morre é para provar que viveu”.
“Viver é muito perigoso: sempre acaba em morte”.
“Quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade”.
“Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo no meio do fel do desespero”.
“Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por que é que é”.
“Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto”.
“Uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas”.
“E a gente, isso sei, às vezes é só feito menino. Se tem alma, e tem, ele é de Deus”.
“E o chiim dos grilos ajuntava o campo”.
“Ah, a mangaba boa só se colhe já caída no chão, de baixo…”.
”A colheita é comum, mas o capinar é sozinho”.
“Viver é um descuido prosseguido”.
“O senhor ache e não ache. Tudo é e não é …”
“Passarinho que debruça – o voo já está pronto”.
“Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre coitado. Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração”.
“Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”.
“Deus é paciência. O contrário é o diabo”.
“O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando”.
“A gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?”.
“Quem-sabe, a gente criatura ainda tão ruim, tão, que Deus só pode às vezes manobrar com os homens é mandando por intermédio do diá?”.
“O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo”.
“Cavalo que ama o dono, até respira do mesmo jeito”.
“Quem desconfia fica sábio”.
“Passarinho cai de voar, mas bate suas asinhas no chão”.
“Ser ruim, sempre, às vezes é custoso, carece de perversos exercícios de experiência”.
“O espírito da gente é cavalo que escolhe estrada”.
“Medo, não, mas perdi a vontade de ter coragem”.
“O jagunço Riobaldo. Fui eu? Fui e não fui. Não fui! – porque não sou, não quero ser”.
“Eu careço de que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! (…) Este mundo é muito misturado …”.
“Mas, na ocasião, me lembrei dum conselho de Zé Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente”.
“A morte é para os que morrem”.
“A vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho”.
“Preto é preto? branco é branco? Ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade”.
“No centro do sertão, o que é doideira às vezes pode ser a razão mais certa e de mais juízo!”.
“Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera”.
“O bom da vida é para cavalo, que vê capim e come”.
“E sei que em cada virada de campo, e debaixo de sombra de cada árvore, está dia e noite um diabo, que não dá movimento, tomando conta.”
“Tudo que é bonito é absurdo – Deus estável”.
“Liberdade – aposto – ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no vão dos ferros de grandes prisões”.
“Sertão é o sozinho”.
“Sertão: é dentro da gente”.
“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”.
“Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”.
“Tudo que já foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente está num cômpito”.
“Um sentir é do sentente, mas o outro é o do sentidor”.
“Para o prazer e para ser feliz, é que é preciso a gente saber tudo, formar alma, na consciência; para penar, não se carece”.
“Obedecer é mais fácil do que entender”.
“Onde é que está a verdadeira lâmpada de Deus, a lisa e real verdade?”.
“Tive medo não. Só que abaixaram meus excessos de coragem”.
“O sertão é sem lugar”.
“Rir, antes da hora, engasga”.
“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só fazer outras maiores perguntas”.
“Somente com a alegria é que a gente realiza bem – mesmo até as tristes ações”.
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