Psicologia e Comportamento

Não seja perfeita. Gente certinha é chata demais

Ensinou-nos, a renomada médica psiquiatra brasileira, aluna de Carl Jung, Nise da Silveira: “Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: Vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas. É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade”.

Você é do tipo que sempre fica se cobrando? Acha que, por mais que se esforce, nunca é o suficiente? É incapaz de aceitar qualquer tipo de crítica? Quando as coisas saem errado, fica se culpando, chamando a si mesmo de imbecil, inferior ou indigno? Acha que, para que alguma coisa saia bem feita, você mesmo tem de fazê-la? Fica às vezes com tanto medo do fracasso que vai deixando as coisas para depois, ou simplesmente não as faz?

Como está o seu relacionamento com outros? Fica sem amigos porque as pessoas ao seu redor não correspondem ao que você espera delas? Fica muito chateado com as falhas de outros? Se você responder sim a alguma dessas perguntas, seu problema pode ser o perfeccionismo. E se esse for o caso, você não é o único. Essa é uma característica bastante comum.

O que faz com que a pessoa seja perfeccionista?  O livro Perfectionism—What’s Bad About Being Too Good? (Perfeccionismo: O Que Há de Mal em Tentar Ser o Melhor?) sugere: “O perfeccionismo não é uma doença; você não o contraiu. Nem é hereditário; você não nasceu assim. Então como é que se tornou perfeccionista? Alguns especialistas acham que essa característica é desenvolvida na infância. O peso das cobranças — da família, de si mesmos, da sociedade e da mídia, além do desejo de copiar padrões irrealistas — faz com que alguns passem a vida toda preocupados, estressados e com sentimentos de culpa.”

Qualquer que seja a causa, a tendência de exigir demais de si mesmo pode torná-lo infeliz e, não menos pior que isso, causar infelicidade aos próximos. Mesmo porque uma pessoa perfeccionista exige perfeição do outros, esquecendo o pensamento empático de que se você exigir de um peixe que ele escale uma árvore, ele passará toda a sua existência acreditando que é um imbecil. É preciso considerar a máxima de que não é porque o outro não consegue fazer o jeito que você quer, que significa que ele não esteja fazendo tudo que pode.

Longe de ser uma atitude saudável e benéfica, o perfeccionismo muitas vezes é prejudicial. Quando se procura ser perfeito em tudo o que se faz é certo que a determinado momento a pessoa irá ser invadida por sentimentos negativos associados a pensamentos depreciativos de si próprio e a pessoa entra numa espiral de desvalorização pessoal.

Ser perfeccionista para muitos é uma virtude mas essa mesma virtude pode facilmente converter-se em defeito se não a soubermos dosear adequadamente. Cada pessoa é única e não aceitável exigir nem de nós nem do outro aquilo que não é possível dar; a perfeição.

Lutar afincadamente pela perfeição é pedir o impossível. Estudos revelam que a busca pela perfeição pode desencadear a Síndrome do Pânico.

“…há um fato; ninguém é perfeito! Portanto, jamais exija de mim ou de quem quer que seja perfeição ou qualidades que nem mesmo você tem. Ninguém tem que ser igual a ninguém e sim a nós mesmos. O outro é somente o outro…” Guy Barreto

A ideia de perfeição pode ser enganadora e tão assustadora ao ponto de nos paralisar.

Se você se vê como uma pessoa perfeccionista, sugiro que faça uma pausa e procure refletir sobre quem você realmente é? Pense no que gostaria de ser e/ou fazer sem filtros. Descubra em si aquilo que é mais profundo e verdadeiro, sem pensamento crítico ou juízo de valor.

“Quem anda nos trilhos é trem de ferro. Sou água que corre entre as pedras. Liberdade caça jeito”. Manuel de Barros

Contribuições para as pesquisas deste artigo: Nise da Silveira, Carl Jung, o  livro Perfectionism – What’s Bad About Being Too Good? – de Miriam Elliott e Jan Goldberg; Oficina da Psicologia.

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As publicações do Portal Raízes são selecionadas com base no conhecimento empírico social e cientifico, e nos traços definidores da cultura e do comportamento psicossocial dos diferentes povos do mundo, especialmente os de língua portuguesa. Nossa missão é, acima de tudo, despertar o interesse e a reflexão sobre a fenomenologia social humana, bem como os seus conflitos interiores e exteriores. A marca Raízes Jornalismo Cultural foi fundada em maio de 2008 pelo jornalista Doracino Naves (17/01/1949 * 27/02/2017) e a romancista Clara Dawn.

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