Você está atento ao que está passando na tela em que seu filho está conectado? Ou já parou para refletir nos motivos de ter um novo shopping perto da sua casa? Ou por que sempre que você diz que precisa comprar certo produto, logo aparece uma propaganda dele no seu smartphone? O sociólogo polonês Zygmunt Bauman postulou que:
“Estamos vivendo uma época em que as relações sociais e econômicas são frágeis, fugazes e maleáveis, como a água. Coisa alguma é feita para durar”
Ele afirmou ainda que estamos nos tornando escravos voluntários do consumismo e criando filhos escravos voluntários do mesmo hedonismo capitalista.
E isso é muito triste, pois o que importa para o desenvolvimento pleno, real e digno do ser humano e de sua humanidade, não é essa ilusória escalada da pirâmide social, mas sim, que os nossos filhos se libertem dessas regras socioculturais contidas nessa estrutura excludente e injusta.
Para que isso aconteça, para que possamos criar pessoas autônomas, livres e bem sucedidas em termos gerais, precisamos analisar onde temos errado e como devemos agir para que a “escravidão voluntária” não perpetue.
Analisemos então 12 sinais de que nós estamos transformando nossos filhos em escravos ao invés de pessoas livres:
Ou numa daquelas que vai do maternal ao vestibular. Não importa. Se a criança está matriculada em uma escola que a prepara mais para o mercado de trabalho do que para à vida, ela está sendo preparada o para o passado e não para o mundo que vai existir daqui a 20 anos, quando ela sair da escola. Ela está sendo preparada para se encaixar no mundo tal qual ele é, e não para criar um mundo no qual ela possa ser livre para ama-lo e transformá-lo.
Shopping não é lugar para passear. Shopping é para fazer compras ou então para deixar os filhos distraídos enquanto os pais fazem compras. O objetivo do shopping é vender, vender… E por isso é tão importante para seus proprietários agregar serviços como praças de alimentação, espaço para as crianças com brinquedos eletrônicos e pequenos parques dentro dos seus estabelecimentos. Quanto mais atraentes são os shoppings, mais as crianças gostarão de estar neles e, claro, melhor retorno financeiro o shopping terá. O impacto deste mau hábito pode levar a criança a sempre querer consumir para se manter feliz. Experimente levar a criança para brincar no jardim, leve-a para conhecer a gibiteca da cidade, o museu, a biblioteca… apresente a ela os parques de diversões e os cinemas fora de shoppings, ou simplesmente, leve-a para brincar no quintal com outras crianças.
Nossos filhos esquecerão os presentes que ganharam, mas nunca esquecerão o tempo de qualidade que passamos com eles. Com dezenas de roupas, tênis e brinquedos, a criança começa a perceber que só consegue se sentir feliz recebe alguma coisa nova; que os adultos compensam suas faltas com presentes; que ela própria deve se render à troca tempo com os pais por presentes; que ela própria tem menos valor que coisas materiais… E assim, a criança vai moldando o seu comportamento para se adequar a esses conceitos. Desta forma, quando a criança se sentir triste e não enxergar nenhuma novidade material, acreditará que nada além de coisas, poderá lhe fazer feliz. Devemos educar nossos filhos para darem mais valor nas relações afetivas do que nas coisas, pois no dia que fracassarem em ter coisas, se sentirá ainda mais infeliz por não tê-las e levará ainda mais tempo para retomar seu rumo.
Dar comida na boca, amarrar o sapato, abotoar a camisa, dar banho, entre outras tarefas simples são coisas que os pais/mães fazem por mais tempo do que o necessário. Os bons pais/mães são aqueles que vão preparando os filhos para viverem num mundo sem eles; são aqueles que vão se tornando desnecessários a medida que os filhos crescem. Porque uma vez adultos, o mundo lhes cobrará independência e disposição para realizar tarefas fora de suas zonas de conforto. Mas se a criança foi criada numa redoma, pode se sentir mais segura vivendo sob às rédeas de alguém, sob às escolhas e leituras de mundo de outras pessoas.
Não basta comprar um caderno, precisa ser um caderno de uma determinada marca ou com um determinado motivo que a criança tanto adora. Não sejamos tolos, pois é justamente isso que o mercado capitalista espera que a gente faça. Que tal explicar para a a criança que o caderno sem marca nenhuma não está corrompido pela ganância do mercado e que ela poderá usar sua criatividade para enfeitar sua capa de jeito só seu. Devemos ensinar a criança a valorizar as coisas pelo real valor delas e não pela marca que a coisa carrega. O significado do sucesso integral no processo de existir, não é medido pela capacidade de adquirir as marcas mais caras como se elas fossem a própria personalidade. O sucesso integral da vida real, é ser livre para ser quem se é, e se sentir confortável diante dessa escolha.
Conheço pais que não admitem que seus filhos recebam uma peça de roupa ou um tênis de uma outra criança só porque é usado. Não existe coisa mais digna e natural do que aprender a receber. Isso, inclusive é até mais importante que aprender a dar porque para receber você precisa ser humilde e nobre. Devemos ensinar a criança a receber doações e ela aprenderá que todos nós precisamos uns dos outros; que ao receber o que o outro tem para ofertar está fazendo com que o outro também se sinta bem; que no mundo há pessoas dispostas a ajudar e que a partilha é a coisa uma força poderosa que move o mundo e o transforma num melhor. Devemos ensinar a criança que solidariedade não é dar ao outro aquilo que sobra, aquilo que vamos jogar fora, mas sim, doar aquilo que também nos faz falta. Por isso, ela deve aprender a doar risos, tempo, gentilezas, amizades, compreensão, perdão, empatia…
O natural para o ser humano é comer frutas, legumes e verduras, enquanto refrigerantes, doces e outras guloseimas não é natural. Estes últimos “alimentos” é que devem ser apresentados ao seu filho como um evento esporádico. Estudos mostram que o açúcar atua como álcool no corpo da criança, danifica o fígado e cérebro. Não há problema comer doces, uma vez ou outra, se a criança se alimenta de forma saudável, mas fazer da alimentação saudável algo pontual, além de transformar a criança numa consumista exacerbada, é provável que ela se torne uma caixa de ressonância de problemas de saúde, a curto, a médio e a longo prazo.
Como é que os pais, que também são viciados em tela, podem ajudar os seus filhos a não ficarem viciados em telas? Lembra aquela frase: ‘faça o que eu falo, mas não o que eu faço’, pois é, ela é ignorante quanto à ciência de que a criança aprende por imitação. Então, se você quer que seus filhos crescem integralmente saudáveis e tenham um bom desenvolvimento em seu processo cognitivo, primeiramente dê exemplo. Revise seus próprios hábitos de mídia e planeje tempo para brincadeiras e atividades alternativas. Incentive momentos diários “sem tela”. Desligue suas próprias telas quando não estiverem em uso (incluindo TV de fundo). Evite telas pelo menos uma hora antes de dormir e desencoraje o uso de telas recreativas nos quartos. Leia aqui o que, Fabiano de Abreu, neurocientista, especialista em neurociência aplicada à aprendizagem, tem a dizer sobre este assunto.
Devemos ensinar nossos filhos sobre como cuidar da saúde física, mental e emocional; devemos ensinar que vícios, sejam em compras, comida, álcool, drogas, cigarros, remédios… são prejudiciais à felicidade pessoal, familiar e social. Devemos ensinar nossos filhos a lidarem com as emoções, pensamentos e sentimentos negativos, pois eles são parte da vida e que devemos ouvi-los para compreendê-los e não deixa-los moldar as nossas atitudes, porque saber gerencia-los é inteligência emocional e agir com inteligência emocional faz bem primeiramente à pessoa e depois a todos. Devemos ensinar por intermédio do exemplo, à prática da alimentação saudável e de atividades físicas, esportivas, lúdicas, artísticas e interacionistas sociais. Porque todas práticas só podem conduzir a um lugar: a saúde integral.
Nenhuma pessoa ou coisa, por melhor que seja, vale um fanatismo. Ter ídolos nos escraviza tanto quanto ter algozes. Tendo ídolos, a criança começa a competir com outras crianças para medir se aquilo que ela idolatra é melhor, ou pior, do que aquilo que os outros idolatram, seja um atleta, um time de futebol, um músico, etc. A criança passa a colocar todas as suas expectativas naquela pessoa, saindo de si para querer se tornar semelhante ao seu ídolo, o que normalmente termina em uma grande frustração quando ela verifica que o seu ídolo é uma pessoa comum, cheia de defeitos como todos.
Religião, trabalho, política, riqueza, estilo de vida, leitura de mundo… enfim, depositamos no filho toda a nossas crenças e medos, tirando-lhe a capacidade de refletir sobre o que serve e o que não serve para ele. Devemos ensinar aos filhos que ele tem direito de escolher a própria doutrina, o time de futebol, a visão política e ter sua própria leitura de mundo. Devemos ensinar que existem outras religiões, assim como outros tipos de trabalho, outras formas de gerar riqueza e também outras maneiras de viver.
Devemos esclarecer para o filho que a forma como vivemos e a maneira como pensamos é a nossa maneira, mas não significa que seja a mais correta a seguir. Não temos o direito de “amarrar” os nossos filhos em nossas crenças, nem em nossas vidas. Lembre-se: os melhores pais/mães são aqueles que vão se tornando desnecessários a medida que os filhos crescem e os prepara para viver num mundo sem eles. Podemos apresentar aos nossos filhos a nossa religião, mostrá-los a forma como trabalhamos, nossa maneira de gerar riqueza e nossa visão sobre o mundo, mas devemos fortalece-lo para que ele faça a sua própria busca, deixando claro que não o julgará e o apoiará em sua jornada fora do ninho.
O principal e mais violento sinal de que nós estamos criando nossos filhos para serem escravos, acontece quando demonstramos para ele que o nosso discurso não confere com nossas práticas.
Podemos ter errado em muitas coisas até agora, mas não podemos nos dar o direito de continuarmos errando, pois os pais/mães não são coleguinhas dos filhos, são seus tutores, gestores, educadores. E se de repente, por intermédio de nossos exemplos, nossos filhos se libertarem da pirâmide social, não se tornando escravos voluntários do hedonismo; se eles crescerem para à cooperação e não para à competição; se eles se tornarem membros efetivos na construção de uma sociedade mais benevolente; se eles não se tornem apenas pessoas cumpridoras das leis, mas membros participativos na construção delas; se eles tiverem boa saúde física, mental e emocional; se eles souberem se amar, se cuidar, se respeitar, se doar e a também receber, então nós poderemos ter a certeza de fomos bons pais/mães, que cumprimos com a nossa missão de nos tornarmos desnecessários.
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