É moda falar de pais narcisistas, mas pouco questionamos o papel dos filhos ingratos.
Dos filhos que gritam com os pais em público. Dos filhos que maltratam namorada do pai ou namorado da mãe, achando que eles não merecem uma segunda chance no amor.
Dos filhos que só aparecem para pedir empréstimo. Dos filhos que tiveram acesso a uma boa escola, mas não são capazes da mínima cordialidade dentro de casa.
Dos filhos que não dividem os méritos do seu sucesso, mas culpam os pais por qualquer fracasso. Dos filhos que consideram a aposentadoria como ociosidade e desdenham da disponibilidade dos mais velhos. Dos filhos que acumulam chamadas não atendidas no celular, juram ligar de volta e jamais retornam. Dos filhos que debocham da simplicidade do pai, do sotaque da mãe. Dos filhos que abandonam os pais no asilo, sem nenhuma visita. Portanto, ataque o problema quando ainda é pequeno. Quando ainda pode corrigir a dificuldade de comunicação.
Seja firme com o seu filho quando ele ainda está ouvindo. Não tente agradar. Não busque corrigir o excesso de trabalho com recompensas. Não bajule ou concorde sempre com o que ele anda fazendo. Limites previnem o estresse infantil.
Exponha o tamanho da sua resistência: “isso eu aguento”, “isso eu não aguento”. Transpareça suas emoções. Indique quais são os seus pontos de apoio, de onde a sua esperança tira força. Acorde cedo e reclame pouco. Elogie a disciplina oferecendo o exemplo. Esteja presente. Não terceirize o cuidado. Gerar filhos para passar a criação adiante é um contrassenso. Há drogas, violência e más companhias de sobra dispostas a adotar a sua criança.
Não adianta dar tudo para o filho, menos a presença. Bens materiais são péssimas babás.
Não perderá o emprego por meia hora de brincadeira, meia hora de correção de um tema, meia hora para comentar um desenho ou uma coreografia. Apareça em momentos cruciais da formação dele: na entrega do boletim, nas apresentações das datas comemorativas, nas formaturas, nos jogos escolares.
Enxergar o pai e a mãe na plateia ou na arquibancada, interagindo com os professores, resultará em amor-próprio. Sem testemunhas, a alegria vira egoísmo e tristeza. Marque compromissos familiares no seu calendário para não sofrer com conflito de agenda.
Renove os diálogos nas mais diferentes fases da vida. Não precisa usar as gírias, mas ofereça atenção genuína. O coração dispensa tradutores.
Se você vicia o seu filho em dinheiro, ele vai se expressar por cifras. Se você compensa a sua ausência com regalos, ele mandará representantes no lugar dele. Se você não cumpre promessas, ele será uma indústria de desculpas. Se você age com culpa, ele abusará de chantagens. Melhor o castigo num dia, do que a impunidade no resto dos dias. Salvará o futuro de vocês.
Texto de Fabrício Carpinejar. Assista abaixo uma palestra palestra emocionante, onde Fabrício Carpinejar nos faz questionar: Se é certo de que os pais um dia vão adoecer e partir, por que não organizamos a nossa vida para acolhê-los? Por que não assumimos sua gestação? Por que não reduzimos o ritmo da carreira para darmos sentido para os seus últimos dias?