Orlando Costa, ex-noivo da blogueira Alinne Araújo, que retirou sua própria vida após ter o noivado rompido na véspera do casamento e ter que se “casar sozinha”, falou publicamente pela primeira vez sobre sua relação com a jovem. Ele concedeu uma entrevista à Rede Record e não conteve a emoção, indo às lágrimas.
O noivo conta que conheceu Alinne por aplicativo e que ele sabia que ela tinha depressão quando começaram a sair, mas que não imaginava que a doença era tão difícil de conviver. “Quando a gente é leigo, a gente não entende, ‘ah então se eu levar no médico, se eu levar no psicólogo’ sabe, você é muito cru, você nunca passou por isso, então é tudo bem, é tudo normal, passávamos o dia todo conversando e conforme a gente foi se encontrando, fomos tendo um relacionamento, ela foi começando a ter as crises, na verdade, começando não, ela sempre teve, desde os 12 anos de idade, só que aí eu comecei a presenciar isso”
“Eu não queria terminar de forma alguma com ela, mas eu já tinha terminado comigo, eu não tinha mais vida, eu era um cuidador dela… chegou uma hora que eu não tinha mais o que oferecer” desabafou.
“A gente fala muito da pessoa que tem depressão, mas quando você entra em um relacionamento com alguém que tem depressão você não sabe o que esperar, você acha que é uma pessoa triste, que você vai dar todo seu amor, oferecer cuidados médicos e o resultado disso será a cura da pessoa, mas não é”.
“Quando a mãe dela me abraçou, ela falou ‘meu filho, você não tem culpa, eu sei que isso era uma tragédia anunciada, eu sei que a gente tentou de tudo, eu também tentei'”.
“Só quem julgou foram pessoas que não me conheciam. Eu ofereci médico, psicólogo, ofereci coisas que ela julgava serem boas, que ela gostava, que dizia que era sonho dela. Dei todo meu amor, todo meu carinho. Saía de casa e dizia: ‘qualquer coisa, liga pro mozão’. Tentei de tudo. Não consegui”, diz ele em certo trecho da entrevista.
“O que que eu vou falar? Não consegui. Como posso aconselhar alguém?”, completou ele, que disse que os pais não eram a favor do casamento dele com Alinne justamente por conta da depressão e ansiedade da blogueira. “Qual mãe, qual pai é a favor de uma mulher que falava que ia se matar. Minha mãe falava: ‘meu filho, nunca mais te vi leve, te vi sorrindo’, porque eu sempre fui muito sorridente, brincalhão”, ainda disse Orlando chorando.
Quando alguém recebe um diagnóstico de depressão, compreensivelmente todas as atenções se voltam para essa pessoa. No entanto, os familiares e amigos que convivem e tomam conta dela também passam por momentos muito difíceis. Segundo psicólogos, também correm risco de desenvolver um quadro depressivo e precisam se cuidar.
Estar preocupado o tempo todo com a pessoa, com o que ela pode fazer com a própria vida, mesmo tendo tentado de tudo para deixar aquela pessoa feliz, traz um sentimento muito grande de incapacidade “não sou capaz de deixá-la feliz” “não sou capaz de fazê-la amar a vida” e com esses pensamentos vem o desgaste, um dos efeitos colaterais da depressão nos familiares.
É possível imaginar os desafios do convívio com pessoas deprimidas: ouvir incessantes lamentações, queixas e ruminações de temas desagradáveis; receber ataques verbais recheados com emoções de raiva, tristeza, desencanto e desesperança; lidar com ciúmes e sentimentos de desvalia; tentar agradar ou cuidar de uma pessoa para quem nada nunca está suficientemente bom; ouvir previsões negativas para o futuro; executar funções que foram, muitas vezes, abandonadas pela pessoa. Tudo isso sem contar a necessidade de lidar com os próprios sentimentos de desapontamento ou desamparo, por ver o outro neste estado tão perturbador.
Em uma matéria publicada no site Dom Total, a psicóloga Vânia de Morais alerta sobre o convívio com depressivos e dá dicas de como lidar com a situação:
“Para conduzir tais situações de forma menos desgastante, a primeira questão a ser considerada é que uma pessoa que apresenta um quadro de depressão precisa de ajuda profissional. Um psiquiatra e um psicólogo deverão ser consultados e o tratamento iniciado imediatamente. A partir daí, algumas dicas podem ser úteis:
Não permita que a pessoa deprimida desenvolva ou agrave os laços de dependência. A depressão frequentemente leva o indivíduo a diminuir gradativamente os níveis de atividade e isso ocorre por várias razões.
É importante estimular as atividades para as quais o depressivo possua habilidades incontestáveis e que sirvam de estímulo para que se sinta bem consigo mesmo a partir dos resultados obtidos, ainda que com esforço. Outra dica é estimular a prática de atividades que permitam a ele um convívio salutar.
Chame a atenção para os fatos que evidenciam seus sucessos e deixam claro o afeto das pessoas à sua volta! O paciente pode precisar de ajuda para perceber isso, pois está percebendo as coisas de forma distorcida (sobre isso leia o artigo anterior aqui publicado, com o título Depressão e Sofrimento).
É fundamental não permitir a interrupção dos medicamentos sob a alegação de efeitos colaterais desagradáveis ou de não estarem surtindo o efeito esperado. Converse com o médico responsável, que ele saberá o que fazer. Lembre à pessoa frequentemente que as coisas não são tão ruins como ela as percebe e que sua visão pessimista é fruto do estado depressivo.
Com o tratamento e com a melhoria do quadro, o paciente voltará a pensar de forma mais razoável, retomará suas capacidades cognitivas e emocionais e o mundo voltará a ter as cores de antes para todos os envolvidos.
Atenção para algo extremamente importante: é muito comum que a pessoa que cuida de alguém doente precise de cuidados, pois a sobrecarga pode também adoecê-la. O cuidado consigo mesmo por estes é fundamental”. Conclui a psicóloga Vânia.
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