Fomos feitos para dizer a verdade? Não quando a mentira é vantajosa, afirma o neurocientista Ming Hsu, da Universidade da Califórnia em Berkeley. Segundo ele, precisamos nos esforçar para permanecer honestos quando há chances de nos beneficiarmos à custa dos outros.
Para testar sua hipótese, Hsu e sua equipe selecionaram três grupos de voluntários: o primeiro com danos no córtex pré-frontal dorsolateral (região associada ao controle dos impulsos), o segundo com lesões em outras áreas cerebrais e o último sem problemas de saúde (grupo de controle). Então, participaram de dois jogos que envolviam tomar decisões financeiras (ganhar e doar dinheiro), mas somente um se relacionava com a honestidade.
No primeiro, tinham de escolher entre pegar US$ 10 e entregar US$ 5 ou o contrário. O outro era idêntico, exceto que, em vez de optar diretamente, o participante tinha de mandar uma mensagem (verdadeira ou não) para o destinatário dizendo a melhor alternativa. Então, do lado de lá, a pessoa escolheria entre as duas opções. O que estava em questão era o envio de uma informação mentirosa para o ganho pessoal.
Resultado: não houve diferença entre os voluntários no primeiro jogo. Já no segundo, que envolvia a honestidade, os pacientes com lesão no córtex pré-frontal dorsolateral estavam mais dispostos a enganar do que o restante para proveito próprio. “Os dados apontam uma relação causal entre essa região cerebral e o comportamento honesto”, argumenta Hsu. (Fonte)
“Não levantarás falso testemunho”, reza o oitavo mandamento. Outrora esculpido em pedra, hoje ele não vale sequer o papel em que é impresso. É, acima de tudo, desrespeitado. Desde que Adão e Eva contaram a primeira mentira da história da Humanidade, o que vale mesmo em nossa espécie é a palavra não cumprida – nisso, psicólogos e sociólogos concordam. Todo ser humano trapaceia, mente e engana; e, diga-se de passagem, faz isso de forma corriqueira, resoluta, refinada e calculista. Você também, aliás! Ah, não? Então você diz com todas as letras ao dono da casa que aquela festa para a qual ele lhe convidou estava um tédio mortal?
É fato científico que engôdos e mentiras são nossos companheiros constantes. Em 1997, por exemplo, o psicólogo Gerald Jellison, da Universidade do Sul da Califórnia, Estados Unidos, ouviu as conversas diárias de 20 pessoas submetidas a uma experiência e analisou as fitas gravadas em busca de inverdades. O resultado é acachapante para os amantes da verdade: do ponto de vista estatístico, mesmo os mais sinceros participantes disseram uma mentira a cada oito minutos. “Em geral, são apenas mentirinhas, mas, de todo modo, são o que são: mentiras”, avalia Jellison. Na opinião do psicólogo, procuramos constantemente desculpas para comportamentos que outros poderiam julgar inadequados. Assim, inventamos um engarrafamento como pretexto para um atraso, ainda que, sinceramente, não tivéssemos a menor intenção de ser pontual. Os maiores mentirosos revelados pela pesquisa de Jellison são pessoas com maior número de contatos sociais – vendedores, auxiliares de consultórios médicos, advogados, psicólogos e jornalistas.
Deixar de contar pelo menos três mentiras por semana ajuda a evitar sintomas físicos e psíquicos relacionados ao estresse, sugere um estudo da Universidade de Notre Dame, em Indiana. A psicóloga Anita Kelly dividiu 110 pessoas entre 18 e 71 anos em dois grupos: instruiu o primeiro a evitar mentiras, inclusive as mais “inocentes”, como criar desculpas para faltar a compromissos. A cada sete dias, todos os voluntários responderam a um questionário de avaliação de sua saúde física e mental e foram submetidos a testes com detector de mentiras, o que ofereceu uma média de quantas vezes mentiram na semana.
Os resultados mostraram que, entre os participantes orientados a falar a verdade, três mentiras a menos equivaleram a quatro menos reclamações sobre tensão e melancolia e a três sobre dores de cabeça e de garganta. O interessante é que as pessoas do grupo de controle, que não sabiam o que os pesquisadores estavam analisando, também relatavam melhora na saúde geral – três mentiras a menos eliminavam duas reclamações de desconforto psíquico e uma de dores físicas. Segundo Anita, cada vez que mentimos, há aumento do nível de estresse: a glândula suprarrenal secreta hormônios, o coração acelera e a pressão sanguínea sobe. A frequência desse estímulo de “alerta” pode sobrecarregar o organismo e desencadear sinais de estresse. (Fonte)
Telling Lies. Clues to Deceit the Marketplace, Politics, and Marriage. P. Ekman. Norton: W. W. & Company, 2001.
Brain Activity During Simulated Deception. An Event-Related Functional Magnetic Resonance Study. D. D. Langleben, et al., em: Neuroimage 15 (3), 2002, p. 727.
Lob der Halbwahrheit: Warum Wir so Manches Verschweigen. D. Nyberg. Frankfurt: Fischer Taschenbuch, 1999.
Die Lüge, das Salz des Lebens. P. Stiegnitz. Viena: Edition Va bene, 1997.
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