É cada vez mais provável que o coronavírus Sars-CoV-2, causador da covid-19, se torne endêmico entre os humanos, em alguns animais ou em ambos, ou seja, não desaparecerá com as vacinas, afirmaram, nesta segunda-feira 28/12, especialistas em doenças infecciosas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que, apesar da gravidade da crise da Covid-19, que deixou mais de 1,7 milhão de mortos, devemos nos preparar para pandemias piores, e que o coronavírus pode se tornar endêmico. Endemia é quando uma doença infecciosa passar a ocorrer habitualmente e com incidência significativa em dada população e/ou região.
“O cenário mais provável é que o vírus se torne outro vírus endêmico, com um nível mais baixo de ameaça no contexto de um programa mundial de vacinação”, disse Michael Ryan, diretor de emergências sanitárias da OMS, e acrescentou: “A existência de uma vacina, mesmo uma altamente eficaz, não é garantia de que uma doença infecciosa seja eliminada ou erradicada”.
Os especialistas da OMS comentaram, ainda em maio, que havia a possibilidade de o coronavírus se tornar endêmico, uma previsão que ganha força com o que já foi aprendido sobre o vírus desde então. Entretanto, a vacinação contra a covid-19 ajudará a controlar a propagação do coronavírus e a normalizar as sociedades, comentou Ryan.
O especialista em doenças infecciosas David Heymann disse que “o conceito de imunidade de rebanho (ou grupo) é um mal-entendido quando se acredita que, de alguma forma, diminuirá a transmissão se um número suficiente de pessoas for imunizado. Heymann, que comandou a unidade anti-Sars da OMS, disse que ninguém pode prever como a imunidade evoluirá porque há muitas coisas que ainda não são conhecidas sobre imunidade, como o tempo que a imunidade é fornecida por vacinas licenciadas.
“Parece que o destino deste coronavírus é se tornar endêmico, como aconteceu com outros. Este coronavírus continuará a sofrer mutações à medida que se reproduz em células humanas, especialmente em áreas de transmissão intensa”, explicou. Heymann antecipou que o mundo poderá conviver com o novo coronavírus graças a todas as ferramentas de saúde pública que foram desenvolvidas em 2020.
O conselheiro da OMS Bruce Aylward (capa) sustentou a mesma tese ao afirmar que, apesar dos progressos científicos na luta contra a Covid-19, com a criação de vacinas em tempo recorde, a humanidade está muito pouco preparada ante a ameaça de futuras pandemias.
“Estamos na segunda e terceira ondas do vírus e ainda não somos capazes de controlá-lo. Embora estejamos mais bem preparados, ainda não estamos o suficiente para a pandemia atual, e ainda menos para as futuras”, disse.
O imunologista estadunidense, Anthony Fauci, disse neste domingo (27/12), também acreditar que o pior da pandemia do novo coronavírus ainda está por vir: “Estamos realmente em um ponto muito crítico. Podemos ter um forte aumento de infectados por causa das viagens de fim de ano e da provável reunião de pessoas (…) o pior ainda está por vir”, afirmou.
“É apenas um sinal de alerta”, advertiu Michael Ryan, diretor de Emergências da OMS, na última entrevista coletiva de 2020 da qual participou a agência da ONU. “Esta pandemia esta sendo muito dura. Circulou por todo o mundo de forma muito rápida e afetou cada canto do planeta, mas não foi, necessariamente, a pior”, assinalou Ryan, que, ao longo de sua carreira, já teve que lidar com doenças ainda mais letais.
“O coronavírus é muito facilmente transmissível e mata, mas seus níveis de letalidade são relativamente baixos em relação a outras doenças emergentes, o que deve fazer com que nos preparemos, no futuro, para algo que seja ainda pior”, declarou.
Até o fechamento desta edição em 29/12, às 16h15min, o coronavírus infectou mais 80 milhões de pessoas em todo mundo, vitimando mais 1 milhão de 700 mil. No Brasil, já somam mais de 7 milhões de infectados e 188 mil mortos por Covid-19. No ranking dos mais afetados, Estados Unidos, Índia, Brasil, Rússia, França, Reino Unido, Turquia, Itália, Espanha, Alemanha, Argentina, Colômbia, México, Polônia e Irã.
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