A pequena Joelma Dias, de apenas 9 anos, ficou emocionada ao se deparar com um Papai Noel negro em um shopping de Salvador, na Bahia, no fim da tarde dessa quinta-feira (12). A felicidade foi tanta que a menina não quis apenas uma foto, aproveitou para tirar várias e bater um papo com ele. Ao BHAZ, Joelma conta que ver um Papai Noel da cor dela foi algo muito especial.
Quando a criança ficou sabendo da novidade no shopping Center Lapa, ela fez questão de conhecê-lo. “Olha, eu achei muito divertido, bem diferente. Ele é muito parecido comigo, é da minha cor! Gostaria que os Papais Noéis fossem todos assim, achei legal demais”, conta Joelma.
A empolgação com o momento foi tamanha que ela não queria mais sair. “Tirei muitas fotos com ele, quero ir lá de novo. Perguntei pra ele se tinha recebido minha cartinha. Quero uma boneca LOL negra, com os cabelos cacheados iguais aos meus”, conta a menina, que volta a reforçar a importância da representatividade. “Esse é o primeiro Papai Noel que eu vejo que é escuro, que é da minha da cor”, completa.
‘Pequena empoderada’
Joelma foi ao shopping com sua irmã Isabele Dias dos Santos e a amiga Maíne Santos Silva. “Somos de uma família que é todo mundo branco e ela é negra, por conta do pai dela. Ela sempre teve essa questão de representatividade muito forte, é uma pequena empoderada. Assim que ficou sabendo do Papai Noel, falou que queria ir lá”, relata Isabele.
“Isso é muito importante. Eu sou branca, então não sinto na pele o que é falta de representatividade, ainda mais para crianças. Tudo direcionado para elas é embranquecido e, com isso, muitas vezes ficam sem referência”, completa a irmã da menina.
Maíne Santos Silva também é negra, tem 28 anos e se emocionou junto com a criança. “Eu não tenho nem palavras. É tao importante, sabe, pra gente que é negro, ainda mais aqui em Salvador, onde a maioria da população é negra. É lindo e essencial ela entrar em um lugar, ver uma figura como a do Papai Noel e se sentir representada. Foi a primeira vez, em meus 28 anos, que encontrei um Papai Noel da nossa cor. Estou muito feliz com isso, cada dia conquistando mais espaço”, explica.
Promover a diversidade
A gerente de marketing do shopping, Ivanir Matos, explica que a escolha do Papai Noel foi algo natural. “Já temos essa prática de combate ao racismo como lema do shopping. Pelo 15º ano consecutivo, ganhamos o Selo da Diversidade, distribuído pela prefeitura a empresas que combatam o racismo e promovam a diversidade. Já tinha a preocupação com as ‘noeletes’, mas faltava um Papai Noel negro. Foi difícil achar uma pessoa negra com barba natural, mas conseguimos”, explica.
“É incrível tudo isso, a diversidade faz parte da nossa vida, ainda mais aqui em Salvador. Já vi adultos chorando ao encontrar o Papai Noel, abraçando, realmente se sentindo representados. O shopping é de todos, temos brancos, negros, pardos e também pessoas de todas as nacionalidades”, completa a gerente de marketing.
Sem ‘ho ho ho’
É a primeira vez que o aposentado Ubirajara Araújo Pereira, de 66 anos, trabalha como Papai Noel. “Entraram em contato comigo falando que precisavam de um Papai Noel que fosse negro. O tema do Natal deste ano é Madagascar. Eu participei de uma entrevista, foram vários candidatos e acabei selecionado”, explica.
O tradicional “ho ho ho” não faz parte do repertório de Bira, como prefere ser chamado. “Essa risada é do Papai Noel branco, que veio lá do Pólo Norte, eu vim da África. Aí eu já solto logo um ‘ha ha ha’, quero que as pessoas venham me ver e saiam felizes, rindo muito. Chamo pai, mãe, avó, chamo todos para tirar foto. As pessoas têm sido muito receptivas. Além das fotos, elas vêm e conversam alguma coisa”, continua.
A questão da representatividade é algo muito importante para o aposentado. “As pessoas vêm de outra cidade só para me ver. Eles enxergam que é um Papai Noel que está nos representando. Estou representando a classe deles, a nossa classe. Estou aqui para todos, sejam idosos, adolescentes ou adultos. Busco sempre arrancar um sorriso e deixar as pessoas mais felizes”, relata.
Bira quer abrir portas para outros negros. “Botei minha cara para que todos possam ver. A negritude está gritando por isso, os outros shoppings vão acabar seguindo também, é um momento muito importante. Quero continuar fazendo isso. Ano que vem, se o convite vier, com certeza vai ser algo que vou querer”, completa.
Texto de Vitor Fernandes via Bhaz