Vamos começar com um conceito que costumamos usar para definir nossas relações, que é o princípio da troca. Somos habituados, desde pequenos, a receber recompensas pelo bom comportamento e punições pelo mau. Na escola e no trabalho passamos a trocar esforço por reconhecimento, e assim, replicamos esse padrão em nossa vida amorosa.
Essa, por sua vez, só é plenamente completa quando desfrutamos de algo chamado reciprocidade. Mas, equivocados que somos, saímos em busca disso oferecendo tudo o que temos de melhor ao outro e esperando que ele aja da mesma forma, criando assim, mesmo que de maneira inconsciente, uma espécie de dívida sentimental.
Não estou dizendo que a coisa mais fácil do mundo é ser uma dessas pessoas que tem sempre algo de bom a oferecer e que nunca esperam receber nada de volta. Aliás, aposto que ao ler isso você pensou em nomes como Gandhi, Buda, Madre Tereza de Calcutá e Jesus Cristo. Mas que, enquanto agir dessa maneira, você correrá o risco de se frustrar por ver que o outro não agiu da maneira que esperava. O famoso “fiz de tudo e ele não me deu valor”.
De qualquer forma, é preciso identificar a motivação que há por trás dessa suposta generosidade. Curiosamente, a língua portuguesa oferece quatro opções de porquês e não nos damos ao trabalho de usar uma delas sequer, quando se trata de questionarmos as nossas atitudes: Por que estou fazendo isso? Para mostrar o quão bom posso ser e assim manter o outro por perto? Para ter o controle da situação e não me sentir vulnerável? Para ser reconhecido e valorizado? Para que o outro agradeça a pessoa incrível que sou e queira ficar comigo por isso? Para alimentar o meu ego que acredita plenamente que sou uma pessoa altruísta? Para que eu possa contar com a ajuda dessa pessoa quando eu precisar?
Em qualquer um dos casos é fácil perceber que a satisfação do “eu” aparece sempre em primeiro lugar, o que torna sua doação um ato de egoísmo, além de fazer dela uma desculpa autoconveniente, já que, caso toda essa dedicação não dê em nada, você pode culpar quem não reconheceu seus esforços e, caso renda frutos, vangloriar-se de ser alguém tão bacana que todos querem ter por perto.
Portanto, não espere que gostem de você pelo que oferece, mas por quem é. Também tente entender que não vai receber uma medalha de honra ao mérito toda vez que for uma boa pessoa. Entregar o melhor de si a quem nada te pede só vai servir para alimentar expectativas, além da grande possibilidade de começar a atrair pessoas que só querem se aproveitar do que podem usufruir ao seu lado.
Seu valor não precisa ser provado a qualquer custo nem seu melhor entregue a quem não quer recebê-lo. Em alguns casos menos é mais e nesse, em específico, dar menos é o ato mais altruísta que se pode ter.
Do original “O egoísmo de quem dá aos outros mais do que eles pedem” da psicóloga Denise Carvalho extraído do blog: Entre todas as coisas – do qual recomendamos a visita. Foto de capa: Freepik