Ficou muito famosa a frase de Caetano Veloso em que ele afirma que ‘de perto ninguém é normal’. Mas, certamente Caetano deve ter bebido na fonte freudiana que postulou que toda pessoa só é normal dentro da média. E é bem verdade que, de perto, todo mundo, além de não ser ‘normal’, é um pouco, ou muito chato.
A convivência saudável, é na verdade uma arte que se aperfeiçoa com a insistência da prática. Ora, não somos todos iguais. Somos todos diferentes. Somos ‘unimultiplos’. E é isso que nos torna tão atraentes. Nossa igualdade somente equipara em relação aos direitos e aos deveres, no mais somos complexos de modo integral: físico, mental, emocional, político, social, moral, educacional, ideal, conceitual e o escambau.
Parte desta premissa a compreensão de que amar – verdadeiramente – é deixar o outro ser livre para ser quem ele realmente é. Aceita-lo, compreendê-lo e incentivá-lo, naquilo que ele é. Isso é o amor genuíno descrito na carta de Paulo aos Corintios: o amor que tudo aceita, tudo suporta e não exige que se faça o que quer. Logo, é possível perceber, que ao exigir do outro que ele mude aquilo que ele é; que não o aceita como ele é; que somente o suporta se ele agir conforme se espera, não é amor. É posse.
Por isso, conviver é a arte mais difícil de ser aplicada na vida cotidiana, somente porque não sabemos amar verdadeiramente. E é só por isso, que somos chatos. Somos chatos porque temos a mania neurótica de tentar mudar o outro. Queremos que o outro seja uma extensão de nós.
Entretanto, ao ‘encontrar’ a sua ‘metade’ no outro, alguém deixa de existir na relação. Ou seja, um dos dois abdicou de sua própria vida para viver a vida do outro. Ao realizar o seu desejo no outro, você elimina o outro. E sem o outro não há desejo.
Nos ensinou Osho que, ao amarmos uma flor, não devemos arrancá-la de seu galho, pois ao arrancá-la, ela deixará de ser a flor que amávamos. Assim, o que se busca no outro é apenas a satisfação que ele produz. E essa satisfação é como um poço, mesmo que transborde, nunca se farta.
A única maneira de não ser uma pessoa chata, é praticando a serenidade, a benevolência, a aceitação das diferenças, a pedagogia do amor e a gratidão (não, é claro, com as injustiças do mundo) para com aqueles convivem conosco.
Este texto é de autoria da escritora, psicopedagoga e psicanalista Clara Dawn – especial para o Portal Raízes. É proibida a reprodução parcial, ou total, sem sua prévia autorização.(Lei Nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998).
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