“Einstein usou a arte da dúvida para não ser controlado pelas antigas verdades da Física. Einstein duvidou das suas verdades e das verdades existentes na ciência de então. E por fim libertou seu imaginário, enxergando os fenômenos que estudava como se fossem imagens. Por isso ele se imaginava voando num raio de luz e vendo o que acontecia com o tempo. Parecia maluquice, mas não era. Porque na verdade, Einstein, ao duvidar de suas próprias crenças, decidiu respirar outros ares, ou seja, se aventurar por novas áreas do conhecimento, porque tudo que você crê te controla”. Esta introdução é um excerto do livro Manual dos Jovens Estressados, best seller, do psiquiatra Augusto Cury
“O fundamentalismo, o crer incondicionalmente, é pouco mental”
O fundamentalismo é qualquer posição de defesa de um conceito, ideologia ou doutrina, de ordem religiosa ou de outro tipo, de forma absolutamente radicalizada e fanatizada, sem qualquer análise isenta ou crítica.
Bart D. Ehrman, historiador especialista em Estudos Religiosos, professor na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, em seu blog, escreveu sobre os perigos do fundamentalismo e disse que considera que “o fundamentalismo, o crer incondicionalmente, é muito maldito e pouco mental”.
“Quando eu mesmo era fundamentalista entendia isso de uma maneira positiva. Pois nos círculos cristãos, fundamentalista são os crentes que mantêm os ‘fundamentos’ da fé por intermédio das Escrituras Bíblicas, a crença na plena divindade de Cristo, crença na Trindade, no nascimento virginal, na ressurreição física e uma coleção de outras doutrinas”.
Bart, começou sua carreira como um cristão fundamentalista que acreditava que a Bíblia era peremptoriamente a palavra de Deus. Entretanto, a sua fome de aprender tudo o que pudesse sobre o livro sagrado mais popular do mundo o levou a aprender grego e a frequentar várias instituições acadêmicas e suas descobertas, além conduzi-lo à uma vasta gama de conhecimentos, o levou a questionar e, eventualmente, rejeitar a visão de mundo que ele tinha até então:
“Fiz o meu melhor para manter minha fé de que a Bíblia era a palavra inspirada de Deus sem erros e que durou cerca de dois anos… Percebi que na época tínhamos mais de 5.000 manuscritos do Novo Testamento, e não há dois deles exatamente iguais. Os escribas os estavam mudando, às vezes de maneira grande, mas muitas vezes de maneiras pequenas. E isso faz com que você questione toda a estrutura histórica e nas razões de se manipulá-la para o convencimento de seu público”, diz Bart que continua a estudar o fundamentalismo, seja religioso ou sociocultural, e questioná-lo.
Nenhuma crença, por melhor que pareça, vale um fanatismo
Você não deve crer incondicionalmente em coisa alguma: sempre há muitas coisas para investigar antes de se lançar por inteiro num “ismo”. Todo “ismo” é uma forma de manipular e colonizar o outro. É uma ferramenta muito eficiente no processo de tornar o outro um escravo voluntário: seja por intermédio de sua fé religiosa, seu ideal político, seus costumes socioculturais, seus anseios de consumo, suas opções de entretenimento.
Não se engane. Todas as coisas, assim como são apresentadas, estão muito bem engendradas para nos conduzir a fazermos exatamente o que querem: as redes sociais com aquela coleção interminável de vídeos de 15 segundos, ideia genial, para nos manter distraídos e sem tempo para questionar as problemáticas do mundo; as mídias apontando sempre para qual direção seguir; as datas comemorativas e tempestades de anúncios brilhantes; as falas super acolhedoras dos líderes religiosos que nos fazem doar até o que não temos; as notícias falsas distribuídas à revelia pelas redes; o todo aquele marketing do processo eleitoreiro que faz a gente acreditar que A resolverá todos os nossos problemas.
Tenha suas crenças, mas não as coloque acima de quaisquer suspeitas. Tenha suas predileções por A ou B, mas jamais incondicionalmente. Porque, repito, nada, nem ninguém, por melhor que pareça, vale um fanatismo, vale a sua entrega total em detrimento de seu amor, cuidado e respeito próprio.
Bart Denton Ehrman é um estudioso da Bíblia estadunidense com foco em crítica textual do Novo Testamento, o Jesus histórico e a origem e desenvolvimento dos primórdios do cristianismo. Ele escreveu e editou 30 livros, incluindo três acadêmicos. Ele também é o autor de seis best sellers do New York Times
Da redação.