Coronavírus: o que antes era só estatística se transformou em multidão

Quando alguém que você ama entra nas estatísticas do novo coronavírus, você descobre que não são só números, que a coisa toda é bem pior do que tem sido revelado. Ainda que os negacionistas digam que a imprensa faz terrorismo ao destacar os números, quando a situação acontece dentro da sua própria casa, ou na casa de alguém muito próximo, você descobre na prática que, na verdade, se a imprensa for realmente mostrar tudo que está acontecendo nos corredores dos hospitais, nos Institutos de Medicina Legal e nos cemitérios, a população entraria num estado terrível de pânico e tantos atentariam contra a própria vida por causa da desesperança.

Testemunhos colhidos onde quer que a gente vá, ou os relatos trazidos por vizinhos, amigos e parentes, revelam que a verdade está no fatos de quem está vivenciando na pele o estágio grave da Covid-19 ou de quem perdeu um ente querido. Não importa mais se a pessoa é idosa, se tem doenças, se é fumante, se é homem, se é mulher, se é jovem, se é criança: ninguém está imune, não existem super-heróis, estão todos á mercê da sorte entre ser um assintomático, desenvolver um caso grave e/ou morrer. Só uma coisa difere na possibilidade de se recuperar depois de desenvolver um quadro grave: o tratamento dos sintomas num bom hospital, com equipes suficientes, com leitos de UTI suficientes.

Outrossim, fica muito claro que as pessoas que possuem o privilégio de terem um plano de saúde com direito a leitos de UTI, terão mais chances de recuperação do que aquelas que precisam esperar por um vaga em UTIs do SUS.

Dos persistentes erros e da esperança por dias melhores

Ainda que vacinas estejam em fase de teste, sabemos que, se forem aprovadas, ainda demorarão alguns meses para que todos sejam imunizados. E até lá, milhares de vidas se perderão, milhares de pequenas empresas vão fechar suas portas de uma vez por todas e milhões de pessoas entraram para a linha abaixo da pobreza.

Sim, os tempos são trevosos. A pandemia de 1918 durou dois anos por causa de sucessão de erros, concomitantes com os poucos recursos daquele tempo. Entretanto, 102 anos depois, parece que nós estamos cometendo os mesmíssimos erros, ainda que tenhamos toda a globalização e os avanços tecnológicos a nosso favor. Isso só revela que os avanços tecnológicos são muito maiores do que os avanços da mentalidade humana em agir em equidade e empatia social.

A única esperança que nos resta é acreditar na ciência e colaborar com ela: mantendo o distanciamento social, usando máscaras corretamente, fazendo a higienização das mãos, ajudando os idosos em suas necessidades e também ligando para eles; orientando os mais jovens a cooperarem; tentando levar uma vida positiva dentro de casa com os seus: aproveitando a oportunidade para se interessar mais pela vida dos filhos e fazer todas as coisas que sempre deixou de fazer porque não tinha tempo. E acima de tudo, não desistirmos. Pois como nos ensina Dalai Lama, ‘o verdadeiro desastre é perder a esperança’.

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Clara Dawn

Clara Dawn é romancista, psicopedagoga, psicanalista, pesquisadora e palestrante com o tema: "A mente na infância e adolescência numa perspectiva preventiva aos transtornos mentais e ao suicídio na adolescência". É autora de 7 livros publicados, dentre eles, o romance "O Cortador de Hóstias", obra que tem como tema principal a pedofilia. Clara Dawn inclina sua narrativa à temas de relevância social. O racismo, a discriminação, a pedofilia, os conflitos existenciais e os emocionais estão sempre enlaçados em sua peculiar verve poética. Você encontra textos de Clara Dawn em claradawn.com; portalraizes.com Seus livros não são vendidos em livrarias. Pedidos pelo email: escritoraclaradawn@gmail.com

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